A Tina de Bruxelas agora chama-se Tiiaa

Carlos Fino

Chamava-se Tina em economês (do eixo Bruxelas-Berlim) e em psdês (versão Coelho, por enquanto). Em português, chamar-se-ia Naa (soando assim um bocadinho a não, em alentejano profundo). Mas, claro, o alentejano sempre foi pouco internacional para o PSD de Coelho, que sempre preferiu o There is no alternative, do economês merkeliano, versão Schäuble e quejandos, maioritários em Bruxelas, que soa muito mais cosmopolita aos seus ouvidos do que o não há alternativa, em português. Com ou sem sotaque alentejano.

Pois bem, afinal, parece que a Tina acaba de mudar de nome para Tiiaa (There is indeed an alternative) e que o PSD está em vias de mudar de líder, apesar de o atual jurar que se converteu em pequenino à social-democracia e ao legado de Sá Carneiro que, trejura, nunca terá atraiçoado, nem por palavras, nem por obras. É só alguém abanar a árvore e caem todos: desde aquele rapazinho do norte aos aprendizes de feiticeiro de Lisboa, seus colegas, e ao insubstituível mago Rangel, da guilda dos alquimistas austeritários, ali para os lados da Grand Place, pois então.

Mas, já começo a sentir saudades da Tina de Bruxelas. É que a gente habitua-se. Mais ou menos como quem sofre da síndrome de Estocolmo, aquela cena do abduzido que se apaixona pelo abdutor. E Tiiaa parece mais nome de filha segunda de jogador de futebol em declínio, mas ainda com acesso direto às páginas interiores da Nova Gente. É impossível sentir falta de alguém com esse nome. Tina, pelo contrário, era simples e sonante. Impunha respeito. Atemorizava, até (desculpem-me as Tinas de verdade, sobre as quais escreveria, antes, um poema). A gente ouvia aqueles senhores todos engravatados, com olheiras devidas ao muito trabalho em prol de todos nós e falando grave e lentamente, perguntando-nos:

— Qual é a parte de «não há alternativa» que não percebem?

E ficávamos paralisados. Hoje, por sinal e apesar da mudança de nome da Tina, os mais destacados desses senhores trabalham em Washington e em Bruxelas, tal a sua insubstituibilidade (palavra pomposa, não acham?) global. Ditosa pátria, que tais filhos tem, onde é que eu já li isto?

Mas, voltando à Tina, cujo nome mudou de morte matada por uma tal geringonça contranatura, dizem eles, bem-aventurada a política protagonizada por políticos e não por criaturas incubadas pelas jotas. Sobretudo quando se regressa a ela em nome do interesse e da soberania nacional, coisas que a Tina detestava, talvez por ser mal aconselhada por quem incensa por missão e devoção o bezerro de ouro dos mercados da inevitabilidade capitalista.