Um Fevereiro aero-agitado

Tradicionalmente um mês de pouca agitação na aviação, Fevereiro trouxe notícias bastante relevantes.

A histórica airline checa CSA anunciou o encerramento, e despedimento dos 430 funcionários. Estava sob controlo da SmartWings, presença semanal na Madeira, única a operar o Boeing 737-900ER nestas paragens, e primeira europeia a anunciar o retomo operacional do 737MAX. Esta por sua vez estava fortemente controlada pelo grupo chinês CEFC China Energy, sem relação com o HNA que teve posição na TAP Air Portugal. A posição da Korean Air na CSA tinha sido previamente adquirida pela SmartWings, que agora se vê incapaz de manter a voar esta complexa organização.

A319 da CSA (Fonte: CSA)

O Embraer 190 da Air Astana que aterrorizou os alfacinhas no final de 2018, sobrevando os arredores da cidade após descolagem de Alverca com cabos dos ailerons trocados, tem a sua situação resolvida. Aterrou in extremis em Beja, com a ajuda dos F-16 da FAP, e não houve perdas humanas a registar, nem danos infligidos a terceiros exceto ervas calcadas fora da pista. A aeronave, essa já não foi tão afortunada. Após dois anos dentro de um hangar e concluída a investigação, foi reposta no exterior. Apenas para ser desmantelada, porque as acrobacias bruscas infligiram danos estruturais nas asas e fuselagem, considerados irrecuperáveis técnica e economicamente. Passa de incidente a ser um acidente registado.

Após um ano mudo, o tema do Montijo voltou à ribalta. O projeto híbrido de expansão da Portela para Sul do Tejo estava morno depois dos assuntos ambientais terem atraído o polegar virado para baixo a nível autárquico. Agora a ANAC matou o assunto e o governo volta a estudar a opção Alcochete. Em breve chegaremos a duas décadas de discussão e zero metros de pista. Veja-se quanto dinheiro do BPN foi providenciado para especulação imobiliária nos pântanos sedentos de aeronaves. Eu levantaria a hipótese de se ter simplesmente evitado o imbróglio político de avançar com algum tipo de construção, e logo a seguir a TAP Air Portugal pronunciar-se explícita ou implicitamente que não tenciona operar do Montijo. Tendo sido nacionalizada seria paradoxal. Ou que o concessionário da ANA não vislumbre negócio sustentável ali. Em breve concluir-se-á que o tráfego aéreo vai recuperar apenas parcialmente, que a Portela tem espaço para receber mais rotas, e que investir em inovação para manter, modernizar e tornar mais competitivas as infraestruturas existentes será o eixo estratégico racional e prioritário.

As aflições na Boeing continuam: já são quatro meses sem entregar um único Dreamliner, a aeronave mais moderna de longo curso de sempre. Com a fuselagem inteiramente feita de compósitos, composta de três peças únicas, representa um progresso significativo no processo de fabrico e conforto para o passageiro. O integrador identificou um problema de qualidade na assemblagem da fuselagem e mantém as aeronaves construídas em seu poder enquanto inspeciona todo processo. Estão neste momento 80 aeronaves retidas.