Como lidar com a diferença? AMPLOS dá apoio aos pais com filhos transexuais

 

amplos 1* Com Lília Castanha

O Funchal Notícias divulga a atividade da Associação AMPLOS, vocacionada para o apoio aos pais de pessoas lésbicas, bissexuais, transgénero e transexuais.Como lidar com filhos diferentes e enfrentar o preconceito?

Quando falamos de igualdade, falamos de igualdade de direitos, de sermos olhados com o mesmo valor e respeito como ser humanos, seres que pensam, riem e sofrem, passando por cima da raça, religião, género, nacionalidade, classe social e aparência.

Mas o que é que acontece quando uma criança, adolescente ou adulto se sente como pertencente ao sexo oposto, ou seja, sente-se mulher num corpo de homem ou homem num corpo de mulher ou tem uma orientação sexual diferente da maioria?

Apesar das leis de não-discriminação, será que lhes são dadas as mesmas oportunidades, liberdades, reconhecimento e valorização?

O Secretário das Nações Unidas, Ban Ki-moon respondeu a esta questão já em 2012 ao pronunciar-se sobre os direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero). Ki-moon afirma que é nosso dever, segundo a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proteger os direitos de todos em todos os lugares do mundo. Segundo o relatório revelado na altura, assiste-se a abusos perturbadores em todas as regiões, direcionados a pessoas apenas por elas serem gays, lésbicas, bissexuais ou transgénero.

Ki-moon refere também que há um preconceito generalizado nas lojas, escolas e hospitais constituindo uma violação da legislação internacional e aponta para várias soluções, sendo uma delas educar o público para esta temática (vide discurso integral de 3:23 minutos em:  https://www.youtube.com/watch?v=jj1JUtV01B8

Portugal legitimou o casamento gay em 2010 e atualmente a população LGBT e simpatizantes lutam pelos direitos da adoção homossexual. Somente no passado dia 26 de Junho, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos 50 estados americanos à semelhança de outros países. Obama pronunciou-se dizendo que foi uma vitória para América.

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Imagem tirada do site: http://www.iguales.cl/

Apesar destes avanços, as comunidades LGBT continuam a serem alvo de perseguição também em Portugal, como revela o Correio da Manhã na sua edição de 12 de Março. De acordo com este jornal, um militar de 23 anos, vítima de bullying pelos seus “maneirismos femininos e por ser considerado homossexual”, foi encontrado sem vida no quarto onde dormia na base Aérea de Beja. Este é um exemplo apenas. A discriminação nas escolas também é um fato.

Existem várias associações LGBT em Portugal que têm como finalidade a discussão dos assuntos referentes à temática da homossexualidade e a defesa dos seus direitos. Neste âmbito, o Funchal Notícias contatou a AMPLOS (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual).

Funchal Notícias – Quem é a Amplos e quais os objetivos da sua atividade?

AMPLOS – A AMPLOS é uma Associação que tem como objetivo o apoio aos pais de pessoas lésbicas, bissexuais, transgénero e transexuais. Pretendemos  a divulgação, educação de temáticas relativas à discriminação de pessoas LGBT e a temas que lhes dizem diretamente respeito (situação perante a lei, saúde, trabalho, segurança, entre outros). Finalmente temos como objetivo intervir a nível legislativo, influenciando as decisões políticas e denunciando publicamente as situações de desrespeito dos direitos.

FN – Os pais aderem à vossa Associação ou preferem a negação?

AMPLOS – Os pais que nos procuram chegam numa atitude de caminhar no sentido da aceitação. Infelizmente os que recusam ajuda não chegam a ser por nós apoiados. Estamos em contacto com cerca de 200 famílias de todo o país desde a nossa fundação.

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Imagem tirada do site: agenciapatriciagalvao.org.br

FN – Como ensinar um pai a lidar com um filho transexual ou homossexual?

AMPLOS – Não se ensina. Acompanha-se. As questões trans são diferentes das que respeitam a homossexualidade. Em todo o caso, a melhor forma é a partilha, é os pais sentirem que têm um espaço de liberdade e que podem aprender com as experiências uns dos outros.

FN – Qual a melhor atitude a adotar perante estes indivíduos? 

AMPLOS –  É sempre respeitá-los, ouvi-los e apoiá-los.

FN –  Qual a melhor postura perante o preconceito?

AMPLOS – A melhor postura é a aprendizagem, informação e humildade perante a vivência dos outros

FN – Têm tido contactos de famílias madeirenses? 

AMPLOS – Tivemos um contacto com um jovem que pedia desesperadamente apoio acusando os pais de maus tratos. Tivemos há pouco tempo uma mãe madeirense (mãe de um jovem trans) que nos procurou aqui em Lisboa, onde vive neste momento.

FN –  Tencionam abrir uma delegação na Madeira? 

AMPLOS – Se nos for possível, um dia, sim.

FN – Considera que o  Estado discrimina estes cidadãos? 

AMPLOS – O Estado ainda discrimina nas questões ligadas à parentalidade (co-adoção e adoção, procriação medicamente assistida). Há muito para fazer quanto ao bullying homofóbico e transfóbico nas escolas públicas. O Serviço Nacional de Saúde não está a responder às necessidades da população trans.

FN –  Qual deverá ser a atitude das escolas?

AMPLOS – As escolas devem deixar bem claro que não admitem qualquer tipo de discriminação com base na orientação sexual e identidade de género. Programas formativos também seriam bem vindos.

A AMPLOS tem ainda o seu site, blog e página no facebook:

http://www.amplos.pt/amplos/quem-somos/

https://amplosbo.wordpress.com/

https://www.facebook.com/pages/Amplos-Bring-out/963469597030557?fref=ts

Imagem tirada do site: http://www.iguales.cl/