Crónica Urbana: Pai Natal põe no sapatinho o letreiro do aeroporto

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Rui Marote

Não se fala de outra coisa. Está na ordem do dia o nome do aeroporto. Miguel Albuquerque anunciou na Calheta que em Dezembro o aeroporto já terá o nome do CR7.

Será que o Pai Natal quando deixar a Lapónia trará as letrinhas do CR7? O FN soube que a ideia partiu do presidente da Associação de Promoção da Madeira. Albuquerque abraçou com as duas mãos e os dois pés esta ideia de marketing. Mas o pensamento de dar um nome ao aeroporto não é novo. Alberto João Jardim, que foi primeira escolha, recusou. O ex-presidente não tem o seu nome ligado a nada. Limitou-se a inaugurar e a descerrar placas comemorativas, e é nelas que o seu nome figura. Porém, há vários membros dos seus governos com o seu nome ligado a escolas, centros de saúde, etc. Jardim sempre recusou.

Vamos à polémica: ninguém ainda explicou como irá ficar verdadeiramente o nome do aeroporto. E os madeirenses continuam a protestar. A redacção terá de ser “Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo”. A palavra ‘Madeira’ é intocável. Não haverá nenhum “Aeroporto Cristiano Ronaldo”, só se o CR7 pensar em construir um para aterrar o seu avião particular. Mas aguardem sentados ou deitados, porque Albuquerque falou em Dezembro, mas não disse o ano…

Quero recordar a propósito que a Rua com o nome de Maximiano de Sousa (Max), depois de aprovada em Assembleia, levou dois anos e meio, no mandato de Albuquerque, para se colocar a placa.

Falemos do saudoso cantor: na Madeira não existia nenhuma rua ou praça com o nome deste artista. A zona velha do Funchal tinha um busto como referência de que ele ali tinha nascido, ideia de João Carlos Abreu, quando ainda não ocupava qualquer cargo governativo. Porém, Max nasceu na Rua dos Tanoeiros. A única referência sobre Max estava no Porto Santo, que tinha uma toponímia no centro da Vila Baleira que o mencionava: era tudo o que existia no arquipélago.

Aquando da minha passagem pela Assembleia Municipal do Funchal propus que a edilidade aprovasse uma rua com o nome deste artista. Não foi fácil. Muito esperneei ao longo da dolorosa espera a que a autarquia de Miguel Albuquerque me submeteu. A resposta era sempre a mesma: estamos a estudar o local.

Numa das reuniões, voltei à carga, e levei uma solução: a Rua do Surdo, onde o artista casou e viveu. Nas minhas pesquisas, nunca cheguei a saber quem era esse surdo. A rua tinha mudado de nome nos anos 80, quando a CMF aprovou que a artéria se chamasse Gil Martins, que foi fundador do Partido Socialista na Madeira, onde estava instalada a sede do PS.

Passados uns anos, como se diz em linguagem militar, voltou tudo à primeira forma. A Rua do Surdo voltou a chamar-se do Surdo e até hoje. Continuando com o Max, Miguel Albuquerque, perante a insistência, bateu o pé e disse que não mudava nomes de ruas. Aguardar foi a palavra de ordem e voltei em diversas reuniões da Assembleia Municipal à carga, até que um dia apareceu a placa toponímica da Rua Maximiano de Sousa. Com certeza a maior parte dos leitores nem sabe que existe. Max era um homem “do calhau” e a edilidade escolheu que o seu nome fosse dado a um troço de estrada que não tem uma casa – do Tecnopólo às Piscinas da Penteada.

O mesmo se passou com a praceta de D. Manuel I. O Funchal tem o seu maior monumento arquitectónico na Sé Catedral, mandada construir pelo rei. Só resta a lembrar tal soberano a ponte na Ribeira de Santa Luzia, que muita polémica tem gerado. Sugeri, com o fecho da zona sul da Avenida Manuel Arriaga, que se desse o nome do rei desde a Sé até ao Teatro. A parte norte continuaria a chamar-se Avenida Arriaga. A maioria chumbou, mas como sou teimoso, voltei à carga e consegui que fosse aprovado o Largo em frente à Sé, com o nome Praceta D. Manuel I.

Não foi fácil a colocação da placa. Mas finalmente aconteceu. E até era uma bela placa de ferro forjado. Porém, no sentido de quem transitava do Golden Gate para a Sé, a placa não tinha nada escrito. Quem fazia o percurso ao contrário, via a correcta inscrição. Indignado, protestei. A Câmara retirou e colocou outra. Foi pior a emenda que o soneto. Usaram uma placa parecida às utilizadas nas paragens de autocarros, que até hoje está lá para vermos.

Tanta complicação e, num estalar de dedos, sem passar sequer pelo plenário do Governo, e Albuquerque muda agora o nome da Praça do Mar para Praça CR7. É fácil cumprimentar com o chapéu alheio…