Praça quer parte do peixe a cair na lota para fugir às fábricas que escaldam nos preços

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Adriano quer o peixe a cair primeiro na lota e depois quem quiser que o compre. Fotos FN

É sexta feira e as fogueiras de São João ainda ardem com o atum de escabeche e as semilhas a murro da véspera. Na praça do Funchal, no histórico Mercado dos Lavradores, não há tempo para brincadeiras nem eufemismos. Quase diríamos que, pelas 10 horas da manhã, há mais vendedores do que compradores. O que vale é a boa disposição de uma gente rodada nas agruras do negócio e que sabe “a cantiga” de cor. O preço do atum escalda mas os vendedores puxam logo do rol de críticas e querem parte do peixe a cair primeiro na lota e a seguir depois para as fábricas.

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O atum vende-se a cerca de 10 euros ao quilo. Farto, vermelho e abundante. Os compradores reclamam: “Está muito caro!”

Do outro lado, a resposta pronta: “Têm toda a razão mas digam a quem manda nisto tudo. Deixem vir o peixe primeiro para a lota e, depois, quem quiser que o compre. Como está, fica nas mãos das fábricas e eles é que ditam as regras do mercado. São eles que o compram em primeiro lugar e o distribuem por todos”.

Adriano vende na praça há quarenta anos. Sem dourar a pílula, dispara: “Se o peixe fosse à lota corria mais barato para todos. Assim não acontece. Isto está nas mãos do Vidinha e do Ornelas da Ilhapeixe que o comercializam a todos conforme bem entendem. Quem é mais pequenino sujeita-se às regras deles”.

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Pedro alerta para o facto de se estar a pescar muito atum miúdo.

Do outro lado da banca, os conhecidos irmãos Pedro. Peixe todo na lota? Não concordam totalmente, porque as embarcações são muitas e não há capacidade para a lota escoar por si só todo o pescado. Mas há fundamento nesta reivindicação. Pedro, um dos mais experientes da família, faz o ponto da situação ao Funchal Notícias: “Para que o peixe seja vendido ao público mais barato, é urgente que uma percentagem, não menos que 15%, venha para a lota. A restante e maior fatia vai para as fábricas para comercialização”.

Para já, as regras do jogo são estas: todos compram aos grandes operadores que são as fábricas e sujeitam-se aos preços que elas ditam. “O Governo deveria prestar mais atenção a esta situação e não deixar correr só porque são os senhores grandes que mandam no pescado”, alertam.

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Preços que escaldam os bolsos.

Este ano, foi de boa safra de atum. Uns com mais sorte do que outros, mas o peixe tem morrido. Mas Pedro faz o alerta à navegação: “Tem sido um ano de muito atum mas estamos a pescar o atum muito pequeno, com 2 a 3 quilos. Daqui a tempos, acaba a cota e a ordem vai ser para não pescar mais. Há que ter cuidado”.

O preço na praça escalda. Mas os vendedores puxam logo dos galões: “O atum de qualidade está na praça do peixe do Mercado dos Lavradores. Não é nos supermercados e nas suas promoções que se leva peixe de qualidade para casa, como o povo gosta”.

Ao largo, dezenas de turistas e até madeirenses a espreitarem a dinâmica da praça. As máquinas do turistas disparam as fotos, os poucos compradores vão selecionando o melhor pescado e a toada de compra e venda corre o dia de sexta feira, tempo de santos populares e altura de servir bem fresco o atum como prato principal da ementa familiar.

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Muitos curiosos, mais a ver do que a comprar na praça.
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Os Irmãos Pedro vendem peixe a retalho na praça.