PS-M obrigado a contestar declarações de Álvaro Beleza, que lançaram a polémica no meio regional

foto LR

O incómodo com o aparente concubinato político entre PSD, CDS e PS na Madeira, no despreocupado convívio na inauguração da sede da associação SEDES no Funchal e nas declarações do responsável nacional da mesma, Álvaro Beleza, que teceu encómios aos governos de Jardim e Miguel Albuquerque, está a repercurtir-se no seio dos socialistas e não só. Conforme o FN já referiu, Carlos Pereira, numa publicação na sua página da rede social facebook, disse que a SEDES começou mal na Madeira, e mostrou-se desagradado com Álvaro Beleza. E já anteriormente André Escórcio o tinha feito. Este último, aliás, foi mais incisivo, declarando não conseguir conter a sua “perplexidade e a mais completa desilusão” perante as declarações de Beleza.

“O meu desabafo não tem nada, rigorosamente nada, a ver com o facto de eu ter sido, durante muitos anos, vice-presidente, secretário-geral, deputado e autarca do Partido Socialista. Tem a ver sim com o seu mais completo desconhecimento do que é a Madeira e o seu regime político desde 1976”, diz André Escórcio, um dos que sentiu na pele o que foi ser oposição no tempo de Jardim.

“Ora bem, Vossa Excelência assume que este foi um “trabalho “absolutamente extraordinário”, “exemplo para o país” e que se sente “orgulhoso da Madeira”. Obviamente que é inegável que alguma coisa foi realizada e bem conseguida. Se tal não tivesse acontecido deixaria de ser um problema de política para ser de polícia”
“O que é inaceitável”, prossegue, “é que Vossa Excelência não falou e, repito, obviamente que não o podia dizer, como é que se operou a descaracterização da Região; compreendo que não podia falar dos 6.3 mil milhões de dívidas e das contabilidades paralelas; não podia falar dos 32,9% de pobres e em risco de pobreza, que corresponde a cerca de 75.000 habitantes; não podia abordar a teia de interesses que conduziram a camuflados monopólios; não podia falar das “obras inventadas” como caracterizou o ex-deputado Europeu Dr. Sérgio Marques, declarações objecto de Inquérito Parlamentar; não podia falar das graves carências habitacionais; não podia falar dos mais de 20.000 à espera de uma consulta ou de uma cirurgia; não podia abordar que nos últimos anos 17.000 madeirenses abandonaram a região; não podia equacionar a questão de 8.000 jovens que não estudam nem trabalham; não podia falar de um sistema educativo mais próximo do século XIX do que do século XXI; não podia abordar a rede de “casas do povo” e toda a sua estrutura clientelar; não podia abordar os dramas das perseguições e afastamentos silenciados. Não podia falar, reconheço, porque o momento não era propício. Compreendo. Mas podia ter falado de muita outra coisa, com total rigor, independência e não se comprometendo com nada.
Vossa Excelência viu e continua a ver prédios, hotéis, flores e fica encantado. Não viu o tecido social esfarrapado.
Não andou por ruas, becos, travessas e impasses a cheirar essa tal “Madeira Nova” que tanto o orgulha. Não viu nem sentiu os dramas da pobreza, porque se os visse não tinha, certamente, confundido crescimento com desenvolvimento. A pergunta que devia ter em mente talvez fosse esta: com os mesmos fluxos financeiros, desde 1976, não podia a Madeira ser hoje uma terra menos dependente, menos pobre e menos assimétrica?
Com as suas declarações, publicadas no Dnotícias, Vossa Excelência, que é um político com partido, julgo que no PS, preferiu dar uma rajada na oposição, porventura matando-a e indicando, claramente, quem deverá suceder ao PSD. O PSD!
Tive funções político-partidárias e hoje estou completamente distante. Guio-me, apenas, pelas minhas convicções sociais. Apesar de escrever quase diariamente, julgo ser esta a primeira vez, desde há muito, que abordo um tema político onde em causa está o poder e a oposição. Nem militante sou, para que saiba. Mas não posso calar a injustiça. A balança da justiça tem dois pratos. Certo? Se a SEDES é isto, não auguro qualquer futuro nos estudos que venham a ser realizados na Madeira. Será mais do mesmo”, sentenciou.
Entretanto, o PS-M já foi obrigado a reagir oficialmente e a dizer que Álvaro Beleza desconhece a realidade social da Região. Apesar da postura amiga expressa em beijos e abraços na inauguração da sede da SEDES, o partido sente necessidade de distanciar a postura civilizada entre adversários políticos da expressão pública de elogios à governação social-democrata.

Assim, o PS-M considera “inaceitáveis as declarações ontem proferidas pelo presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), as quais revelam um profundo desconhecimento sobre a realidade social na Região”.Considerando “despropositados” os elogios de Álvaro Beleza aos sucessivos Governos Regionais, ontem, aquando da inauguração das instalações da SEDES, o secretário-geral do PS-Madeira refere que as afirmações daquele responsável associativo não correspondem, minimamente, à realidade que se vive na Região.

“À conta da governação irresponsável do PSD, à qual nos últimos quatro anos se juntou o CDS, a Madeira é a região do País com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social (29,6%)”, afirma Gonçalo Aguiar, lembrando que nesta situação se encontram mais de 74 mil madeirenses.

O dirigente socialista aponta o facto de a Madeira ter o mais baixo rendimento médio do país e de, como foi recentemente divulgado pela própria Rede Europeia Anti-Pobreza, cerca de um quarto dos madeirenses serem obrigados a viver com 551 euros mensais, situação que foi arrogantemente desvalorizada pelo próprio presidente do Governo. O mesmo Governo Regional que se tem revelado incapaz de criar oportunidades para fixar os jovens e que levou a que, na última década, a Madeira tenha perdido cerca de 17 mil pessoas para a emigração, refere uma nota emitida pelo PS-M.

Gonçalo Aguiar critica ainda o “despesismo irresponsável da governação social-democrata, cujo reflexo mais evidente são dezenas de obras inúteis e que custaram milhões e milhões de euros do erário público, na base das quais esteve a criação de uma dívida oculta de mais de seis mil milhões de euros, que todos os madeirenses terão de continuar a pagar durante décadas”.

“São estas atitudes que merecem os elogios do presidente da SEDES?”, questiona o secretário-geral do PS, dando conta também que, enquanto milhares de madeirenses vivem na pobreza, “o Governo Regional que Álvaro Beleza tanto gaba gasta 33 milhões de euros por ano em tachos para garantir as suas clientelas partidárias”.

“Em que se baseou o presidente da SEDES para fazer tais afirmações?”, pergunta ainda Gonçalo Aguiar, vincando que a realidade descrita por Álvaro Beleza não tem qualquer correspondência com a difícil situação vivida pelos milhares de madeirenses que estão em dificuldades para pagar o empréstimo ou a renda da casa e, nalguns casos, para pôr comida na mesa.

Os socialistas convidam Álvaro Beleza a visitar novamente a Madeira, mas a sair da zona turística e a ir às zonas altas do Funchal e a muitos outros pontos da Região para se inteirar da realidade em que vivem milhares e milhares de madeirenses.

Por seu turno, o PAN referiu que o presidente da SEDES “veio à Madeira, chegou – disse e deu a sentença “ O trabalho do governo da Madeira é extraordinário”. Deu uma palestra (entre membros e próximos do governo), jantou e foi embora.O Dr. Álvaro Beleza veio à Madeira com apenas 12 anos e passados uns anos regressou com uma visão centralista e viu o que não esperava ver: afinal os ilhéus até tem estradas, aeroporto, centros comerciais e recebem-nos como ninguém, decide então que está no paraíso da Terra.

O Dr. Álvaro Beleza desconhece, que na região não ser da maioria pode dar verdadeiras dores de cabeça, pois a democracia ainda não está assim tão consolidada, que os nossos jovens partem em números alarmantes (cerca de 20000 só na última década), que até levaram a que na última década o envelhecimento da população nos passou duma das regiões mais jovens da Europa para uma região envelhecida.

O sucesso do Dr. Beleza não existe quando a frieza dos números nos dizem que a Madeira é a região do País com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social (29,6%), e nos demonstram que a Madeira tem também o mais baixo rendimento médio do país.

Mas ainda que tendo como referência o olhar do menino de boas famílias, privilegiado de 12 anos,  o Dr. Beleza podia ter lido alguma coisa sobre a realidade da Madeira, seja dos monopólios de empresários com ligações obscuras ao orçamento regional ou das “obras inventadas” como assim as caracterizou o ex-deputado Regional, Europeu e Nacional Sérgio Marques. Não o fez, mas podia também informar-se sobre as graves carências habitacionais, sobre o problema tremendo que são os mais de 20.000 madeirenses que esperam por uma consulta ou cirurgia, podia mas não o fez falar dos cerca de 10000 madeirenses que não estudam nem trabalham, ou sobre o medo e as pressões que sentem aqueles que ousam discordar dos governantes  ou o sistema de “favores e ameaças” implantado no território por canta das casas do povo.

O PAN Madeira convida o Dr. Beleza a regressar à Madeira com a idade atual, sem o fascínio da criança de 12 anos, para verificar in loco o estado dos 120000000€ que estão ao abandono na Marina do Lugar de Baixo, em ver as obras projetadas para o Curral das Freiras, para as Ginjas, em ouvir os jovens que não andam de gravata nem gravitam em torno do poder, ou seja a visitar a Madeira onde vivem os madeirenses, não aos salões do poder”.