A telescola é positiva mas distante, unilateral e pode levar ao desinteresse dos alunos

O SPM está a promover um inquérito, até sexta-feira, mas os indicadores já revelam que alguns professores não dispõem de todas as ferramentas necessárias para manter um contacto à distância com os alunos.

“A telescola é uma solução positiva, mas também é um método distante, unilateral, só há um canal do professor para o aluno e isso pode levar ao desinteresse. Os nossos alunos, hoje, mais do que há vinte anos, quando houve a telescola, não estão preparados para ouvir um professor a debitar informação pela televisão durante 45 minutos. Além disso, neste sistema, não há alunos com maiores ou menores dificuldades, todos ficam no mesmo patamar. Uns vão apreender melhor, outros nem tanto”. Foi assim que reagiu o coordendaor do Sindicato dos Professores da Madeira, à medida do Governo Regional de “reeditar” a telescola, através da RTP-M, para concluir o ano letivo em enquadramento de pandemia.

Francisco Oliveira valoriza a solução encontrada pelo Governo Regional, de recorrer à RTP-M para o recurso a um sistema de telescola, como forma de concluir o ano escolar, atendendo ao contexto do isolamento a que a população está votada por força do combate à COVID-19, mas defende que deve ser articulada com outros meios tecnológicos que privilegiem o contacto direto professor/aluno.

Considerando não haver alternativa às aulas presenciais, admite que na atual situação é preciso adotar medidas, não para o ideal, mas para procurar minimizar os efeitos que esta realidade irá provocar na forma de ensino. “Os alunos, hoje, não estão preparados para ouvir”, alerta Francisco Oliveira, apontando para a gravação de aulas, em que o professor debita e o aluno absorve, sem qualquer interação.

“Não há alternativa ao ensino de relação direta. Nem sei se alguma vez haverá. O que devemos procurar é um conjunto de soluções para minorar o impacto que este afastamento irá provocar. Nós vemos esta solução apontada pela secretaria de uma forma mais alargada, enquadrada neste âmbito mais abrangente de encontrar outras possibilidades.

Não tem dúvidas que “a telescola, por si só, é pouco. É mais uma solução, mas o essencial, neste contexto de confinamento, o mais importante, é o contacto direto entre professores e alunos, através de videoconferência nos casos em que é possível, e já existem casos em que isso tem sido testado com sucesso. Mas aqui surge um problema, nem todos os alunos, mas também alguns professores, têm meios informáticos disponíveis, quer ao nível dos computadores, quer ao nível dos dados móveis, para poderem colocar em prática essa relação”.

Francisco Oliveira revela que “o Sindicato está a promover um inquérito, junto dos docentes, que termina na próxima sexta-feira mas que já tem indicadores no sentido da existência de alguns professores que não dispõem de todas as ferramentas necessárias para manter esse contacto à distância com os alunos. Mas pior será com os alunos, temos constatado que existem situações em que, simplesmente não há computador, além de que existem casos em que há um computador por família e há pessoas em teletrabalho, não podendo disponibilizar esse meio”.

O coordenador sindical quer deixar bem claro que não está contra a medida, mas sim que a mesma deve ser complementada com outras medidas, para o que se torna necessário “mobilizar os orgãos de governo, regional e local, no sentido de proporcionar os meios para todos, fazendo protocolos com as operadoras de comunicações, no sentido do alargamento dos dados móveis, mas também é preciso que o material que está nas escolas seja emprestado a quem precisa”.