JPP será a “terceira via” e Élvio Sousa diz que a Madeira tem dois presidentes do Governo, um em queda e outro que já se assume sem ter ido a votos

“O JPP não tem nem pressa nem apetite pelo poder. Não é esse o nosso projeto”. Foto Rui Marote

A terceira via. É este o patamar que o partido Juntos Pelo Povo coloca na perspetiva para este ano eleitoral, mas muito particularmente para as “Regionais” de 22 de setembro. Não vai às Europeias de 26 de maio, mas concorre às Nacionais de 6 de outubro. Um posicionamento que lhe permite olhar para outros dois lados, o do PSD com Miguel Albuquerque, o do PS com Paulo Cafôfo. Mais ou menos uma operação do tipo descubra as diferenças, onde o JPP, do lado de fora, promete avaliar com o povo, o tal povo que tem garantido a sustentabilidade do projeto, mas porventura com outro povo, novos eleitores diga-se, que poderão reforçar a atual dimensão traduzida, na Região, pela gestão autárquica em Santa Cruz e pela representatividade na Assembleia Regional.

Nem “pressa” nem “apetite” pelo poder

Élvio Sousa é o secretário-geral, uma das figuras de topo daquele que, primeiro foi movimento e depois partido, uma transição que este sistema assente na partidocracia encarregou-se de “empurrar”, como o faz sempre, em desvalorização da mobilização dos cidadãos, por si só. Fazer política, em Portugal, é nos partidos. O projeto, diz, “precisa de amadurecer, precisa de tempo, de assentar, como se fala em relação ao tratamento do vinho”. Nem tempo de mais nem tempo de menos, tempo simplesmente. Élvio Sousa é o cabeça de lista às “Regionais”, mas não fará parte dos candidatos à Assembleia da República. Isso deixa claro. Uma coisa ou outra.

Afirma, com convicção, que o Juntos pelo Povo não tem nem “pressa” nem “apetite” pelo poder. “Não é esse o nosso projeto. Devemos dizer a verdade às pessoas”.

Coligações serão com o povo

Fala-se de sondagens, que colocam o JPP numa posição potencialmente indiciadora de poder vir a ser uma espécie de “fiel da balança”, num quadro de inexistência de maioria absoluta. Fala-se de eventuais coligações, com conjeturas que colocam o partido numa situação de protagonismo elevado. Élvio Sousa tem aquilo a que podemos chamar os “pés bem assentes no chão” e é claro quanto aos objetivos: “Aquilo que podemos dizer à população é que as coligações do JPP serão com o povo”. E no caso de um eventual entendimento pós eleitoral, também está tudo pensado: “Vamos auscultar os orgãos do partido, mas também a população. Hoje, existem formas, diversas e rápidas, de ouvir as pessoas. Dou-lhe um exemplo: teremos em março um debate sobre o combate à corrupção e precisamente no dia da iniciativa, iremos colocar online uma ferramenta relacionada com a reforma do sistema político, permitindo uma interatividade. Com abordagem da exclusividade da função parlamentar, da revisão da imunidade e outras questões que possamos considerar relevantes para o aperfeiçoamento do sistema político”.

Não precisamos de licenciatura para sermos competentes

Esta posição assumida, mais ou menos na “defensiva”, sem “pressas” nem “apetites” de poder, além de que o JPP precisa de tempo de maturação, não significa, como refere Élvio Sousa, que o partido não esteja preparado para maiores responsabilidades. Nada disso. E esclarece: “Não precisamos de licenciatura para sermos competentes na gestão da causa pública”, referindo-se naturalmente à condução dos destinos da Câmara de Santa Cruz, cujo líder é o seu irmão Filipe Sousa, com uma equipa a acompanhá-lo. “Um exemplo para mostrar que, afinal, o JPP está preparado para outros desafios”.

Estamos em condições de governar

Lembra o plano de ajustamento a que a Autarquia esteve sujeito, que obrigava a aumentos de impostos, para relevar o papel da gestão camarária, que fez precisamente o contrário, “não aumentou impostos e demonstrou que a austeridade não funciona. E ainda por cima baixou a despesa corrente e aumentou a receita. Que melhor exemplo podemos dar? Claro que estamos em condições de governar, mesmo sabendo que gerir um governo é diferente do que fazê-lo relativamente a uma Câmara. Mas posso garantir-lhe que o JPP governava melhor do que este Governo Regional”.

“As pessoas querem castigar o PSD, não querem o PSD a governar”. Foto Rui Marote

Por um lado cautelas, ponderação. Por outro, arrojo, ambição. No fundo, o que retrata é arrojo, ambição, com cautelas e ponderação, tudo conjugado. A coexistência é possível para um bom resultado final. Acredita nas capacidades dos quadros do partido. “O JPP está preparado para governar. Agora, é importante vermos o cenário resultante das eleições regionais”.

Saída da Câmara do Funchal não foi birra do JPP

Quanto aos desafios que alguns partidos colocam ao JPP acerca da necessidade de clarificar posição sobre quem apoia no caso de não haver maioria absoluta, sabendo-se das divergências que levaram o JPP a abandonar a coligação vencedora na Câmara do Funchal, liderada por Paulo Cafôfo, Élvio Sousa aproveita o momento para lembrar que o divórcio no Funchal “não foi birra do JPP”, dizendo que “a saída deveu-se ao facto do Partido Socialista agir, de forma unilateral e autoritária, no exercício da gestão municipal. Havia como que um fecho das propostas do JPP, relativamente a outras. E o partido decidiu sair. Foi simples. O que estava em causa era o PS e quem não se sente não é filho de boa gente”.

Não é por isso que deixará de apoiar Cafôfo, não é por isso que apoiará Albuquerque. Revela que o objetivo do JPP é ser a “terceira via”, dizendo claramente quais as diferenças entre o PSD e o PS. “Mas neste momento, ainda é muito cedo para fazê-lo. O que vamos dizer à população é para colocar o PSD de um lado e o PS do outro. E dizer aquilo que os une e aquilo que os separa”.

Não aceitamos nem vencedores nem vencidos por antecipação

Mas neste contexto, Élvio Sousa faz um alerta para aquilo que, neste momento, já é possível identificar, em sua opinião: “Não aceitamos que existam vencedores e vencidos por antecipação. E o que vejo neste momento é que há dois presidentes do Governo Regional, um em exercício e em queda livre, e outro que ainda sem sufrágio já se auto-intitula, já se comporta e já exerce como presidente. Não é correto”.

Claro que Élvio Sousa fala de Albuquerque e Cafôfo, embora sem referir nomes durante a entrevista. Uma crítica à fragilidade que o atual presidente do Executivo evidencia,na opinião do secretário-geral do JPP, mas também uma crítica ao candidato socialista, denunciando aquilo que considera ser “uma confiança generalizada e exacerbada”. E por isso, põe os “pontos nos is”: “O JPP não faz aqui um papel de opção. O que o JPP vai fazer é mostrar o que é que une o PSD ao PS e quais as diferenças, apresentando o seu programa próprio à população”.

As pessoas querem castigar o PSD, o PSD está em alerta laranja

Olha para a realidade regional e em ano de eleições não tem dúvidas que “as pessoas querem castigar o PSD, não querem o PSD a governar. Houve falhas de governação em vários domínios, designadamente na Saúde e na Mobilidade, entre outros”. Afirma que, neste momento, “o PSD está em alerta máximo, diria mesmo em alerta laranja, pelo facto de haver um cenário de perda de maioria absoluta”. Foca uma preocupação, que tem a ver com a possibilidade de haver, a 22 de setembro, uma bipolarização, atendendo precisamente ao cenário de luta latente entre dois candidatos, no caso Miguel Albuquerque e Paulo Cafôfo. “Esse cenário pode acontecer”.