Rui Marote, em Tirana
A Albânia é um país surpreendente e hospitaleiro, que saiu tarde do isolamento a que esteve sujeito sob o regime comunista (só em 1992). No entanto, após esse evento, cedo se apercebeu que é possível receber visitas e, ao mesmo tempo, manter a sua identidade. Para além da capital, Tirana, onde ainda se encontram marcas do legado estalinista, há muitas e boas razões para programar uma viagem à Albânia. A começar pelas praias da costa do mar Jónico e pela encantadora cidade de Saranda, passando por clássicos como Berat (que, a par de Gjirokastraa viu o seu centro histórico reconhecido como Património Mundial em 2005) ou ainda as montanhas dos Alpes Albaneses do norte.

Mas Tirana, essa é que verdadeiramente nos surpreendeu. Como é possível um país que esteve tantos anos sob o jugo do marxismo-leninismo, hoje ter uma capital de fazer inveja a muitas cidades europeias – asseada, com avenidas soberbas, autocarros novos, frota de carros de encher o olho, táxis de primeira categoria…
E há mais. Há espaços verdes por todo o lado, jardins agradáveis, prédios bem conservados, cafés e esplanadas por todos os lados, Polícia bem fardada e apetrechada com viaturas de topo de gama…

O movimento na cidade é grande a qualquer hora, os pedintes são muito poucos, não vi nem carros nem prédios degradados… E a limpeza da cidade é cuidada, e passada a pente fino por brigadas do município. Quase que é razão para dizer, se isto é o legado do comunismo, então este não era tão mau assim e não me importava de cá ficar…

Um pouco de História
A cidade de Tirana foi fundada em 1614 por Suleiman Paxá e tornou-se capital da Albânia em 1920.
Existem dois principais rios que correm pela cidade de Tirana. A cidade também contém um total de quatro lagos: o lago Tirana, o lago Koder-Kamez, o lago Farka, e o lago Tufina.

Tirana é actualmente o maior centro industrial e comercial do país e ali se situa uma universidade que leva o nome da capital e que foi fundada em 1957. Aos poucos tem vindo a desenvolver a actividade turistica, apesar dos recentes conflitos em países vizinhos como a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia e o Kosovo.

Em termos económicos, a Albânia é um país pobre e atrasado para os padrões europeus.
Actualmente faz uma transição difícil para uma economia mais liberal. Possui reservas importantes de gás natural e petróleo. Nos últimos dois anos a economia do pais tem registado um forte crescimento.
O ponto mais alto de Tirana, capital da Albânia, mede 1828 metros.

Durante três dias percorremos de lés a lés os principais pontos de interesse de um país que só agora se abre ao turismo.
Torre do Relógio
A Torre do Relógio chama-se Kulla e Shatit e está localizada na praça central de Tirana, ao lado da mesquita de Et’hem Bey. Começou a ser construída em 1821, e foi terminada apenas com a ajuda das famílias mais ricas de Tirana.

Há uma tradição na cultura muçulmana de que quem tem mais dinheiro tem de dar, normalmente uns 10% dos seus lucros anuais, para projectos de bem comum, ou aos pobres da cidade que sejam mais necessitados. É graças a isso que muitos edifícios nos Balcãs puderam ser construídos, porque os cofres do Estado não estavam suficientemente cheios para os poder terminar. A colocação da torre do relógio foi obra da família Tufina.

Em 1928, o estado Albanês comprou um relógio alemão mais moderno, e a torre foi ampliada até alcançar os 35 metros de altura. A Kula e Shatit foi danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi dos primeiros edifícios que se voltaram a construir no final da guerra, já que era um monumento emblemático da cidade de Tirana.

Mesquita Et’hem Bey
A mesquita de Et´hem Bey encontra-se no centro de Tirana.
Começou a ser construída em 1789, e tem o nome de Molla Bey que a iniciou. Foi terminada em 1823, graças ao trabalho do seu filho Haxhi Et´hem Bey. Este era um descendente do paxá Suleyman, um general do Império Otomano que fundou a cidade de Tirana em 1614.
Nesta época a cidade só tinha construídas, em termos de edifícios públicos, uma mesquita, os banhos públicos e uma padaria. Podia-se então rezar, estar limpo e comer, tudo o que era necessário para uma cidade desta época.
A mesquita é considerada a mais bonita da Albânia e tem umas decorações exteriores em belo estado de conservação. Lamentavelmente, as do interior só as podem admirar os que se inscrevem numa visita guiada à mesquita.

As pinturas representam árvores, cataratas de água, pontes e natureza – o que é algo raro na arte islâmica. Durante a época comunista, a mesquita permaneceu encerrada, e assim esteve até Janeiro de 1991, quando apesar da interdição dos comunistas, milhares de pessoas entraram na mesquita com bandeiras do país. Foi um dos pontos a favor da queda do regime comunista.

Praça Skanderbeg
A praça Skanderbeg surpreende pelo seu tamanho. Na verdade, Tirana é a capital da Albânia, mas é um pouco como uma aldeia, não é uma grande, grande cidade e ter uma praça tão imensa não serve mais do que para recordar a época comunista, quando se necessitava de um espaço tão grande para deixar o exército passar, e outros desfiles nos quais se recordava o poder do governo.

A praça tem o nome do herói nacional albanês, Skanderbeg, também chamado Iskander Bey em turco. Nasceu em 1405, e é um dos personagens mais famosos da história da Albânia. Diz-se que era a encarnação do dragão que se encontra na bandeira do país (um dragão negro com fundo vermelho). Skanderbeg combateu contra o Império Otomano, e conseguiu mantê-lo fora do seu país durante duas décadas. Considerando o tamanho da Albânia e a força do império Otomano, foi um feito incrível. Agora, no centro da praça, encontra-se uma estátua de Skanderbeg, montado num cavalo, ao lado da bandeira do país. Na praça encontra-se a ópera, a torre do relógio, a mesquita e outros edifícios oficiais.

Piramida
Piramida é o Centro internacional da Cultura. É um edifício que está a Sul da grande praça Skenderbej de Tirana. Foi construída em 1987, segundo um projecto da filha de Enver Hoxha.
Hoxha foi o líder da República Popular da Albânia, desde o final da Segunda Guerra Mundial até 1985, ano da sua morte. É um edifício exótico, que não tem nada a ver com os restantes edifícios oficiais da cidade.

É muito mais futurista e colorido, que é algo que faz falta à capital. Actualmente é usado para convenções, exposições e outros eventos artísticos, que se realizam durante o ano em Tirana. O filho do Presidente Bush discursou em frente de Piramida, que é um dos edifícios mais representativos da cidade de Tirana, independentemente de gostarmos ou não. Foi o edifício mais caro para o povo albanês durante a época comunista e, agora querem modificá-lo, porque não é nada prático. Os novos projectos serão também feitos pela filha de Hoxha.

Ópera de Tirana
Situada na Praça Skenderbej, a Ópera de Tirana forma parte de uma rede, juntamente com as óperas da Europa central e de Leste. O teatro nacional de ópera e ballet é o maior teatro do país, e tem dois corpos, de música e dança, residentes por ano. O teatro é muito recente, foi criado em 1953, mesmo depois da segunda Guerra Mundial, na era comunista. O bom foi que este teatro ajudou a desenvolver as belas artes em Tirana, porque antes não havia nenhum lugar onde representar, e desde a sua criação chegaram grupos e orquestras de vários países do bloco comunista. O mau foi que, tal como os outros edifícios comunistas oficiais, é muito feio. Optaram pelo mais prático e não pelo mais belo. É um bloco de cimento cinzento que construíram na praça central e ali apresentam obras de ópera de compositores albaneses e internacionais.