O primeiro contacto que estabeleci com a obra de Vargas Llosa foi fascinante: Lituma nos Andes, entendi, e já lá vão tantos anos, que um dia ele seria premiado com o Nobel da Literatura, facto que veio a acontecer muito mais tarde.

Sobre o livro, e em poucas palavras, a ação passa-se algures nos Andes, as personagens correspondem ao tipo de habitantes que se espera adequados ao ambiente, cuja descrição me pareceu absolutamente eivada de exotismo e onde a autoridade, personificada por Lituma, era, no mínimo, o baluarte do inesperado.

Mas, o que fez com que esta obra fosse tão especial, prende-se, não só com o meu gosto pela leitura, como pela necessidade de tentar sentir e ver o que as palavras me transmitiram, então, comecei a viajar com as personagens, a comer os gelados feitos de clara batida, a cheirar os seus produtos e a atingir uma plenitude incomensurável quando de repente, anos mais tarde (não muitos) também eu nas sinuosas estradas andinas me vi a demorar horas infinitas a chegar a uma cidade porque o transporte em que seguia parava e, além dos turistas, levava os locais, mais os sacos, as galinhas e um sem número de coisas, vi-me, personagem da obra, com um homem mínimo e pesado, quase em cima de mim e de uma amiga na companhia de uma ave cacarejante que não parava quieta.

Parece pouco, mas creiam que não é…este mundo fascinante ainda existe, experienciá-lo, é um privilégio.

Curiosa com esta escrita e esta dádiva de entender a América Latina, rapidamente adquiri uma série de obras, não vale a pena mencioná-las todas, mas não esquecerei as maravilhosas e hilariantes horas a ler Tia Júlia e o Escrevedor, romance atual e adequado a todos os que, noite após noite, se reveem nas novelas, penso que poderão também confundir as personagens de umas e de outras.

Para terminar gostaria de referir que este escritor peruano soube entender e dar a entender a essência de um povo e, de forma subtil, denunciar discrepâncias sociais e atrocidades políticas.

A sua forma escrita é rica e variada, bem como os temas, as últimas obras denunciam outras prioridades, nomeadamente de cariz mais filosófico.