Dirigente do Sindicato da Hotelaria apoia, em princípio, estratégia “Covid-Safe” de Eduardo Jesus

Fotos: Rui Marote

Adolfo Freitas, dirigente do Sindicato da Hotelaria, está, em princípio e nas linhas gerais, em concordância com a estratégia de promoção do designado “Covid Safe Tourism” preconizada pelo secretário regional do Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, após reunião com vários grupos hoteleiros a operar na Região. O sindicalista diz ser dos que acreditam que, a partir de Junho, já será possível ter alguma retoma nas unidades hoteleiras, até porque há reservas já garantidas em alguma delas. Evidentemente, sublinha, tudo isso passa por um plano de contingência, cumprindo as recomendações médicas. As mesmas, no entanto, “não podem de forma alguma ser aplicadas apenas para os clientes; também nas zonas internas, onde estão os trabalhadores”, as mesmas regras de segurança devem ser aplicadas. Até porque, alega, “sabemos perfeitamente que é aí as entidades patronais da hotelaria e da restauração menos investem na segurança dos trabalhadores. Daí a nossa preocupação”.

Contudo, se forem realmente postas na prática as medidas de turismo sanitário defendidas publicamente pelo governante com a pasta do Turismo, o entrevistado admite que a Região possa efectivamente beneficiar. Actualmente, já passou uma semana sem novos casos de Covid-19. Felizmente, na Região, ainda não se registou nenhum morto. Isto pode ser uma grande vantagem em termos de promoção da Madeira e Porto Santo nos mercados internacionais. O turista que poderá vir para a Madeira, refere, “têm no seu país de origem os mesmos problemas, ou até mais graves, em termos do Covid-19. Portanto, virá já com alguma sensibilidade [para o cumprimento de algumas regras] pois sabe que de antemão que tem boas probabilidades de vir para a Madeira saudável, e de não partir de cá doente”.

Na concentração recente da USAM, assinalando o 1º de Maio.

Claro que as recomendações, admite, “são muito fáceis de pôr no papel, mas mais difíceis de passar à prática. Uma recomendação, qualquer patrão olha para aquilo e vira a cara para o lado. Resta saber se serão aplicadas multas pesadas a quem não cumprir os pressupostos”.

As sugestões de Eduardo Jesus, diz, “são bem vindas, mas têm de ser muito bem elaboradas, bem determinadas, para que toda a gente possa cumpri-las”.

Adolfo Freitas mostra-se convicto de que “se a Madeira conseguir aguentar até ao final de Maio sem uma única morte, haverá muitos operadores turísticos que irão investir na Madeira, porque é um destino seguro”. A Região, realça, já era um destino de qualidade: “Não é por acaso que ganhamos há cinco anos o Prémio de Melhor Destino Insular do Mundo. Os operadores turísticos querem vender destinos; as companhias aéreas querem vender viagens; daí que vão apostar [com a retoma do turismo] em destinos que lhes dêem uma garantia de confiança. É evidente que esta garantia [Covid-Safe] que a Secretaria Regional do Turismo e Cultura pretende aplicar, também não passará desapercebida aos operadores turísticos”, considera. Se quem chegar cá ficar bem impressionado e der bom “feedback”, “podermos no futuro até recuperar, e bem, aquilo que perdemos entre Março e Abril”, acrescenta.

Em conversa com o Funchal Notícias, considerou aplicáveis as regras propostas por Eduardo Jesus no sector da hotelaria. Recorde-se que o FN publicou há dias uma reportagem na qual diversos empresários ligados às actividades turísticas, como o turismo de montanha ou de mar, consideraram dificilmente aplicáveis na prática as regras de distanciamento social e segurança sanitária que o secretário do Turismo quer ver mantidas no âmbito desta estratégia “Covid-Safe”. Porém, as pessoas que ouvimos do sector hoteleiro consideram essas regras mais fáceis de aplicar nos hotéis, e este sindicalista parece pensar da mesma maneira.

Por outro lado, salienta ainda Adolfo Freitas o facto de o sector turístico e da hotelaria ser aquele que, na RAM, “representa mais, mais receitas dá ao Estado, aquele que directa e indirectamente mais postos de trabalho cria”. Porém, salienta, nada disto quer dizer que os trabalhadores do sector sejam aqueles que mais ganham. Pelo contrário, até é dos sectores onde estes, afiança, “têm menos rendimentos”.

A crise gerada no mundo pela pandemia do novo coronavírus, um contexto do qual a Madeira não ficou de fora, “evidentemente, afectou negativamente a Região”. A maioria dos hotéis recorreu ao “lay-off” simplificado, sendo que, na opinião do nosso interlocutor, os trabalhadores “deviam ter recebido o valor do salário por inteiro e não apenas dois terços”. As empresas, refere, pagam menos um terço do salário, e dos outros dois terços ainda é descontada a contribuição para a Segurança Social. “As empresas só têm de pagar 30 por cento, desses dois terços e estão isentas do pagamento dos 23.75 à Segurança Social. Daí nós entendermos que os trabalhadores deviam ter recebido, também, o salário a cem por cento. Por outro lado, existem linhas de apoio às empresas dadas a fundo perdido”, justifica.