Presidente do Governo mantém namoro com o CDS e “puxa as orelhas” à falta de cultura da oposição parlamentar

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A um ano das eleições legislativas regionais, eis mais uma prova de fogo para Miguel Albuquerque e os seus pares. Absorvido pela agenda governativa diária, resta saber se estará a perder o contacto direto com o povo, na rua, como era habitual encontrá-lo, ou a correr na Avenida do Mar ou nas esplanadas aberto ao diálogo. A idade traz desgaste e Miguel Albuquerque confessa que agora “corre dentro”. Faz passadeira. Reconhece que tem menos contacto social por causa da agenda governativa. Mas todas as semanas, está no terreno, falando às empresas e aos trabalhadores, ouvindo as instituições e as forças vivas dos vários concelhos. “Na realidade,  acho que nunca andei tanto na rua como agora. Faço menos é vida social porque tenho menos tempo”, afirma. Cansado? “Nunca estou cansado. Três vezes por semana faz ginástica, logo cedo, e a partir das 08h00 , estou afinado para a governação”.

Em conversa com o FN nos jardins do Colégio dos Jesuítas, à margem do congresso regional das ilhas periféricas, o presidente não se furta às questões, apesar do pressing da agenda. O namoro com o CDS está cada vez mais firme. A pré-coligação sugerida por Rui Barreto neste último congresso centrista encontra eco favorável no presidente, como que querendo dizer que, equipa que funciona não deve ser mexida. “É muito provável que assim seja porque estamos juntos no governo e temos um programa para apresentar. Não é nada de extraordinário. É a lógica das coisas”.

A relação presidente do GR com o Parlamento regional é motivo de satisfação. Todos os meses o presidente marca presença no debate da Região, com agrado, assume. “Diziam que eu não iria, mas lá estou sempre”, e tomou-lhe o gosto. A relação com a oposição é um tópico de desencanto: “Eu faço uma dialética política como esperam da Democracia. Se a oposição não tem capacidade política, a culpa não é minha. Se não tem background cultural, a culpa não é minha. Se não se preparam para intervir… A última sessão foi uma pobreza franciscana, não tinham estudado os dossiers, não sabiam nada. Foi devastador.”

Questionado sobre qual o grupo parlamentar que lhe dá mais luta ou trabalho, PS ou JPP, o presidente relativiza: “Ninguém me dá mais trabalho. Desde que fiz advocacia nunca tive problema em falar de improviso, e gosto. A dialética parlamentar , apesar de ter algo artificial, é muito importante para manter a Democracia. O parlamentarismo é importante, só que é preciso ter pessoas preparadas, que estudem as questões, que saibam argumentar. Agora, o último debate foi uma verdadeira desgraça, parece que não estudaram os dossiers”.

Neste cenário, pergunta-se ao presidente sobre quem faz a verdadeira oposição, neste momento, no Parlamento? “Aqueles deputados do PS que saíram eram melhores do que estes. Mas agora eles pensam que basta aparecer na Internet para ser político e não é assim. Metem umas coisas no facebook, dizem meia dúzia de tretas, com meia dúzia de fotos,  e já se acham políticos… não é assim”.

Estalou o verniz com Calado?

Miguel Albuquerque e Pedro Calado. Uma relação que, nos últimos dias, deu sinais de estar a bulir por dentro com o episódio da falta de convite ao presidente da Câmara para discursar no Chão da Lagoa. Calado vai mas não discursa e deixou claro que não gosta de ser convidado no dia do evento, já todos os sabem. Estalou o verniz entre ambos, após longa lua de mel? O presidente continua a minimizar e a deitar água na fervura. “Está tudo bem. São aqueles quid-pro-quo que acontecem nos partidos. Foi um mal entendido. Não fala, paciência. Não posso obrigar ninguém a falar”, explica-se nestes termos. Será que Calado está a fazer a sua rebelião dentro do partido para demarcar-se de Albuquerque? O presidente sorri. Ameaça para o presidente? “Não. Ameaça nenhuma. A situação está resolvida. Agora, eu sempre disse que o nosso partido não é totalitário , não temos comité central, as pessoas são livres de expressar a sua opinião. Ele, por acaso, exprimiu uma opinião que nos leva a refletir. Cinco intervenções, no Chão da Lagoa é muito e pode tornar-se fastidioso. É algo que vamos ter que decidir dentro do partido, na comissão política. Os tempos são outros. Vamos pensar nisso”.

Os grupos empresariais são um peso pesado em qualquer governo. Na Madeira, não há exceção. Persiste, no entanto, a dúvida:  quem manda, o governo ou os grupos empresariais? Miguel Albuquerque replica: “Os empresários têm feito um papel importante e eu apoio as empresas, não tenha dúvidas disso… Valorizo os empresários, os postos de trabalho que criam, a riqueza que geram. Agora, à política o que é da política, às empresas o que é das empresas. É como o futebol”. Sente-se pressionado? ”Não. Já ando há tantos anos nisto que, para pressionar-me, é um pouco difícil”.