“Há uma divisão de povo no Porto Moniz, temos que fazer uma política para todo o concelho”

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Manuel Câmara, candidato pelo PTP pelo Porto Moniz, quer um concelho desenvolvido no seu todo. Foto Rui Marote

Manuel Câmara é natural do Porto Moniz, vive no concelho e sabe o que quer se for eleito vereador, na lista do PTP (Partido Trabalhista Português). Não vai muito no sentido da campanha porta a porta, diz que é um modelo esgotado e que muitos aproveitam para fazer promessas que depois não cumprem. Pretende falar com o eleitorado para fazer chegar a mensagem, pensa numa alternativa, não de comício, mas de um momento em que poderá dirigir-se à população. Mas sabe que isso nem sempre funciona em meios conservadores e garante que ainda há medo no povo. Porquê? “Porque receia perder os apoios, ainda há muito essa ideia enraizada na população, é preciso que as pessoas percam esse medo e digam o que pensam”.

Incentivar mas acompanhar

Mecânico de profissão, tem um discurso que assenta numa perspetiva de futuro, diz que os apoios escolares são positivos, mas é preciso saber em que estratégia assentam, uma vez que o Porto Moniz apoia os jovens na escola, “mas depois não tem políticas para fixa-los na terra, formando polos de desenvolvimento que criem emprego e possam ajudar nas opções”. Reconhece que fazer isso com todos é difícil, porque muitos vão sair, mas “é preciso incentivar, desde pequenos, mantendo as ajudas que são importantes, até como forma de apoiar as famílias, mas tendo um plano que acompanhe esse investimento numa perspetiva de retorno, mais tarde, quando saírem da universidade”.

Fazer alguma coisa “pelo Porto Moniz”

O turismo também é outra aposta que está no horizonte do candidato, que concorre pelo PTP naquela que é a sua primeira experiência política. Vai na lista do PTP mas diz pensar pela sua própria cabeça. “O partido dá-me essa liberdade”. Aceitou candidatar-se porque afirma querer fazer “alguma coisa pelo Porto Moniz”. Reconhece trabalho feito pela atual e anteriores vereações, mas em todas elas houve sempre “algo que ficou para trás, que é fazer com que os jovens fixem residência, evitando assim a desertificação de que tanto se fala”. Aos amigos e conhecidos que lhe dizem que “nunca houve estudos de borla como agora”, responde com aquilo que considera um problema: “Sim, estamos a pagar a escola e os transportes, mas não estamos a acautelar que esses jovens fiquem no concelho depois de formados”.

Atividades de lazer para a população

Manuel Câmara afirma ser necessário aproveitar o setor do Turismo, que “é uma fonte importante de receita para o concelho e para os pequenos comerciantes que dele vivem”, mas dando um impulso no sentido de “desenvolver mais, apostar mais, para que os nossos jovens também encontrem ali uma possibilidade de emprego”. Não quer um turismo de passagem, quer mais turistas durante mais tempo, mas para isso é preciso “criar mais zonas de lazer, sem nos cingirmos apenas aos desportos de montanha, que têm o seu lado positivo, mas não podem ser aposta única. O Porto Moniz precisa de atividades de lazer, também para a população e com envolvência dos turistas. É preciso pensar na população do Porto Moniz, não só na sede de concelho, mas também noutras freguesias, como por exemplo o Seixal, uma zona que tem potencial de aproveitamento desse setor”.

Quero ouvir as pessoas, uma a uma

Se for eleito, presidente ou mesmo vereador, sendo este o objetivo imediato, o candidato promete ouvir a população do Porto Moniz, um a um. “Quero ouvir as opiniões das pessoas, não somente para o dia do voto, mas para o desenvolvimento do concelho do futuro. Seria uma mais valia. Aponta zonas bonitas e zonas menos bonitas, diz que o concelho não está pensado de forma uniforme. “As piscinas naturais e a zona litoral está bem integrada, a zona do porto também. Mas já a zona central, com todos aqueles parques de terra, está mal. A minha ideia é aproveitar para construir um parque de estacionamento em condições, ruas mais limpas, além de espaços comerciais e de lazer”.

Mudar estruturas e métodos é um propósito. Mudar mentalidades, é mais complexo, sobretudo se tivermos em conta que o Porto Moniz é um concelho conservador em matéria de votos, ao ponto de só uma vez ter votado PS, que quebrou a hegemonia do PSD. Os pequenos partidos não “riscam” nada. E a dispersão de votos não ajuda. Manuel Câmara diz que “no início do mandato, foi dito que o povo estaria primeiro, mas o que se vê é que há uma divisão de povo no Porto Moniz. Temos que fazer uma política para todo o concelho e não para alguns. É preciso trabalho diário, mas tendo em vista a criação de políticas de fundo”.

Pessoas devem saber distinguir propostas

O candidato diz que é importante as pessoas saberem distinguir as propostas. “Falam em desenvolver o mar e a serra, mas digo-lhe sem dúvidas que o Porto Moniz tem que ser capaz de se desenvolver onde for preciso. De um modo geral, não podemos nem desenvolver tudo para a serra nem tudo para o mar. Sabe, às vezes as promessas não correspondem à melhor forma de fazer as coisas. É bonito quando se diz ao povo que será feita uma obra, o povo fica satisfeito e isso chama a atenção. Mas até nisto, acho que as pessoas devem pensar mais no futuro do que no presente, são demasiado atraídas para este tipo de política. Penso de forma diferente”.

As pessoas ainda têm medo

O porta a porta não é com ele. “Batem à porta para pedir o voto e não é essa a forma que entendo correta de levar a mensagem à população. Vou evitar isso. Pretendo ir por um caminho diferente, nas entrevistas, talvez um discurso político, ainda não sei bem. Acho que as pessoas, também neste aspeto, ainda têm medo, algumas querem aparecer mas pensam duas vezes com medo de que alguém veja e com isso pensam que podem perder apoios.. As pessoas estão dependentes do sistema instalado”.