Editorial sobre Emanuel Rodrigues: Partiu um homem livre, combativo, de “sangue na guelra”

Não é fácil falar de Emanuel Rodrigues, homem que conheci não apenas pelo ofício do jornalismo mas, mais recentemente, pelo múnus da advocacia.

Emanuel Rodrigues foi um dos decanos da advocacia da nossa praça que, sabendo do meu “bichinho” pelo Direito, me incentivou a tirar o curso e a exercer advocacia.

Foi também pela sua mão que me fiz sócio da Associação de Socorros Mútuos 4 de Setembro de 1862. Sim, porque para ser sócio era/é preciso que haja um proponente idóneo. E Emanuel Rodrigues era-o.

Natural de Machico, ou não tivesse “sangue na guelra” como qualquer machiqueiro tem, Emanuel Rodrigues deixou-nos ontem aos 75 anos.

Nasceu a 25 de dezembro de 1943, licenciou-se em Direito e foi advogado da nossa praça desde 1972. Observador, inquieto e irrequieto, espírito livre, homem de ideias e de cultura, crítico, arguto, combativo, bem humorado, assim era Emanuel Rodrigues.

Quando passo pela Rua dos Ferreiros, olho para a placa identificativa do seu escritório, e lembro-me da primeira vez em que lá entrei. O escritório não tinha essas modernices XPTO que, dizem, vieram para servir a advocacia.

Emanuel Rodrigues era do tempo de um espaço emoldurado a livros, com uma secretária de madeira e um candeeiro antigo. Não me recordo de ver computador sobre a mesa e desconheço se o Dr. lidava bem com essas ferramentas informáticas novas: Citius, plataforma dos inventários, Habilus, assinaturas digitais e afins.

Mas de uma coisa tenho a certeza. Tinha o faro para o diagnóstico das causas e o engenho para as soluções. Tinha a humildade dos homens grandes e a grandeza dos pequenos gestos.

Cruzei-me com ele várias vezes entre a zona do Liceu, onde residia, e a Rua dos Ferreiros, onde trabalhava. Parava sempre para dois dedos de conversa sobre a actualidade.

Politicamente, foi militante do PSD (número 88), desde 1974. Foi deputado Constituinte, entre 1975 e 1976. Presidiu à I e II Legislaturas da Assembleia Legislativa da Madeira, entre 1976 e 1984. Deu imensas entrevistas sobre isso, pelo que me escuso de falar desse período.

Mais recentemente recebeu, em 2001, a medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, condecoração atribuída, até hoje, apenas a seis personalidades (Francisco Santana, Francisco Sá Carneiro, Jaime Ornelas Camacho, Emanuel Rodrigues, Cristiano Ronaldo e Alberto João Jardim).

Não ligava muito às condecorações. Mas merece que a sua memória fique, para sempre, registada na História da Autonomia.

Até Sempre Dr.!