Monte cheio de turistas e Largo da Fonte “tímido” com a Festa

Monte Carreiros

Monte arvore
Ramos tapam o plástico no local onde a árvore cedeu em 2017.
Monte Coreto Fonte
A “solidão” do coreto no Largo (tímido) da Fonte.

A Festa do Monte aproxima-se sob o espectro do que ocorreu em 2017, no fatídico 15 de agosto de má memória para a Região, em geral, para o Monte, em particular. Um ano depois, a freguesia não consegue esquecer o passado e está num confronto entre homenagear as vítimas e a necessidade de seguir em frente. Os dias de festa, porque as novenas já decorrem como todos os anos, são passados com essa lembrança bem presente. O Monte religioso e o Monte de festejos exteriores, seguem o curso normal até à esperada véspera do Monte, aquela das multidões, e o Dia do Monte, a solenidade centralizada na imagem de Nossa Senhora do Monte.

Ontem, o Monte de Festa parecia superiorizar-se ao Monte de Tragédia. Parecia, porque na realidade, os festejos estão preparados, as barracas estão montadas, os comerciantes “assentaram arraiais” à procura naturalmente do negócio e a vida continua para ver se amanhã é melhor do que hoje. Mas dentro de cada um dos visitantes, sobretudo os madeirenses, é impossível colocar de parte o que aconteceu em 2017, que tirou tantas vidas e levou à destruição de famílias, deu dor e sofrimento em Dia que também era de final de festa. Como sempre a 15 de agosto.

Monte Igreja dentro
A Igreja do Monte mantém inalterável o seu espaço de devoção.
Monte capela L Fonte
No Largo da Fonte, os visitantes fazem o primeiro encontro com a parte espiritual.
Monte fila carros de cesto
Turistas faziam fila para os carros de cesto.

Mas ontem, sexta-feira, assistimos a uma enchente de turistas, que a cada passo do percurso iam observando as belezas naturais que o Monte dispõe, num cenário único que só o espaço oferece. O resto, completa-se, os serviços, como o Teleférico, a restauração com novas ofertas no percurso até ao Largo das Babosas, onde as barracas vão estendendo a sua área tendo como fundo a zona onde desapareceu a capela levada pelos incêndios, à espera da reconstrução.

O Turismo é ponto forte, levando a vida que o Monte precisa, chamado pelos tradicionais carros de cesto, era preciso fazer fila para um lugar de descida vertiginosa de dois quilómetros até ao Livramento. Custa 25 euros se for uma pessoa, 30 se forem duas e 45 euros se forem três. Os turistas procuram adrenalina, os carreiros têm trabalho, o Monte ganha movimento que bem precisa.

Monte Largo da Fonte

Monte Igreja fora

Monte descida para a Fonte
A descida para o Largo da Fonte é um dos espaços emblemáticos da Festa.

O caminho faz-se caminhando, desde o Largo das Babosas, passando pelo Monte Palace, pelos carreiros, pela Igreja do Monte, a festa começa a ter o “cheiro” caraterístico, dá-se a subida das longas escadas até ao local de culto. Dentro, a imagem da Nossa Senhora chama os visitantes, uns por crença, com a fé como centralidade, outros porque o turismo tem estas passagens emblemáticas em todo o mundo, o Monte é um desses locais de passagem e de paragem.

Monte restauração
A recuperação de um espaço que em tempos foi uma escola constitui, agora, uma nova oferta de restauração nas Babosas.
Monte teleférico
O Teleférico é um dos atrativos turísticos.

A descida para o Largo da Fonte está engalanada, não é bem uma festa à força, mas são vários os testemunhos que dizem sentir algum peso acrescido, tanto na subida como na descida. O vendedor de artesanato está lá, a capela tem as velas da devoção, o acreditar sempre no Divino, o banco de jardim ocupado e um grupo a confraternizar estão no lugar próximo à queda da árvore em 2017. O que ficou dessa árvore mortífera, onde antes tinha um plástico a tapar, que tantas críticas provocou, designadamente do geógrafo Raimundo Quintal, está agora tapada com uns ramos. Não se vê o plástico, o homem do artesanato confirma que foram tapar. Ao primeiro olhar, não se vê. Mas sente-se.

monte adro bbb
O adro da Igreja é ponto de encontro também em tempo de festa.

Os comerciantes que por sorteio ficaram com as barracas do Largo da Fonte, fazem os bolos do caco, têm os cachorros quentes a postos. Mas o Largo da Fonte está “tímido” com a festa. Tem barracas, em menos quantidade, o coreto é, por si só, atração. Quem ali faz negócio diz que o movimento tem andado fraco, esperam que a véspera do Monte, tradicionalmente de milhares de pessoas, venha salvar a receita. Mas não sabem como vai reagir o povo, não sabem como é que o Largo da Fonte poderá libertar-se desse pesadelo com o ecoar dos despiques, das castanholas e do burburinho que os arraiais trazem, mas que este poderá ter receio de viver com a sombra das vidas perdidas.

A Festa do Monte vai acontecer, por entre audições na Assembleia, para falar da segurança do arraial, e o arrumar de tradições nestes dias que faltam para a véspera que todos querem de multidão no respeito por tudo o que aconteceu e à espera de explicações que, um dia, poderão juntar mais dados aos dados que já estão lançados.