Papa denuncia organizações humanitárias que se servem dos pobres para garantirem os seus salários

O Papa Francisco voltou hoje a colocar o dedo na ferida dos pobres. Na sua homilia, na celebração litúrgica celebrada, esta manhã, na sua residência em Santa Marta/Vaticano, denunciou a cultura da indiferença da sociedade em relação aos pobres. Só que desta vez foi ainda mais longe e mais preciso, acusando as organizações mundiais de beneficiência e humanitárias de ficarem com o “salário” dos pobres para garantirem os seus ordenados da pesada estrutura que criam de pseudoapoio aos mais carenciados.

Inspirado no Evangelho de hoje, João, 12, 1-11, o Santo Padre levantou a sua voz de denúncia contra instituições que se servem dos pobres para auferir bons ordenados, sonegando o que aos pobres pertence. No Evangelho, Judas, um ladrão, estava falsamente preocupado com o facto de Maria ter comprado uma libra de perfume para ungir os pés de Jesus e enxugar-lhe os cabelos. Judas, que mais tarde entregaria Jesus à morte, criticou: “Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dar aos pobres?” Partindo desta réplica, o Papa Francisco desmontou a hipocrisia de tantos que hoje têm os pobres na boca, mesmo ao serviço das instituições humanitárias, para enriquecerem. Tendo por base o exemplo deste administrador infiel, lembrou que “há hoje tantas organizações de beneficência e de solidariedade que têm tantos, tantos empregados, criam uma estrutura rica de gente e, como resultado, 40% vai para os pobres e 60% para pagar os seus salários. É uma forma de ficar com o salário dos pobres”.

Os pobres não são um ornamento da cidade

O Santo Padre contesta também as declarações banais da cultura da indiferença. A realidade é esta: os riscos são poucos e os pobres são muitíssimos, a maioria escondida, envergonhada. Os que vemos são “a mínima parte. A mínima parte é aquela que vemos porque tudo está abafado pela cultura da indiferença que é negativista. Todos apregoam, não, há pobres, mas não são tantos, não se vê, sempre diminuindo a realidade dos pobres. Mas são tantos, tantos… Nesta cultura da indiferença, há um hábito de ver os pobres como um ornamento da cidade, como algo que faz parte, como as estátuas, quando todos sabemos que não é assim tão normal, que são muitos e muitos e são vítimas de políticas económicas e financeiras desta ordem económica mundial”.

No entanto, advertiu o representante de Cristo na terra, estes atos de indiferença aos pobres terão duras consequências. “No dia do juízo final de cada um, a primeira pergunta que vos será feita por Jesus não é a de saber o vosso luxo ou importância social mas isto: como te portaste com os pobres? Foste visitá-los ao hospital ou às prisões? Assististe aos órfãos ou viúvas? Deste de comer a quem tinha fome? Agasalhaste quem tinha frio? Pois, Eu estava em todos eles “

O Papa Francisco esclarece que não é por acaso que Jesus nos diz que os pobres estarão sempre connosco, o que significa dizer que Jesus estará sempre no rosto de cada pobre, entre nós. E “isto não é ser comunista”, clarificou o Santo Padre. “É o centro do Evangelho e todos nós seremos julgados por isto”.