Estepilha: Exército português exibe peças de museu que não cativam ninguém

Rui Marote
Estão a decorrer na Madeira as comemorações do dia do Exército, com uma exposição fotográfica do RG3 no centro comercial La Vie. Entretanto, no cais da cidade ao longo da semana, mostra-se uma exposição de material de guerra. Peças de museu, memórias vivas da ultima grande guerra… Aproveitando para chamar os jovens a alistar-se. Nada atractivo para aqueles que queiram fazer carreira nas fileiras do Exército.
Hoje ninguém quer saber de uma pá e picareta, de uma latrina ou de uma cozinha de campanha ou de um Bitubo AA 20mm M/81. Estive na guerra de África e nunca vi esse material em actividade nos quartéis construídos no mato. As guerras clássicas há muito acabaram, com o exército a viver nas trincheiras e o corneteiro a entoar o o toque de avançar… Isso pertence à História.
Em África a guerra era de emboscadas, golpes de mão e grandes caminhadas a pé ou héli- transportadas. Hoje os cenários são outros e o Exército, em particular a Infantaria, pouco se modernizou  ao contrário da Força Aérea ou Marinha. As nossas forças, que estiveram em cenários de guerra no Afeganistão e Iraque tinham outro tipo de missões, ao contrário do que se passou na República Centro Africana, onde, com os comandos a actuar, a nossa intervenção tem características mais próximas do cenário de guerra das antigas colónias.
Hoje para atrair os jovens, seria melhor apostar nos drones, graças ao Comando Operacional da Madeira, que foi a zona piloto de Portugal onde se testou esse novo equipamento.
Basta recordar que recentemente o ataque de forças ao aeroporto do Afeganistão teve uma resposta imediata aos agressores através de drones que destruíram os abrigos dos agressores. Drones de outro “calibre”, é verdade… mas drones.
Tudo mudou e não vale a pena insistir no passado. Quando estava nos escuteiros, ia para a serra acampar com uma mochila de 20 kg às costas, transportava panelas, tenda ,cobertor, cantil,mantimentos e roupas. No campo construíamos uma cozinha, e uma latrina com os materiais existentes no terreno.
Hoje esse mundo e o espírito aventureiro jovem quase desapareceu. Os escuteiros de hoje vão acampar transportados numa carrinha, ou ficam numa casa do governo, e o takeway  leva a comida ao destino. Antigamente não havia telemóveis, e para falarmos com a família era da mercearia mais próxima, muitas vezes sem linha e manuseando uma manivela de chamada à central.
Hoje temos computadores, internet e rede de dados. E qualquer cidadão os tem.
No Exército, a guerra é outra, mas, Estepilha, as forças militares teimam em trazer museus para o centro do Funchal.
É bem mais atraente ver um submarino ou uma corveta com helicóptero. Isso desperta mais atenção dos jovens. Quanto à guerra de trincheiras, acabou em 1918 e D. Afonso Henriques o patrono, também já deixou há muito de manejar a “super espada”.
Até 1977, a Madeira só conhecia os helicópteros do porta-avioes francês “Clemenceau” quando nos visitava, e mais tarde os helis de traineiras do Panamá, em que os mestres eram pauleiros.
Foi com o general Lino Miguel que a Madeira recebeu os helicópteros Alouettes e mais tarde os Pumas. Os entendidos manifestavam então que, devido à orografia montanhosa da Madeira, era muito difícil e perigoso operar com helicópteros cá. Os helis, a serem usados teriam de ser semelhantes aos que na Suíça e Áustria eram usados nas montanhas. Isso sim, foi uma guerra que fez correr muita tinta. Os helicópteros, hoje, integram parte da esquadra da Força Aérea localizada no Porto Santo e servem o arquipélago em evacuações por mar e terra .
Recordo a primeira vez que um helicóptero Puma se deslocou às Selvagens: saiu das proximidades da capela de Santa Catarina com tanques suplentes para efectuar o percurso. Mais uma vez Lino Miguel comandou as operações, levando membros do Governo Regional. O general queria incentivar a construção de uma pista na Selvagem Grande, no Chão dos Caramujos, suficiente para a aterragem e descolagem do Aviocar sediado no Porto Santo, e transportando os vigilantes e mantimentos. Muitas vezes essas operações por mar, com os saudosos navios-patrulha Zaire e Cunene, eram abortadas devido ao estado do mar. Claro está, o mesmo acabou por acontecer à ideia da pista nas Selvagens. Estepilha…