PSD-Madeira parece-me fragilizado no duelo comunicacional, diz Filipe Malheiro

Henrique Correia

As diretas de 9 de dezembro, no PSD da Madeira, não são, nem de perto nem de longe, polémicas, e já se sabe que Miguel Albuquerque, único candidato, chegará ao congresso de janeiro naturalmente vitorioso e sem que se sinta, sequer, qualquer ponta de oposição, ainda que ela possa existir de forma menos expressa, não significando com isso menos expressiva uma eventual avaliação em surdina. Que se veja, na realidade, não se vê.

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Luís Filipe Malheiro considera que Albuquerque vai voltar a falar para dentro do PSD-M durante o prósimo congresso.

O ex-dirigente social democrata Luís Filipe Malheiro, jornalista e comentador político, considera que a disputa interna de dezembro de 2014 pode ter resultado em algumas feridas: “Direi que porventura existem ainda situações pontuais, sem expressão, em que esse sarar das feridas é mais demorado. Mas isso não significa que existam tendências organizadas no seio do partido. Pelo menos não as identifico”.

PSD basista

não tolera lógica do elitismo

Malheiro considera inclusivé que, a este propósito, seria “um suicídio político” que alguém fizesse oposição a Albuquerque, neste momento, mas considera que o partido deve “ consciencializar-se que precisa de manter-se mobilizado, vigilante e sobretudo atento a tudo o que se passa à sua volta para não ser surpreendido”. E alerta que o PSD “é um partido basista, que se constrói e afirma de baixo para cima, do povo para as estruturas dirigentes. Isso não tolera nem se compagina com a lógica do elitismo”.

Líder em congresso

vai voltar a falar para o partido

Para o ex-dirigente, Albuquerque chega ao congresso sem problemas, mas está convencido que o líder, que sucedeu a Jardim, “vai mudar o discurso, vai voltar a falar para o partido, vai ter que deixar alguns recados aos militantes, por é isso que os líderes fazem e não podem ser levados a mal”.

Já relativamente ao PSD no seu todo, Filipe Malheiro diz que lhe parece “um partido fragilizado no duelo comunicacional, que em política é cada vez mais importante”. Afirma que o facto do líder regional do PS apostar “no protagonismo mediático da sua ação e do seu discurso, por tudo e por nada, pressionando claramente o PSD regional”, confronta a máquina social democrática com a necessidade de “olhar com muita atenção para este domínio da comunicação política”.

Além disso, diz, “julgo que é preciso incutir entre os militantes e simpatizantes que estarão no congresso a ideia de que o ato de governação, tenha ele a dimensão que tiver, autárquica, regional ou nacional, é sempre um ato político. Os governos executam programas de governo que no fundo resultam de programas eleitorais dos partidos, não há lugar a hesitações ou teorias cinzentistas, quando falamos de política pura e dura”.

Mudanças de Albuquerque

“importantes e até necessárias”

Os duelos eleitorais de 2015, segundo Malheiro, “foram duros, o PSD Madeira perdeu votos e mandatos num quadro eleitoral onde a abstenção confirmou a tendência de crescimento, que não pode aproximar-se perigosamente do que acontece nos Açores, com níveis de abstenção absolutamente intoleráveis. Há prioridades a desenvolver e a mobilizar as atenções que não se compadecem com diatribes, sejam elas quais e de quem forem”.

São desafios que se colocam a Albuquerque para o pós diretas do dia 9. Apontam-se mudanças, a começar pelos orgãos partidários, que segundo Filipe Malheiro “podem ter algum impacto”. Diz desconhecer pormenores dessas mesmas mudanças, mas vai afirmando que “algumas seriam importantes e até necessárias”, sem especificar quais.

O facto é que, enquanto social democrata, confia neste PSD-M e diz mesmo que “é hoje um partido empenhado no ciclo eleitoral que começa com as autárquicas de 2017 e que, por isso mesmo, por ser um partido de poder, tem que consolidar essa unidade interna custe o que custar, salvaguardando a diferença de opiniões entre os seus militantes, o que é natural e salutar”.

Miguel Albuquerque vai às diretas depois de, em 2012 ter sido candidato à liderança do partido, obtendo 49% dos votos, derrotado por Jardim, e em dezembro de 2015 ter de novo assumido a candidatura, desta vez ganhando à segunda volta, com 64% dos votos, depois de uma disputa com seis candidatos na primeira volta.

O congresso do PSD-Madeira realiza-se a 21 e 22 de janeiro.Malheiro C.jpg