Ferry, um navio polivalente

paulo farinha

Porque a empresa alemã de autocarros de luxo Blitz Reisen não opera na Madeira? Operando nas ilhas de Palma de Maiorca, Canárias e Faroé.

A Blitz Reisen utiliza os preciosos serviços ferry existentes entre portos da Europa e as mencionadas ilhas.

Os espaçosos autocarros de luxo têm capacidade de 40 passageiros dispondo de serviço de cozinha e instalações sanitárias. Os clientes da Blitz Reisen ficam alojados em hotéis de 5 estrelas nas ilhas Canárias.

Não operam na Madeira, porque é um sério risco embarcar/desembarcar autocarros valiosos pendurados por guindastes, mais o dispendioso custo do transporte em navio porta contentores.

O mesmo se passa com o Rali Vinho Madeira, actualmente os pilotos de rali em especial estrangeiros têm relutância em transportar as viaturas de rali e respectivos camiões de apoio através de navios porta contentores.

É um erro crasso não valorizar os turistas que viajam de ferry, pois, estes viajam pelas estradas da Europa com as suas viaturas topo de gama e quando existia o serviço ferry entre a Madeira e o Continente embarcavam no ferry com as suas viaturas em Portimão, desembarcavam no Funchal ficando alojados na hotelaria, vários dias. Trata-se de turistas com potencial económico elevado. Por outro lado os emigrantes da diáspora portuguesa radicados na Europa, no Reino Unido e ilhas do Canal utilizavam o ferry, e traziam produtos locais para os familiares e amigos e no regresso aos países de acolhimento levavam produtos regionais, tal como os estrangeiros. Estes e os turistas estrangeiros quando partiam do Funchal a bordo do ferry eram verdadeiros agentes de escoamento de produtos regionais. De realçar que não existem restrições de bagagem transportada nos automóveis ou de mão, tendo em linha de conta que não existem condicionalismos de bagagem como sucede com o transporte aéreo.

O serviço ferry e a rota dos vinhos.

Através das rotas dos vinhos de Portugal os nossos visitantes podem fazer excelentes passeios e conhecer um prazer aperfeiçoado ao longo dos tempos.

Com efeito, sabe-se que pelo menos à época do Império Romano o vinho já era amplamente cultivado em Portugal. A sua produção passou muitas fases ao longo do tempo, mas vale a pena destacar a data de 1756, em que o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com a função de delimitar a 1ª região demarcada do mundo, registar as vinhas e classificar os vinhos de acordo com a sua qualidade.

Uma ideia genial, estender a rota de vinhos através de autoestrada marítima a ligar a Madeira.

O navio ferry a efectuar viagens regulares semanais todo o ano entre a Madeira e o Continente será um polo de atração, com serviço e venda de vinhos e queijos portugueses a bordo, Os visitantes que desembarquem do ferry no Funchal terão oportunidade de visitar as empresas de vinhos madeirenses. Os passageiros que embarcarem no ferry poderão transportar vinhos, e outros produtos regionais sem restrições de bagagem. Está lançada a ideia, que deverá ser acarinhada pela Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura e pela Associação de Promoção da Madeira.

Não desvirtuando a estratégia do Turismo da Madeira para o mercado português apresentada na BTL e outras acções promocionais no estrangeiro, o próprio navio ferry poderá servir de expositor do turismo da Madeira uma vez por ano, em portos nacionais e estrangeiros, quão feira de turismo ambulante. Por exemplo o pretenso ferry, dotado de feira itinerante, numa promoção verdadeiramente inédita e arrojada da Madeira, poderia visitar os portos mais próximos tais como, os portos nacionais de Lisboa, Leixões, Setúbal, Portimão, e estrangeiros, Bilbao a Norte, Málaga, Barcelona, Marselha, Cannes, Mónaco e Génova no Mediterrâneo.

Seria uma promoção inovadora que despertaria as atenções dos visitantes.

No Relatório ferry disponibilizado pela Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura em Janeiro de 2016, dos 7 interessados nas negociações, a Naviera Armas não argumentou qualquer inviabilidade na reactivação da ligação ferry entre a Madeira e o Continente ao contrário das outras empresas que na negociação da questão marítima não se interessaram pela mesma, evocando inviabilidade.

A versão do Governo Regional não conjuga com a versão da Naviera Armas no relatório. Porque o governo evoca indeminizações compensatórias? Eu quero acreditar nas diligências do Secretário Eduardo Jesus no que concerne à pertinente questão da ligação marítima via ferry entre a Madeira e o Continente.

Sou um observador atento da evolução de todo este processo. Segundo a Naviera Armas no relatório publicado, “Os incentivos, muito mais expressivos do que no passado, receberam bom acolhimento, tendo ficado por analisar questões operacionais e de disponibilidade de frota”.

A resposta da Naviera Armas foi positiva.

De facto não chego a perceber por que o Governo Regional enveredou com a questão marítima para o Governo da República. Não existe nenhuma conjugação para que tal aconteça. A Naviera Armas até disponibilizou uma calendarização da realização de possíveis viagens de ferry entre as Canárias, Madeira e Continente.

Porque o Governo Regional não manteve contactos com a Naviera Armas? ao invés, adia todo este processo ao pedir ao Governo da República uma resolução desta questão marítima com aplicação de indemnizações compensatórias.

Desta forma, o Governo Regional arrisca imenso acabar o mandato sem cumprir a promessa da reactivação da ligação marítima em apreço.

Outro assunto na importância de existir um ferry a operar entre a Madeira e o Continente.

Um ferry sendo um navio polivalente, em caso de catástrofe poderá ser muito útil. Por exemplo, poderá ser instalado com facilidade num car deck do ferry um hospital de campanha apoiado por veículos de emergência através da rampa RO/RO. Os modernos ferrys dispõem de heliporto aptos a receberem helicópteros pesados de salvamento.

Agora, o Governo Regional deve argumentar com o Governo da República, que um navio ferry será precioso em situações de emergência ou de catástrofe, para obter apoio público nesta causa marítima.

O navio ferry disponibiliza oportunidades várias a equacionar.