Incompetência e irresponsabilidade

 

h_sampaio

O ex-edil funchalense que sucedeu ao auto-intitulado “único importante” na chefia do governo regional vem sistematicamente reiterando que o pedido de ajuda para combater os incêndios que devastaram nos últimos dias, em particular o Funchal, foi formulado no momento adequado.

Tratam-se de declarações que, não fora a circunstância da dimensão da tragédia verificada, suscitariam, no mínimo, reacção idêntica às produzidas, aquando da invasão do Iraque por tropas norte-americanas, pelo ministro da propaganda do governo de Saddam Hussein, Tariq Aziz que afirmava que estava tudo sob controle, ao mesmo tempo que as referidas forças militares cercavam Bagdad.

Com efeito, vir dizer que “a situação está perfeitamente controlada” e “relativamente consolidada” e, 20 minutos ou meia hora depois, vir agora dizer que pediu então ajuda a Lisboa, não lembra ao diabo. Muito menos dizer que o fez nesse momento, dando seguimento às recomendações da Protecção Civil. Como se, nos tempos que correm, não existissem previsões meteorológicas, bem mais rigorosas e frequentemente actualizadas, que, de resto, apontavam não só para temperaturas elevadíssimas, mas também para ventos de idêntica dimensão.

Ou seja, neste contexto, proceder a avaliações como a que foi veiculada na tarde da passada terça-feira por parte do presidente do executivo regional e também do actual presidente da edilidade funchalense, só pode ser entendível como demonstração de incompetência.

É evidente que o bom-senso recomendaria que esse pedido de ajuda fosse desencadeado bem mais cedo, como, aliás, reconheceu inclusive um deputado do PSD, eleito pela Madeira à Assembleia da República.

Naturalmente que não somos videntes para afirmar que, se a ajuda tivesse chegado mais cedo, as consequências seriam menos gravosas. Mas, qualquer criança, sabe que é melhor ter mais de 150 pessoas a combater os incêndios do que apenas 50, como revelava na terça-feira à noite na SIC Noticias a secretária regional com a tutela da protecção civil.

Comentando “a demora em pedir ajuda”, Ana Sá Lopes, sub-directora do jornal “I” escrevia na passada quinta-feira, dia 11, que “só uma enorme ignorância, arrogância e auto-suficiência – habitualmente, as três coisas andam ligadas – permitem a Miguel Albuquerque dar aquela conferência de imprensa (de terça, dia 9) quando a Madeira já está às portas do inferno”.

Entretanto, o mesmo governo que nesse dia garantia que “a região tem os meios necessários”, não perdeu tempo a pedir ajuda financeira, tendo para o efeito reunido extraordinariamente. Nem esperou pelo dia da habitual reunião semanal, à quinta-feira.

E é expectável que, tal como por ocasião do 20 de Fevereiro de 2010, a ajuda se concretize. Não há é garantias, antes pelo contrário, de que a resposta venha a ser mais rápida e mais adequada ás necessidades da cidade do Funchal e da Região em geral.

A proximidade de eleições (autárquicas já em 2017 e regionais em 2019) não auguram que assim seja. A luta pelo protagonismo entre o Governo Regional e a Câmara Municipal do Funchal que esta tragédia revelou deverá acentuar-se para ver quem fica melhor na fotografia junto do cidadão eleitor. O mais provável é que, tal como sucede com as vitimas do 20 de Fevereiro de 2010, daqui a meia dúzia de anos ainda haja pessoas à espera de serem realojadas. E não é de excluir que se lembrem de gastar dinheiro à louca como sucedeu com a designada Praça do Povo, em cujo cais os navios se recusam a atracar. E não é também expectável que o reordenamento do território que se impõe e a recuperação de prédios degradados e devolutos que é fundamental efectuar se concretize.

Não se esqueçam que, quem nos governa, nunca teve preocupações com o planeamento. Ou acham que é por acaso que não existem praticamente nenhuns planos de ordenamento, quer do território, que da orla costeira?!

No final, tenho poucas dúvidas que, tal como referiu o geógrafo Raimundo Quintal ao Observador, “depois de muito choro, os barões do betão voltem a dominar os trabalhos de recuperação, que não reordena, não melhora a segurança das populações”.

Aliás, e comprovando a tese de estarmos em presença de um “povo superior”, este fim- de-semana há já arraiais para gostos variados: um na Ribeira Brava, numa parceria entre o “independente” cá do burgo e a autarquia local, e outro no Estreito da Calheta! O que é preciso são festas para animar a malta!