
A polémica em torno da possível demolição da Ponte Nova, no Funchal, está a aguardar por novos desenvolvimentos. O Governo Regional está a estudar o assunto, lembrando que poupar a ponte significa gastar milhões, a Câmara reservou-se ao silêncio, mas o FN sabe que os defensores do movimento de cidadania não estão de braços cruzados.
Danilo Matos, dinamizador do movimento de cidadania que defende a continuidade da ponte por razões de índole cultural e até científicas, em nome da preservação do património histórico edificado, apresenta exemplos concretos de sucesso de uma política acertada de respeito pelo património. O engenheiro, que durante anos trabalhou na Câmara Municipal do Funchal, dá como exemplos de acertadas intervenções e nem por isso dispendiosas, como são os casos das pontes do Faial e do Ribeiro Seco.
Os exemplos divulgados por Danilo Matos têm por objetivo “mostrar que a recuperação das pontes históricas das ribeiras da cidade, mesmo que algumas apresentem problemas nos elementos estruturais principais – o que não acredito – é muito simples, e que as dificuldades espalhadas não passam de uma mentira”.
O primeiro caso de sucesso é a Ponte da Ribeira da Ametade, no Faial. “A ponte dos cinco arcos, como é conhecida, sofreu graves danos aquando das inundações de 1983, principalmente ao nível da erosão das fundações, dos muros de tímpano e de outros elementos, com patologias que dispenso pormenorizar. A ideia generalizada era abater e fazer uma nova, até porque a ponte dos sete arcos, na ribeira do lado, já tinha colapsado. O professor António Reis apresentou um excelente projecto, que é hoje estudado como exemplo nas grandes escolas de engenharia, e a ponte está para durar muitos e longos anos. Em 1985 foi inaugurada. (…) apenas dois registos que as fotografias mostram – a série de tirantes para segurar os arcos e os muros de tímpano, e as novas fundações dos pilares construídas nos mesmos materiais dos existentes. Os arcos são de volta-perfeita, como se pode ver. A ponte é de 1910/13, tinha uma largura de 4,20 metros e ficou com 10,20, com o lançamento de um novo tabuleiro em betão armado e pré-esforçado. Disseram-me que ficou mais barata e com menos incómodos”-

Outro exemplo apresentado é a Ponte do Ribeiro Seco, no Funchal, cuja história e características são sumariadas por Danilo Matos: “A ponte do Ribeiro Seco, prevista chamar-se Monumental, tem uma história interessante, que fica para outra altura. Mandada construir pelo Governador Silvestre Ribeiro em 1848, foi inaugurada no ano seguinte. Como se pode ver pela fotografia, copiada dos álbuns de “Madeira Quase Esquecida”, tem uma arquitectura fabulosa. Três arcos de alvenaria de basalto, o central de forma elíptica e os laterias de forma ogival. Não é muito vulgar encontrar a associação destas duas formas geométricas.
A ponte passou por vários alargamentos do tabuleiro, mantendo sempre os arcos como elementos estruturais principais. Em 1986, com o novo ordenamento do sistema viário, o crescimento da cidade para poente e o aparecimento de algumas patologias mais preocupantes, colocaram a necessidade de decidir o que fazer. O Mestre Edgar Cardoso, meu ilustre professor de pontes no Técnico, que vinha cá muitas vezes por causa do aeroporto, viu a construção e ofereceu o projecto à Região, um gesto generoso que nos orgulha e que, se calhar, pouca gente conhece. Foram mantidos os arcos e criada uma estrutura lateral para suportar o novo tabuleiro, com a largura de 4 faixas, mais dois passeios. E está lá, sem apagamento das suas memórias – “Monumental”, como queriam os nossos antepassados”.
São dois exemplos ilustrativos sobre “como devemos olhar para o património” e que vai alimentar o combate de Danilo Matos e demais cidadãos “em nome da cultura”.