
O incómodo com o aparente concubinato político entre PSD, CDS e PS na Madeira, no despreocupado convívio na inauguração da sede da associação SEDES no Funchal e nas declarações do responsável nacional da mesma, Álvaro Beleza, que teceu encómios aos governos de Jardim e Miguel Albuquerque, está a repercurtir-se no seio dos socialistas e não só. Conforme o FN já referiu, Carlos Pereira, numa publicação na sua página da rede social facebook, disse que a SEDES começou mal na Madeira, e mostrou-se desagradado com Álvaro Beleza. E já anteriormente André Escórcio o tinha feito. Este último, aliás, foi mais incisivo, declarando não conseguir conter a sua “perplexidade e a mais completa desilusão” perante as declarações de Beleza.
“O meu desabafo não tem nada, rigorosamente nada, a ver com o facto de eu ter sido, durante muitos anos, vice-presidente, secretário-geral, deputado e autarca do Partido Socialista. Tem a ver sim com o seu mais completo desconhecimento do que é a Madeira e o seu regime político desde 1976”, diz André Escórcio, um dos que sentiu na pele o que foi ser oposição no tempo de Jardim.
Assim, o PS-M considera “inaceitáveis as declarações ontem proferidas pelo presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), as quais revelam um profundo desconhecimento sobre a realidade social na Região”.Considerando “despropositados” os elogios de Álvaro Beleza aos sucessivos Governos Regionais, ontem, aquando da inauguração das instalações da SEDES, o secretário-geral do PS-Madeira refere que as afirmações daquele responsável associativo não correspondem, minimamente, à realidade que se vive na Região.
“À conta da governação irresponsável do PSD, à qual nos últimos quatro anos se juntou o CDS, a Madeira é a região do País com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social (29,6%)”, afirma Gonçalo Aguiar, lembrando que nesta situação se encontram mais de 74 mil madeirenses.
O dirigente socialista aponta o facto de a Madeira ter o mais baixo rendimento médio do país e de, como foi recentemente divulgado pela própria Rede Europeia Anti-Pobreza, cerca de um quarto dos madeirenses serem obrigados a viver com 551 euros mensais, situação que foi arrogantemente desvalorizada pelo próprio presidente do Governo. O mesmo Governo Regional que se tem revelado incapaz de criar oportunidades para fixar os jovens e que levou a que, na última década, a Madeira tenha perdido cerca de 17 mil pessoas para a emigração, refere uma nota emitida pelo PS-M.
Gonçalo Aguiar critica ainda o “despesismo irresponsável da governação social-democrata, cujo reflexo mais evidente são dezenas de obras inúteis e que custaram milhões e milhões de euros do erário público, na base das quais esteve a criação de uma dívida oculta de mais de seis mil milhões de euros, que todos os madeirenses terão de continuar a pagar durante décadas”.
“São estas atitudes que merecem os elogios do presidente da SEDES?”, questiona o secretário-geral do PS, dando conta também que, enquanto milhares de madeirenses vivem na pobreza, “o Governo Regional que Álvaro Beleza tanto gaba gasta 33 milhões de euros por ano em tachos para garantir as suas clientelas partidárias”.
“Em que se baseou o presidente da SEDES para fazer tais afirmações?”, pergunta ainda Gonçalo Aguiar, vincando que a realidade descrita por Álvaro Beleza não tem qualquer correspondência com a difícil situação vivida pelos milhares de madeirenses que estão em dificuldades para pagar o empréstimo ou a renda da casa e, nalguns casos, para pôr comida na mesa.
Os socialistas convidam Álvaro Beleza a visitar novamente a Madeira, mas a sair da zona turística e a ir às zonas altas do Funchal e a muitos outros pontos da Região para se inteirar da realidade em que vivem milhares e milhares de madeirenses.
Por seu turno, o PAN referiu que o presidente da SEDES “veio à Madeira, chegou – disse e deu a sentença “ O trabalho do governo da Madeira é extraordinário”. Deu uma palestra (entre membros e próximos do governo), jantou e foi embora.O Dr. Álvaro Beleza veio à Madeira com apenas 12 anos e passados uns anos regressou com uma visão centralista e viu o que não esperava ver: afinal os ilhéus até tem estradas, aeroporto, centros comerciais e recebem-nos como ninguém, decide então que está no paraíso da Terra.
O Dr. Álvaro Beleza desconhece, que na região não ser da maioria pode dar verdadeiras dores de cabeça, pois a democracia ainda não está assim tão consolidada, que os nossos jovens partem em números alarmantes (cerca de 20000 só na última década), que até levaram a que na última década o envelhecimento da população nos passou duma das regiões mais jovens da Europa para uma região envelhecida.
O sucesso do Dr. Beleza não existe quando a frieza dos números nos dizem que a Madeira é a região do País com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social (29,6%), e nos demonstram que a Madeira tem também o mais baixo rendimento médio do país.
Mas ainda que tendo como referência o olhar do menino de boas famílias, privilegiado de 12 anos, o Dr. Beleza podia ter lido alguma coisa sobre a realidade da Madeira, seja dos monopólios de empresários com ligações obscuras ao orçamento regional ou das “obras inventadas” como assim as caracterizou o ex-deputado Regional, Europeu e Nacional Sérgio Marques. Não o fez, mas podia também informar-se sobre as graves carências habitacionais, sobre o problema tremendo que são os mais de 20.000 madeirenses que esperam por uma consulta ou cirurgia, podia mas não o fez falar dos cerca de 10000 madeirenses que não estudam nem trabalham, ou sobre o medo e as pressões que sentem aqueles que ousam discordar dos governantes ou o sistema de “favores e ameaças” implantado no território por canta das casas do povo.
O PAN Madeira convida o Dr. Beleza a regressar à Madeira com a idade atual, sem o fascínio da criança de 12 anos, para verificar in loco o estado dos 120000000€ que estão ao abandono na Marina do Lugar de Baixo, em ver as obras projetadas para o Curral das Freiras, para as Ginjas, em ouvir os jovens que não andam de gravata nem gravitam em torno do poder, ou seja a visitar a Madeira onde vivem os madeirenses, não aos salões do poder”.