Funchal Folk: quando o sonho conhece o empenho e o engenho

Todos nós temos momentos da nossa história pessoal dos quais nos orgulhamos imenso. É sobre alguns desses momentos que vou escrever hoje. O meu artigo de hoje é sobre a incrível capacidade humana de sonhar e principalmente a árdua, mas gratificante tarefa de realizar esses sonhos.

Há uns anos atrás, tive o prazer de participar numa reunião com diversas pessoas que ficarão claramente na história da freguesia do Monte! Nessa reunião discutia-se a criação da Gala Internacional de Etnografia e Folclore Manuel Ferreira Pio que começou por se realizar no Largo da Fonte na noite de 14 para 15 de Agosto, noite de Arraial do Monte. O impacto dessa organização foi desde logo evidente. A tendência, que era cada vez mais notória, de perda de afluência no Arraial do Monte foi desde logo invertida e a freguesia passou a contar com um cartaz cultural de enorme qualidade.

Como este texto é também sobre pessoas, porque histórias de sucesso escrevem-se pelas mãos de pessoas inspiradoras, deixem-me que destaque das presenças dessa reunião três pessoas: Nuno Mendonça, Alexandre Rodrigues e o meu pai, Duarte Pereira. Sobre o meu pai, estou cada vez mais convencido que a história se encarregará de lhe reconhecer o mérito e empenho que sempre teve na defesa da sua freguesia e no esforço incansável, dentro e fora da política, para que mais e melhor se fizesse no Monte. Apesar de estarmos em fileiras políticas diferentes e de termos diferentes visões políticas, inclusive sobre gestão autárquica, não me vedo a reconhecer o seu esforço em enfrentar e levar a bom porto o mais difícil mandato autárquico da freguesia de sempre. Já o Alexandre é o homem que ficará para sempre ligado ao fantástico renascimento da etnografia na freguesia e ao excelente trabalho de recolha histórica e etnográfica que o Grupo de Folclore MonteVerde tem realizado nos últimos anos. Trabalho esse que tem permitido recuperar grande parte do nosso património imaterial. Por fim, o Nuno por ser o homem do sonho, mas também o homem que colocou todo o engenho necessário a trabalhar em conjunto para que este projecto se tornasse real e tivesse crescido para o que hoje todos já conhecemos!

Depois desses primeiros anos da organização e depois do evidente sucesso no cumprimento dos objectivos para os quais a Gala também tinha sido criada apareceram os primeiros grandes desafios políticamente criados, que nem mereciam aqui discussão a não ser por serem um brilhante exemplo de transformação de adversidades em oportunidades! Aqueles momentos que transformam para sempre o sucesso de um projecto se forem devidamente compreendidos e aproveitados! Em 2014, era evidente para nós que não nos deixariam continuar com a Gala nos moldes como esta tinha sido criada. Nesse momento marcante para o evento, o sonho e audácia do Nuno Mendonça foi crucial para aproveitarmos essa mudança para darmos um passo em frente em termos de qualidade organizacional e termos estabelecido o objectivo de sermos o primeiro festival com insígnias CIOFF da Madeira. Nem todas as pessoas têm a capacidade de pegar num momento de grande incerteza e tristeza e transforma-lo num momento de enorme desafio pessoal para cada um de nós que trabalhamos nesse projecto. Esse momento, estou certo, marcará nos próximos anos a oferta cultural e etnográfica da Madeira e deveria merecer uma atenção especial de quem gere a Madeira enquanto destino turístico.

Na passada sexta-feira, estava na Praça do Povo com uma nova, mas muito nobre função, a função de espectador. De fora confirmei o potencial turístico deste evento, potencial esse que sempre acreditei existir. Esta Gala, que teve agora um rebranding para Funchal Folk, é sim um cartaz cultural para todos nós Madeirenses, que podemos assim contactar com outras culturas e outras etnografias, mas é também, sem dúvida, um forte cartaz de animação turística que satisfaz, e de que maneira, os nossos visitantes.

No próximo ano, ficará concluída a última avaliação do CIOFF e nesse momento a Madeira passará seguramente  a contar com o seu primeiro grande festival internacional reconhecido por uma organização UNESCO. Comigo seguirá a honra, o prazer e o inigualável orgulho de ter feito também parte desta história e mesmo sem ter conseguido dar o mesmo contributo nos últimos dois anos que em anos anteriores seguirei sempre a sentir este evento com um carinho muito especial! Citando a Apple num dos seus mais famosos anúncios publicitários “as pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, são as que o fazem”.

 

Nota:

O autor deste texto escreve segundo o antigo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.