Estepilha! Socialistas mudam de líder com ego inflamado para o alter ego de Cafôfo

Ilustração de José Alves.

Os socialistas madeirenses vão  consagrar hoje, na sua liderança, Emanuel Câmara. Mas o Estepilha lembra a navegação: o autarca do Porto Moniz resume-se ao alter ego de Paulo Cafôfo. Daqui resulta que, quando Emanuel Câmara falar às emoções dos congressistas e ao povo em geral, é Cafôfo quem verdadeiramente  fala ao coração dos militantes, num fenómeno que nem Freud previu na sua psicanálise de vanguarda.

Logo, ninguém se surpreende com as bocas que circulam nos corredores do Congresso: os socialistas varreram de cena um líder com um ego inflamado – afinal, não basta ser bom tecnicamente – e colocam no poder um alter ego (o outro “eu”) de Paulo Cafôfo. É complicado? Não. Eles chamam-lhe estratégia política adequada ao momento. A ética, que não existe em política e até parece estar fora de moda, chama-lhe embuste.

Por isso, o Estepilha não se espanta quando surge em cena um terceiro, de seu nome João Pedro Vieira, a defender a moção do líder. Quem dá a cara pelas ideias é um, mas a alma é de outro. E assim sucessivamente. Está na moda… Também não surpreenderá que os cavalheiros e as damas que, fervorosamente, ladearam Carlos Pereira, façam agora o jogo do trapézio e se colem de alma e coração ao alter ego de Cafôfo, na lógica da tal agenda da união do partido ou, falando a verdade, na agenda do tacho. O PS anda nisto há décadas… Eles e elas a surfar na onda do momento, a ver se chegam ao mais alto estádio do poder, pela mão de um messias qualquer.

Portanto, o Estepilha gosta de falar claro: os madeirenses hoje assistem  à ascensão do não militante Paulo Cafôfo à liderança de um partido, na pessoa de Emanuel Câmara,  que agora passa a ser formalmente  telecomandado por Paulo Cafôfo. E todos se habituam a estes caprichos da política porque o objetivo é “Quinta Vigia 2019”. Quem se escandaliza com tamanho ardil, faz a cambalhota a ver se joga nos tabuleiros do verdadeiro vencedor.

O que faz o PSD perante este cenário? Se Cafôfo já se torna omnipotente, em alma e presença, nestas coisas da política, a verdade é  que o maior opositor de Cafôfo continua a falar de Cafôfo, numa publicidade gratuita que ainda mais o projeta. Mas não só. Os madeirenses, ao longo de quase 40 anos, ficaram doutorados em matéria de alter ego na política. Por exemplo, até para eleger a banda de música da paróquia, o candidato era Alberto João Jardim e não o nome que lá constava. E assim se perpetuaram lideranças e estilos bem vincados no poder, até à náusea.

O que fazem os madeirenses, não os doutos, mas o povo que elege ou faz sucumbir candidatos? Assiste, como habitual, impávido e indiferente aos jogos de poder, acordado do seu longo sono quando lhe mexem nos bolsos ou na saúde. Sempre foi assim e o Estepilha não se espanta com a ligeireza com que os sorrisos suplantem as ideias e as soluções concretas para os reais problemas da Madeira. No fundo, todos são bons rapazes, mas o que vence é aquele que souber criar a ilusão que está mais junto da alma do genuíno madeirense.