“A RTP não cumpre o seu dever”

No âmbito da conferência sobre O papel do teatro na cultura do povo, agendada para a Semana Cultural, que decorreu, de 26 a 31 de janeiro, na Escola Secundária Jaime Moniz, Filipe La Féria aproveitou para interagir com a asistência. E Lançou o repto aos alunos: “Façam as perguntas. Podem perguntar sobre tudo”.

Foi assim que decorreu o encontro, por entre perguntas e respostas. La Féria abordou aspetos da história do teatro, dos trabalhos que realizou ao longo de uma carreira de 50 anos e da cultura em Portugal. E a propósito afirmou que “a RTP não cumpre o seu dever. É tudo ao nível da Casa dos Segredos. Tenho vergonha de viver neste País. É horrível começar o telejornal com o futebol, quando há notícias tão importantes.” E compara com o que se passa em Espanha, onde fazem “um verdadeiro teatro”.

Na sua perspetiva, não se trata da falta de público. “O Politeama está sempre cheio. O povo português gosta muito de teatro. As pessoas vêm, de todo o país, de autocarro, para assistir a espetáculos e regressam às suas casas já muito tarde”.

Quando alguém pergunta pelo apoio ao teatro, por parte do Estado, responde: “O teatro nunca tem muito apoio, pois vive com a palavra. E a palavra pode ser subversiva”. Compara o teatro de revista ao fado, “não se pode proibir, critica, não tem vergonha e é picante.” Para Filipe La Féria, o teatro deve cumprir uma função: “Quem assiste a um espetáculo tem que sair diferente. O teatro tem de provocar uma interrogação”.

A curiosidade dos alunos sobre a sua carreira de ator e encenador motivou várias questões. “ Nunca acreditei na realidade e por isso tive que inventar outros mundos”, disse a propósito da escolha da profissão. Outros mundos, o do espetáculo, que para além de entretenimento é também crítica. “Gosto de falar do meu País, de dizer o que penso, no sentido de criar uma sociedade melhor. É preciso olhar para nós, para a nossa cultura”.

– Como é ser ator? Filipe La Féria responde, conferindo importância à formação, ao trabalho, à pesquisa e também à necessidade de possuir talento natural. “O ator tem que ser tudo e não ser nada. É como uma página em branco, onde as personagens absorvem o que o dramaturgo lhes dá. O grande ator está sempre a mudar. E só será grande, universal “se for circunstancial, se transmitir os sentimentos da sua terra”, concluiu.

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