Teatro Municipal promete temporada bem recheada de acontecimentos culturais

A directora do Teatro Municipal Baltazar Dias, Sandra Nóbrega, recordou hoje, na apresentação da temporada artística daquela sala de espectáculos, a figura de Fernando Nascimento, “o nosso saudoso homem da cultura que esteve ao serviço deste Teatro, e o dirigiu com excelência durante 8 anos, ao deixar a sua missão, quis escrever uma mensagem no nosso livro de honra”. Essa mensagem era: “O homem não está apenas onde estão os seus pés, o homem existe também onde estão os seus sonhos”.

“24 anos depois, estas palavras continuam a inspirar aquilo que fazemos todos os dias para tornar este Teatro, no Teatro que esta cidade, o seu público e os seus artistas realmente merecem”, salientou a responsável.

Sandra Nóbrega disse, na cerimónia que contou também com a presença do edil funchalense, Paulo Cafôfo, que este ano ficou marcado pela discussão dos apoios à cultura e pela “teimosa precariedade que continuamos a vivenciar no sector cultural, sendo a área do Teatro a mais afectada”. Dizendo compreender o desânimo dos artistas, exortou-os no entanto a continuar e disse que na temporada artística que hoje se inicia apostar-se-á num trabalho de co-produção intensivo “que não se resume apenas ao apoio financeiro, mas ao partilhar equipas técnica, de produção e de comunicação, na criação de verdadeiras joint venture”.

Nesse sentido, o “Baltazar Dias” aposta Iremos participa em cinco co-produções. A primeira decorre já no final de Setembro, num trabalho com direcção artística de Filipe Luz, texto de Fernando Heitor, direcção musical de Norberto Cruz e  arranjos de Pedro Macedo Camacho, direcção vocal de Lidiane Dualibi e vídeo de Diana Serrão. O dito espectáculo de teatro musical intitula-se “Fado Tango”.

Outra co-produção é na área da dança, no mês de Maio, com o Grupo “Dançando com a Diferença”, numa parceria que permitirá trabalhar com 60 pessoas de bairros sociais durante dois meses, num trabalho artístico e de inclusão social que culminará com a apresentação do espectáculo “Endless”, criação de Henrique Amoedo.

O teatro apresenta também a Máquina Agradável, com o espectáculo Vala Comum, que realizará uma oficina de uma semana com estudantes do primeiro ano de Teatro, numa colaboração com o Conservatório da Madeira, e que resultará na apresentação de um espectáculo em que estes estudantes têm participação no elenco e no próprio processo criativo.

Outro dos espectáculos nesta linha programática, anunciou, será “A Morte no Teatro”, da produtora Má Criação, com o actor Marco Paiva. “Esta será uma estreia nacional da companhia no Teatro Baltazar Dias, em que novamente durante uma semana, teremos uma oficina para alunos de teatro e amadores de teatro, que serão seleccionados a integrar o elenco do espectáculo. O que se pretende é promover não apenas o acolhimento, mas experiências e intercâmbios culturais”.

2019 ficará marcado pelo último ano da Rede Eunice, uma parceria com o Teatro Nacional Dona Maria II que permitiu trazer ao Funchal espectáculos que estreiam na mesma temporada artística em Lisboa. “Neste ano iremos acolher o espectáculo Frei Luis de Sousa, que irá estrear em Lisboa, em Março, um trabalho com encenação de Miguel Loureiro com a participação de actores como João Grosso e Tónan Quito. Teremos ainda Á espera de Godot, uma encenação de David Pereira Bastos, a partir do texto de Samuel Beckett, e interpretação de Albano Jerónimo e Miguel Pereira. Por fim, teremos o espectáculo Quarto Minguante de Joana Bértholo com encenação de Álvaro Correia, com Cristina Carvalhal, José Neves, Paula Moura, entre outros”, anunciou Sandra Nóbrega.

O Teatro Municipal vai também apresentar três produções de raiz. No final da temporada, haverá um trabalho com a direcção artística de Élvio Camacho a partir do texto “A Pulga Atrás da Orelha” de Feydeau.

Outro espectáculo será “Vespa”, de Rui Horta, em Outubro, um solo interpretado pelo próprio que após 30 anos de ausência, regressa, assim, ao palco, e estreia-se pela primeira vez, na Madeira, no Teatro Baltazar Dias. Também em Outubro o Teatro acolhe Pedro Lamares para a Leitura integral da Ode Marítima, de Álvaro de Campos, “um momento intenso, de um dos grandes textos da poesia portuguesa”.

No domínio da música, a temporada começa com o concerto solidário de Marcin Dylla (dia 12 de Setembro), com o intuito de angariar fundos para a Associação de Paralisia Cerebral da Madeira. Rodrigo Leão também vem ao Baltazar Dias apresentar um concerto inserido as comemorações dos 25 anos de carreira do artista.

Regressa ainda ao Teatro Salvador Sobral e Júlio Resende com “Alexander Search”. “Alexander Search” é um grupo formado pelos dois, onde usam como músicas as poesias em inglês do heterónimo de Fernando Pessoa.

Haverá também um concerto de homenagem aos Irmãos Freitas, com o baixista madeirense Marino Freitas

Em Novembro exibe-se“Elas e o Jazz”, um espectáculo que junta as vozes de Marta Hugon, Mariana Norton e Joana Machado. Um concerto com três vozes distintas, que recriam o universo sempre actual dos musicais da Broadway e dos clubes de jazz de NY.

Estão ainda previstas as comemorações dos 100 anos do Orfeão Madeirense com a Orquestra Clássica da Madeira

Já no domínio da dança, será apresentada “VESPA”, uma performance de Rui Horta (que marca o regresso aos palcos como bailarino, 30 anos depois), e apresenta os elementos da natureza conjugados com o prazer da dança.

A “Dançando com a Diferença” apresenta o espectáculo “Endless”, e a Escola de Dança do Funchal apresentará, com a Quorum Ballet, “A Modern Perspective”, com coreografia de Daniel Cardoso e com os bailarinos Ana Beatriz Graterol, Ísis Magro de Sá e Filipe Narciso.

Por outro lado, a Vo’arte em co-produção com o Teatro Nacional São João e Teatro São Luíz traz ao teatro o espectáculo de dança “O Aqui: Este tempo do mundo…este tempo de nós…”, cujo tema é o tempo, “o tempo cronológico e o tempo interior, explorados através do cruzamento de linguagens, tecendo uma peça em que os sentidos e as emoções nos conduzem a um reequilíbrio constante. O Aqui pretende ser um lugar de paragem nas modelações e encenações que a sociedade produz, numa procura constante do humanismo saturado. Um espectáculo com uma narrativa por vezes fluida, por vezes fragmentada, onde se encontram mundos humanos com diferentes circunstâncias de ser e de estar, e se conquista um espaço de igualdade”.

No âmbito do Teatro, apresentar-se-á também “Um Conto de Natal” de Charles Dickens, uma produção da Associação Grupo de Amigos do Teatro – GATO e do Teatro Municipal Baltazar Dias.

“Mundo Distante” da Oficinas Teatro Lisboa com encenação de João Rosa e interpretação de Eduardo Frazão e Manuel Coelho. Cada criação é uma viagem por vários universos. Mundo Distante centra-se na reflexão, realça questões nos conflitos pessoais e geracionais, usando o desemprego, uma realidade factual e fracturante na sociedade actual, como pano de fundo, ou seja, observar a convivência de duas pessoas do mesmo sangue e seus antagonismos e cumplicidades. Esta narrativa centra-se na guerra entre gerações, de pai e filho, que uma economia em desequilíbrio pode gerar, e os segredos as mentiras que se escondem por trás das suas relações.

– “O Príncipezinho” do grupo Jangada Teatro, adopta a obra de Saint-Exupéry por base, apresentando para cada uma das personagens haverá uma música, elemento também distintivo de cada situação. “A plasticidade, a interpretação e a concepção musical, cada uma enriquecerá o espectáculo, mostrando que uma parte do jogo teatral é para a criança e outra para o adulto”, anuncia-se.

“A Pessoa de Fernando” de Momento – Artistas Independentes, com encenação de Diogo Freitas e interpretação de Daniel Silva, é outra proposta. Num contexto ficcional, Fernando Pessoa, bêbado, lê nos astros que nunca mais se deve envolver com Ophélia. Nunca mais a deve ver. Nunca mais lhe deve escrever. Porém, este vê-se decidido a enviar uma última carta – tarefa que não está a conseguir realizar. Perturbado pelo descontrolo, o seu desassossego é humanizado, colocando em palavras os seus próprios pensamentos. Eis que, os seus heterónimos invadem, como paródias de eles mesmos, com o intuito de ajudar Pessoa a cumprir esta última tarefa.

A Câmara Municipal do Funchal, através do Teatro, irá co-produzir e continuar a apoiar vários festivais, entre os quais o Madeira Piano Fest, Madeira Film Festival, Festival Carlos Varela, Festival de Cinema Italiano, Festival Termómetro, Festival Literário da Madeira e Festival Internacional de bandolins. O regresso das Jornadas do Teatro e o Encontro de Cultura Acessível são apostas que transitam da temporada passada, refere um comunicado de imprensa.

Prosseguem ainda o projeto educativo Baltazar Júnior e as Conferências do Teatro: Madeira de A a Z.

No campo editorial, e no sentido de “valorizar e divulgar a nossa identidade cultural, iremos ter a edição do II volume da Colecção Baltazar Dias que se debruçará sobre Eugénia Rego Pereira. E o lançamento do livro dos 130 anos do Teatro Municipal Baltazar Dias”, anunciou ainda Sandra Nóbrega.