Para o fim da pena de morte em todos os países

1.O Papa Francisco reconheceu ser possível uma evolução importante na doutrina do «Catecismo da Igreja Católica», a abolição da referência à pena de morte. O Papa defende: «que se favoreça uma mentalidade que reconhece a dignidade de cada vida humana e se criem as condições que permitam eliminar hoje a instituição jurídica da pena de morte onde ainda esteja em vigor». Melhor é impossível. E seria uma grave vergonha que a defesa da pena capital ainda fizesse parte da doutrina da Igreja Católica. Basta pensar no Evangelho que nunca condenada ninguém e ensina que para todos os males há sempre uma possibilidade de salvação e de inclusão.

Por aqui tudo certo e bem-vinda esta novidade, que por sinal, é pacífica dentro e fora da Igreja. Seria interessante, que outros sinais evolutivos na doutrina, o Papa Francisco os acelerassem, por exemplo, no campo das línguas na litúrgica, a participação feminina e a formação do clero.

2.No que diz respeito ao uso das línguas de cada país na vida da Liturgia da Igreja, o Concilio Vaticano II, tinha dado um passo de gigante. Mas, particularmente nos últimos anos anteriores ao Papa Francisco foram anos de algum retrocesso neste domínio. Foram imensas as tentativas para restaurar o Latim como única língua a ser usada na Liturgia.

Só no ano passado o Papa Francisco tomou o assunto a sério e reiniciou um processo que não pode ir para trás, abrindo assim a porta para a ousadia da hermenêutica, que se deve submeter aos ventos culturais da história e não a factores de uma pessoa ou de um grupo. Esperemos que a inteligência não falte no caminho da Igreja e que nenhuma contingência faça recuar a acção sempre nova do Espírito Santo no campo da Liturgia e em toda a sua pastoral.

3.Provavelmente, a abertura para a entrada das mulheres no governo da Igreja, seja o assunto mais sério e aquele que vai requerer uma coragem do tamanho do mundo e do céu. É o que levanta maior polémica. Ainda são muitos os homens eclesiásticos que não querem e não desejam que as mulheres se aproximem do governo da Igreja e muito menos que venham a tomar parte na estrutura hierárquica da Igreja Católica e presidam à vida litúrgica.

Neste campo há uma abertura do Papa Francisco, que tem nomeado mulheres para cargos importantes na máquina do Vaticano. Este processo começou, será progressivo e irreversível. Os nossos tempos valorizam a dignidade e não a honra, por isso, estou em crer que a Igreja Católica firmemente preocupada com a dignidade das pessoas, não poderá, explicar à sociedade aberta de hoje, que «pode» marginalizar e desconsiderar a autoridade feminina. A Igreja Católica, se teimar manter a sua crença na «sociedade da honra» contra uma «sociedade da dignidade», caminhará para a descredibilização cada vez mais acentuada e mais seriamente se tornará irrelevância na sociedade dos nossos dias, que valoriza cada vez mais o papel feminino como imprescindível na sua organização social. Num avanço significativo da doutrina, ligado ao Sacramento da Ordem, o Diaconado será o primeiro passo relevante para as mulheres. Não duvido que não faltará essa coragem. Porque a acção de Deus vai sobrepor-se à vontade interesseira da humanidade.

4.A formação do clero. Os seminários definham. Vários factores contribuem para esta morte. Eis algumas: as denúncias sobre pedofila e abusos sexuais, a obrigatoriedade e massificação do ensino, o desinteresse dos jovens pelo caminho do sacerdócio, o conservadorismo que os seminários propagaram e incentivaram, a não abertura ao mundo e o desenraizamento das famílias. Estes elementos entre tantos outros, levaram à morte dos seminários e, por sinal, as alternativas ao seu definhamento não parece que se vislumbre em qualquer horizonte.

Neste campo era necessário inventa uma linguagem nova, deixar de diabolizar o mundo e deixar espaço para que as várias manifestações culturais entrem no pensamento do clero e alimentem a pregação. Nada de novo neste aspecto, até porque, o Concílio Vaticano II, já tinha apontado o caminho do diálogo aberto com as culturas, a confiança no mundo e na vida concreta dos homens e mulheres de cada tempo.

O fim da «defesa» da pena capital no Catecismo da Igreja Católica, ganha uma dimensão simbólica muito relevante no que diz respeito à purificação da tradição, mas outros aspectos da tradição há que merecem um cuidado aturado e ousadia confiante para que credibiliza a Igreja e apresente ao mundo desprovida de qualquer elemento que suscite desconfiança noq eu diz respeito à forma como lida com a dignidade humana.

Os ventos do tempo e do modo não param, mas Deus exige que não estejamos a dormir permanente.