Emigrar é uma oportunidade, não uma fatalidade

A internet possibilitou a ligação da Madeira ao mundo. Em tempo real, foram muitos os participantes que deixaram o seu contributo neste I Encontro das Comunidades.
A internet possibilitou a ligação da Madeira ao mundo. Em tempo real, foram muitos os participantes que deixaram o seu contributo neste I Encontro das Comunidades.

Emigrar não é uma fatalidade, mas uma oportunidade. Uma ideia de otimismo partilhada esta manhã por três madeirenses que se encontram no estrangeiro. A partir de Campinas, no Brasil, de Genebra, na Suíça, e de Perth, na Austrália, veio o testemunho do sucesso fora de portas, através da plataforma skype. Relatos contados na primeira pessoa, esta amanhã, durante o Encontro das Comunidades Madeirenses, na sessão de trabalhos moderada pelo secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus.

Cátia ornelas

Cátia Ornelas, nascida no Funchal há 35 anos, é o exemplo da internacionalização e do novo fluxo migratório. Licenciada em Química pela Universidade da Madeira, esta madeirense encontra-se a trabalhar na Universidade de Campinas, liderando uma equipa de investigação na área dos nano materiais, concretamente no estudo da deteção precoce e tratamento de doenças oncológicas.

Depois de um percurso científico e profissional que já a levou trabalhar em várias partes do mundo, desde a Finlândia, até França e EUA, Cátia Ornelas garante que apesar da diversidade de percursos a ligação à terra se mantém, regressando todos aos anos para palestras e férias. Há dois anos a viver no Brasil, depois de comissões de trabalho nas universidades de Nova Iorque, Califórnia (Berkeley) e Arizona, vê com grande interesse a implementação de um projeto de intercâmbio entre a Universidade de Campinas e a Universidade da Madeira, dando a possibilidade de jovens e investigadores de ambas as regiões poderem trabalhar em conjunto.

Confessando-se uma otimista por natureza, a investigadora garantiu que sair da Madeira é uma porta para o mundo. “Há que ter uma visão mais ampla e de abertura. O mundo é o nosso escritório”, sublinhou, incentivando os seus conterrâneos que residem na ilha a ultrapassarem o ambiente de tristeza motivado pela conjuntura de crise.

maurício cysne

Também Maurício Cysne, filho de madeirenses mas nascido no Brasil, entende que a Madeira tem potencial para afirmar-se juntos dos centros de decisão, desde que sejam tidas em conta e esbatidas as diferenças em termos de desenvolvimento social e económico entre o norte e o sul da ilha.

Para este alto funcionário das Nações Unidas, que já viveu em todos os países lusófonos de África, cada emigrante é um embaixador da Região e dos seus produtos, referindo que nas suas deslocações internacionais se faz sempre acompanhar de bolo de mel e do Vinho Madeira. “Apesar da distância, podemos sempre contribuir como motores de promoção e sermos elementos ativos na representatividade e desenvolvimento da Região”.

De Perth, com mais de sete horas de diferença de fuso horário, falou Bernardo Vasconcelos, docente da Universidade da Madeira que se encontra na Austrália a realizar um trabalho de investigação sobre a emigração portuguesa e em concreto a madeirense.

Bernardo Vasconcelos, investigador madeirense atualmente na Austrália a estudar a emigração portuguesa.

Há três meses naquele país, com o estatuto de investigador, o madeirense apresentou um resumo do perfil dos emigrantes em terras australianas, fluxo que começou em 1952 a partir da África do Sul, direcionando-se sobretudo para as plantações de banana. A maioria dos primeiros emigrantes é da zona sul da ilha da Madeira.

Neste momento, estão registados cerca de 9 mil portugueses no consulado de Portugal, mas Bernardo Vasconcelos referiu ser difícil quantificar quantos deles serão de origem madeirense, dada a existência de novas comunidades de segunda e terceira gerações e do surgimento de uma nova tendência migratória relacionada com as licenciaturas e doutoramentos.

O docente universitário aproveitou o Encontro para apelar a uma maior visibilidade desta comunidade, apostando nas camadas mais jovens, adiantando que estão a ser equacionadas futuras parcerias e intercâmbios entre a Universidade da Madeira e instituições culturais e de ensino na Austrália.

Dos contactos mantidos com a comunidade local, Bernardo Vasconcelos destacou o grande carinho e interesse com que acolheram este seu trabalho, cujos resultados serão dados a conhecer a curto prazo, salientando que ao contrário do que se passa com outras comunidades são escassos os trabalhos de investigação sobre a emigração portuguesa.