“Responsáveis pela manutenção das árvores da cidade do Funchal perderam a tramontana”

O ex-diretor regional de agricultura, Manuel Pita voltou a alertar, na rede social facebook, para a gravidade da poda de árvores sem regras.

Porque pedagógico, o Funchal Notícias publica os seus ensinamentos:

“Os responsáveis pela manutenção das árvores da cidade do Funchal perderam a tramontana, depois do acidente com a queda do carvalho no largo da Fonte, no Monte.
Eles estão por todo o lado, feitos “baratas tontas”, armados de serrotes, motosseras, escadas, cordas e demais instrumentos de tortura, ladeados por agentes PSP, com um único objetivo: fazer crer aos cidadãos eleitores que estão agindo bem, em tempo oportuno, podando as árvores que ameaçam os cidadãos munícipes.
E, por ironia ou desconhecimento, estão, eles próprios, com a sua ação, a contribuir para um potencial risco de queda de troncos e ramos na cidade. Ao realizarem cortes excessivos e sem rigor em árvores em espaço urbano, criam feridas de difícil ou impossível cicatrização, que serão pontos de entrada de doenças e pragas, que vão por em risco a estrutura da árvore.
Como nos animais, em que nos incluímos, qualquer corte ou qualquer ferida numa árvore, constitui uma zona de sensibilidade e é uma porta de entrada, aberta às enfermidades.
E, pela mesma razão que desinfectamos e protegemos as nossas feridas, também os cortes que provocamos nas árvores devem ser, de imediato, protegidos com produto que sele a zona de corte e a proteja de doenças e pragas, enquanto o processo de cicatrização não se completa.
Infelizmente, com a rapidez dos trabalhos, determinada pela rigidez do calendário eleitoral, não é possível pincelar as feridas com o que quer que seja e, muito menos, ter em atenção as técnicas, há muito definidas e instituídas, para a realização de corte de ramos. Porque não basta cortar é preciso saber quando e como o fazer!

Porque é sempre tempo de aprender, deixo um extrato da publicação da Esposende Ambiente, EM, sobre as consequências da poda drástica (também conhecida por rolagens, atarraques ou poda por cima) em árvores.

“Para a árvore:

a) Deficiência nutritiva – A diminuição da área foliar reduz o forte equilíbrio existente entre o sistema radicular e a copa da árvore, prejudicando severamente a capacidade de se autoalimentar, quer através da fotossíntese (folhas), quer na absorção de nutrientes (raízes);

b) Choque térmico – Os ramos interiores ficam expostos e frequentemente sofrem de queimaduras solares, muito prejudiciais à árvore por não terem a proteção dos ramos mais exteriores;

c) Aspeto desfigurado – A poda altera o aspeto natural e o porte da árvore irreversivelmente, tipificando a sua imagem e fazendo com que diferentes espécies possuam todas a mesma configuração, desvalorizando o seu interesse como património ornamental;

d) Falso vigor – Após o desaparecimento de ramos, pelo menos o mesmo número de gomos foliares emergem rapidamente para o crescimento de novos ramos, dando a ilusão de que a árvore rebenta com mais vigor. Não é verdade. É a resposta da árvore para repor o que lhe foi retirado objectivando apenas a obtenção de folhas, sendo que os seus ramos são frágeis e mais instáveis;

e) Fragilidades dos novos ramos – Para repor rapidamente a massa folear retirada, a árvore emite novos ramos que nascem na superfície do tronco e não desde o seu eixo (tal como os ramos iniciais) e por isso apresentam pouca resistência mecânica. O seu rápido crescimento também os enfraquece e torna-os ainda mais frágeis e instáveis;

f) Pragas e doenças – O corte de ramos grossos dificulta o recobrimento (semelhante a cicatrização) das feridas causadas pela poda, tornando-as expostas e permitindo acesso fácil à entrada e ataques de agentes patogénicos provocando cancros e outras podridões graves no interior da árvore, muitas vezes não identificados pelo exterior.

Para as pessoas:

a) Maiores custos de manutenção – A poda aumenta exponencialmente os custos de manutenção e tornam as árvores mais dispendiosas e menos autossustentáveis. Os abrolhamentos dos gomos que se segue aos cortes da poda são muito abundantes e emaranhados, tornando as copas mais densas e irregulares e por isso exigem novas e dispendiosas intervenções frequentemente.

b) Custos de substituição – Por vezes, algumas espécies não resistem a este tipo de operações acabando por morrer, com o custo acrescido de remoção e aquisição de novas árvores, mão-de-obra, maquinaria, etc..

c) Arvores perigosas – A fraca resistência mecânica dos ramos que nascem após a poda torna a árvore frágil, instável e sem força para resistir a embates, a fortes intempéries, etc.. As suas pernadas ou ramos de estrutura morrem e/ou partem com mais facilidade, colocando em perigo a própria árvore, pessoas e bens.

d) Obstrução da iluminação pública – Quando os postes de iluminação pública se encontram junto a árvores, a realização de uma poda drástica torna-se na solução menos eficaz. Este tipo de poda vai provocar o alargamento e a densidade da copa das árvores (efeito contrário ao desejado), aumentando a possibilidade da obstrução da luz das luminárias. A realização de uma poda de limpeza é muitas vezes a solução.

e) Menor valor patrimonial – Quanto maiores forem as evidências de podas e a alteração da silhueta natural da espécie, menor é o seu valor patrimonial. Este pode ser calculado e exigido por exemplo às companhias de seguros no caso de acidentes de automóveis em que existe danos em árvores. Quantas mais características naturais tiver uma árvore, mais valor patrimonial representa.”