Cosmética e oportunidade perdida

h_sampaio

Contrariamente ao que alguns anteviam e muitos outros ambicionavam, a disputa interna no seio do PSD/M não gerou, pelo menos por enquanto, qualquer ruptura, muito menos a implosão que outros tantos prognosticaram.

Pode-se, aliás, dizer que o PSD/M soube gerir, sem grandes danos, a mudança na sua liderança. E fê-lo apostando no candidato que estava, e está, em melhores condições de assegurar a almejada manutenção no poder regional e, simultaneamente, no que é mais dificilmente derrotável pela actual oposição.

As hostes laranja perceberam que a unidade era, e é, uma condição essencial para poder continuar a ter sucesso eleitoral. De resto, é sabido que a perspectiva do poder constitui um factor agregador e ninguém faz “hara-kiri” sabendo que pode manter as mordomias e privilégios, e continuar a alimentar a clientela que se sentou avidamente à mesa do orçamento.

É, porém, pura ilusão, pensar-se que estamos em presença de um novo PSD/M. Aliás, o vencedor da disputa interna foi claro quando afirmou que não haveria “ruptura” com o passado.

Vamos assistir ao que os italianos designam por “aggiornamento”. A uma espécie de “evolução na continuidade”, como a protagonizada por Marcelo Caetano quando em 1968 sucedeu ao ditador de Santa Comba Dão.

Albuquerque percebeu que para o PSD/M se manter no poder era necessário mudar alguma coisa. Manter tudo como estava seria entregar o poder à oposição.

A questão de fundo é, porém, o sistema. O polvo laranja tem raízes profundas em todas as áreas da sociedade madeirense. E isso não se altera mudando apenas de alguns protagonistas.

Uma operação que, pelo que se tem visto, é mais aparente do que real. Mais de cosmética. Do palco interno saíram apenas o anterior presidente e o líder parlamentar. Todas as outras figuras e figurinhas continuam lá. Umas mais abaixo e outras mais acima, tendo a tão apregoada “renovação” se ficado pela lista ao parlamento regional. Mas, como a procissão ainda vai no adro, o melhor é esperar para ver se até ao ex-líder não acabará por ser atribuído um qualquer lugar em que possa continuar a refugiar-se na imunidade.

Não se espere, contudo, que ao nível político ocorram mudanças substanciais. Não só porque Albuquerque foi nado e criado na mesma escola do jardinismo, estando por provar se o distanciamento operado se deu por convicção ou por mero tacticismo. É que, politicamente falando, o criador e o sucessor deixaram o mesmo lastro: do despesismo, do endividamento, da megalomania, do desrespeito pela lei, do conluio com o poder económico.

Ou seja, não chega disponibilizar-se para baixar o famigerado jackpot e simultaneamente não mexer na operação portuária.

Resumindo: tudo se conjuga para a introdução de pequenas nuances, para que, no fundamental, tudo continue na mesma.

Neste quadro, é ainda mais lamentável que tudo aponte para que a oposição não aproveite a melhor oportunidade de sempre para afastar o PSD/M do poder regional. Não só por que, não tem consolidado a embalagem propiciada pela vitória alcançada nas últimas eleições autárquicas, mas também porque não soube construir uma candidatura alternativa susceptível de mobilizar o eleitorado para o referido propósito.

40 anos depois a oposição que (não) temos continua preocupada apenas com os lugarzinhos nas listas, com os seus pequenos redutos, sem ambição de vitória, limitando-se a contentar-se em disputar, como no futebol, o primeiro lugar dos últimos.

É caso para dizer: em 29 de Março Miguel Albuquerque e o PSD/M bem podem agradecer à oposição que (não) temos. Com amigos destes tudo se torna mais fácil.

* Este texto não respeita o acordo ortográfico.