Ilha de Cultura

A Casa do Povo da Ilha organizou, excelentemente, – o que já vem sendo uma marca de referência constante nos seus eventos – entre os dias 25 de novembro e 02 de dezembro, a XXIV Semana Cultural da Ilha.

Esta edição teve como tema norteador, a seguinte premissa: “Património, caminho para impulso económico”, que veio de certa forma no âmbito do Ano Europeu do Património Cultural que estamos a comemorar este ano. Sobre este tema ”Ano Europeu do Património Cultural” escrevi, neste espaço de opinião, uma crónica, no passado mês de janeiro. Para os interessados, cá fica a hiperligação para o acesso: https://funchalnoticias.net/2018/01/02/2018-ano-europeu-do-patrimonio-cultural/.

Não tenhamos dúvidas que o património cultural poderá ser também um vetor a explorar como algo imprescindível para qualquer comunidade, visto que contribui e de que maneira, para a melhoria da economia local e regional. Por isso é que todo o património cultural deve ser encarado como um fator de inovação e criatividade, quando é capaz de envolver, verdadeiramente, organizações públicas e privadas.

Uma iniciativa cultural como esta, promovida na freguesia da Ilha, tem uma grande relevância para a vida da comunidade local e acima de tudo, o interesse em dar a conhecer as suas particularidades culturais (materiais, imateriais e ambientais) aos visitantes.

É um facto notável, detetarmos que ao logo destes vinte e quatro anos, esta iniciativa continua a ser uma bela montra de promoção da identidade e até de descentralização cultural, numa freguesia que tem sofrido, como sabemos, nos últimos anos, de uma acentuada diminuição de habitantes – 256 habitantes tendo por base os censos de 2011, mas atualmente a população da Ilha, deve andar na casa dos 170 a 180 habitantes. Mas realça-se que mesmo com a circunstância da população residente ser pouca, a semana cultural da Ilha, não deixa de realizar-se, como prova, diria eu, de uma caminhada cultural louvável e oxalá que continue, assim, dinâmica por muitos bons anos.

A semana cultural é um verdadeiro palco de análise e debate de temáticas socioculturais da atualidade, mas também, de valores, de crenças, de saberes e de tradições. Um local onde se estimula e enaltece a riquíssima cultura madeirense, nas mais variadas formas de expressão, de tempo e lugar. Pois,  “importa sim, que o passado constitua uma base para compreender melhor o presente e para lançar as bases do futuro.” (Guilherme de Oliveira Martins).

Tal como em anos anteriores, nesta edição, foi-nos apresentado um programa multifacetado, bem preenchido com diversas exposições, performances musicais, momentos de animação e teatro, para além de uma interessantíssima serie de debates temáticos de grande pertinência e atualidade.

Para os mais (des)atentos, importa saber, julgo eu,  que estas iniciativas de cariz cultural, têm uma grande importância para todos, pois podem contribuir perfeitamente para refletirmos a partir de que princípios culturais devemos construir (ou reconstruir) o espaço rural, como uma mais-valia para a sociedade em geral.

Há que realçar, também, com toda a humildade e reconhecimento, o distinto papel do apresentador do evento, Carlos Pereira (Nené), que tem demonstrado, profissionalmente, de forma criativa e ativa, há anos, um trabalho de excelência, na produção executiva, organização, protocolo, divulgação e apresentação de imensas iniciativas de carácter cultural e outras, efetivadas com sucesso, por toda a ilha da Madeira.

Durante uns anos orientei o Grupo de Teatro da Casas do Povo da Ilha e notei sempre uma grande felicidade e envolvência da comunidade local nos eventos culturais desenvolvidos naquela freguesia. Cá está a prova, que quando se consegue envolver a comunidade na vida cultural, o resultado, normalmente, é o sucesso. E para mim o sucesso não se limita, somente, aos números. O sucesso é também a durabilidade dos eventos, sempre com inovação, qualidade, presença ativa da comunidade envolvente, participação de pessoas e coletividades de fora, e a aplicação responsável dos apoios financeiros.

Projetos culturais como esta iniciativa valorizam a nossa identidade, de formas muito diversas e inovadoras, cruzando diferentes domínios de atuação e conhecimento de experiências de diversos agentes culturais e da cultura que nos envolve.

Foram, certamente, oito dias positivos, a incentivar o usufruto e o debate em torno da importância das questões culturais, desde a preservação, a valorização e a divulgação. Um excelente método de trocar experiências, de pensar e aprender culturalmente em conjunto. Por isso é que, cada vez mais, temos que olhar para o panorama cultural, como contributo para as mais diversas áreas da sociedade.

O património cultural pode ter, claramente, um papel contributivo e decisivo no combate ao abandono das áreas rurais, dando-lhe, pelo menos, um pouco mais de presença humana. Os resultados vêem-se, quando se aposta em salvaguardar e ativar alguns elementos patrimoniais, como foi o bom exemplo do moinho de água, situado na freguesia vizinha da ilha, em São Jorge. São muitos os turistas e madeirenses que passaram a visitar aquele moinho ao longo do ano, após a sua requalificação.

A cultura quando é encarada com interesse é um bom aliado da sociedade, porque convoca outras áreas do saber. E as pessoas residentes na Freguesia da Ilha têm acarinhado bem a sua semana cultural, realçando-se, acima de tudo “…as suas genuínas e vincadas tradições, a extensa e bela mancha paisagística, o amor da população à terra e a hospitalidade que carateriza as suas gentes” (António Trindade).

Este evento, Semana Cultural da Ilha, promovido pela Casa do Povo local, contou – como assim deve ser – com o apoio da Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, PRODERAM 2020, ADRAMA, Câmara Municipal de Santana; Junta de Freguesia e Paróquia da Ilha. Para finalizar, há que deixar um louvor à Ilha, que é um lugar prenhe de boas energias e potencialidades criadoras.