O secretário regional da Educação, Jorge Carvalho, estará presente no debate “Educar pelo Palco”, no dia 06 de março, às 15h00, na ESJM, no âmbito do XXVI Festival Regional de Teatro Escolar – Carlos Varela. Na oportunidade, será promovido um debate, que pretende abordar o “teatro e a escola” e os “êxitos e fragilidades” do Festival. Uma iniciativa que contará também com a presença do presidente do Conselho Executivo, Jorge Moreira, e diferentes coordenadoras do Festival. como Isabel Martins e Fernanda Gama.
As coordenadoras do Festival, Micaela e Carla Martins, explicam a razão da necessidade do debate “Educar pelo palco”, num texto que o FN reproduz:
“A marionete que somos tem vários palcos para existir. Percorremos ruelas onde, num ato contínuo de humildade, amamos a Arte. Essa é a única opção. O teatro escolar tem a particularidade de formar públicos, de criar cidadãos autoconfiantes e potenciar a capacidade de perceber o outro nas suas alegrias e fragilidades, crescendo todos, mais um pouco, cada dia. Rostos sem forma ganham luz no palco, as luzes que iluminam as pessoas que queremos ser. Numa vénia a todas as formas de arte – música, pintura, dança –, a palavra e o corpo mostram, no tempo certo, os ângulos da emoção, visíveis em perspetiva para o ator e o público.
Uma família, amadores por vontade e vocação, com muitas casas por essa ilha fora. Amar é a melhor maneira de se tentar fazer bem ou, pelo menos, de aprender, errando. Todos dependemos de todos, uma arte democrática, ao serviço da criatividade, da sensibilidade, da beleza, na procura de encontrarmos todos um caminho, “grandes e pequenos, instruídos ou analfabetos, sábios e ignorantes, no teatro todos são Um” (Almada Negreiros)! Todos temos um lugar, o direito de sermos Nós, pela Arte de Todos!
Este festival faz 26 anos porque é amador, gratuito, e porque vive do sonho de dar oportunidades a quem deseja crescer e ser muita coisa ao mesmo tempo ou, simplesmente, existir sorrindo. É neste movimento, quase instintivo, de nos disponibilizarmos aos outros que recebemos os abraços, as palavras, a alegria, a responsabilidade, a vida, o tempo que se doa e que se multiplica continuamente. É com grande orgulho que nós e os nossos varelinhas recebemos o legado e a responsabilidade de acolher, neste festival, todos os jovens que sonham pisar um palco e que merecem, nas mesmas circunstâncias que todos os outros, ser atores, nem que seja por um dia
Se não se abrissem as cortinas, o público seria órfão, fechado em conchas de um pensamento vazio. Sem teatro não havia espelhos onde nos revíssemos, nem risos ou lágrimas, nem aplausos, nem silêncios, nem cortinas, nem jovens que crescessem e se fizessem homens.
Uma saudação muito especial ao nosso fundador, Carlos Varela, que idealizou o sonho que vivemos hoje.!”
Peça de abertura
O XXVI Festival Regional de Teatro Escolar – Carlos Varela abre com o grupo “O Moniz – Carlos Varela” e tem como espetáculo de abertura “Não há Gente c’ma Gente!”, adaptação e encenação de Xavier Miguel, encenador convidado, a partir do texto Rei Ubu, de Alfred Jarry, que comemora os 130 anos de existência. Numa deformação grotesca da realidade que o texto propõe, a adaptação consistiu na atualização do texto ao contexto regional, explorando personagens e referências do “reino da Madeira”.
Os alunos-atores como João Domingos, Sofia Gomes, Diogo Ferraz, Francisco Caires, Inês Alves, Luís Ferreira, Catarina Serrão, Filomena Góis, Fabiana Gouveia, Beatriz Gonçalves, Francisco Bargante, Jéssica Figueira e João Silva constituem o elenco deste espetáculo.
A perspetiva do encenador
“Primeiro surge a ideia de fazer uma abertura “diferente” para o Festival Carlos Varela. O primeiro desafio que coloquei ao grupo foi fazer um espetáculo de teatro na rua, no exterior da escola ao invés do habitual palco do ginásio. Interessa-me profundamente tirar o teatro dos palcos convencionais e levá-lo para todos os espaços onde caibam artistas e público. Mas para também teria que haver algo mais ousado nisto!
É neste ponto que tenho de falar nele: Alfred Jarry. Descendente literário de Rabelais, pantagruélico no exagero dos seus mundos satíricos, por sua vez descendente do feroz sátiro grego Aristófanes! Foi Jarry e o seu Rei Ubu, dentro do movimento do teatro simbolista, podendo já considerar-se no Surrealismo, uma das bases do que mais tarde se veio a cunhar de Teatro do Absurdo por Martin Esslin.
Jarry explora a ideia de um reflexo alterado do Rei: quando este olhasse para o seu reflexo no espelho, este apareceria com cornos, completamente monstruoso. Foi essa ideia de reflexo alterado, de deformação grotesca da realidade, que procurei trazer para o contexto regional, explorando personagens e referências regionais, de modo a estimular tanto o sentido crítico como a consciência cultural e tradicional em relação à Ilha. Jarry escreveu esta peça para marionetas em 1888, enquanto jovem estudante, com 15 anos, para satirizar um professor. Em 1896 desenvolve e monta a peça no Théâtre de l’Œuvre, em Paris, causando um forte impacto na sociedade teatral e artística parisiense da época, devido à ferocidade satírica gerada pelo rol de personagens e situações completamente surreais e grotescas que não são mais que o reflexo exagerado dos vícios das gentes.
Os reinos mudam, os reis não? Várias metáforas de um sistema político corrupto, lideranças prepotentes, monopólios opulentos liderados por primos e sobrinhos. No original de Jarry, a guerra é pelo trono da Polónia, nesta adaptação a ação passa-se toda num surrealista “reino da Madeira”, vizinho do “reino das Selvagens”, próximo do “Condado das Desertas”.
Aproveitamos o contexto do Ano Europeu do Património Cultural para explorar mais o que é nosso, as expressões do nosso linguajar, a musicalidade inerente ao falar madeirense a que se pode também chamar de sotaque, e claro está, satirizar o contexto social, político, económico e claro está, tecnológico também! Não cantamos a música do Max a que aludimos com o título da peça, mas podemos eventualmente vir a recitar a receita da poncha à pescador em Lá menor a quatro vozes e violino made in China.”