Rui Marote

Este articulista da secção irónica “Estepilha” conhece e está à  vontade para falar da zona de conflito de Cabo Delgado em Moçambique. Porque ali viveu oito anos, naquela colônia a que então chamávamos província. Ao contrário de muita boa gente, cumpri mesmo serviço militar naquele território durante quatro anos e três meses, onde fui incorporado e jurei bandeira na Escola de Aplicação Militar em Boane. Visitei por várias vezes Palma e Mocímboa da Praia como militar e mais tarde na minha vida profissional como jornalista.

Os madeirenses têm um passado histórico notável naquela ex-colónia. Recordo um período da sua história que as “chaves do poder” estavam nas mãos dos nossos conterrâneos. Ao mesmo tempo, lugares como o de Governador Geral (Gabriel Teixeira), cardeal (D. Teodósio de Gouveia), Presidente da Câmara, Presidente dos Caminhos de Ferro, as principais igrejas incluindo a Catedral de Lourenço Marques, tudo isso estava nas mãos de madeirenses que depois foram esquecidos. Todo este preâmbulo para manifestar apenas, com algum sarcasmo, que não vai daí mal ao mundo o voto de solidariedade intitulado “Pelas atrocidades perpetradas ao povo Moçambicano pelo estado islâmico” apresentado na ALRAM, na semana em que se soube que 50 pessoas foram decapitadas na região de Cabo Delgado. O líder parlamentar dos social-democratas refere que há memórias naquele território, mas só agora, passados 45 anos que este povo se tornou independente, a bancada laranja despertou para as atrocidades nesta caminhada de quatro décadas, cometidas contra este povo sofrido!? A resistência da Renamo às eleições fraudulentas, o ciclone na cidade da Beira que ceifou a vida de cerca três centenas de pessoas…. Também a ONU só agora começa a despertar para um conflito que se arrasta, denunciado pela Igreja há muito, por outros países e para o qual tarda uma solução.

O eco do nosso tribuno perdido numa ilha do meio do Atlântico certamente se fará ouvir no Parlamento Europeu e  em Nova York, nos corredores da ONU!!!