Santa Cruz é um concelho cheio de lixo e mato, Câmara descurou o básico e o JPP é um partido só e cheio de fel”

Roquelino AA
Não vou prometer mundos e fundos porque não me parece correto e estamos todos fartos disso”. Fotos DR

Santa Cruz é um dos problemas para o PSD-Madeira. Perdeu a Câmara há quatro anos, no âmbito de uma hecatombe eleitoral nunca antes vista, estendendo essa realidade a vários concelhos e passando para o lado incómodo de ser oposição onde habitualmente era poder. Nada fácil. Para mais, perdendo posição para um movimento de cidadãos, Juntos Pelo Povo, que mereceu a confiança do eleitorado para este mandato. Recuperar o lugar, para o PSD-M, é o objetivo, mas sabe que, para isso, é preciso primeiro convencer o eleitorado que os números apresentados pelo JPP não são o que se diz, depois que o passado social-democrata não é para repetir. Uma missão hercúlea.

Candidatos não envolvidos em gestões anteriores

Roquelino Ornelas, jornalista, é a escolha da liderança social democrata de Albuquerque para tentar retirar a Câmara a Filipe Sousa, numa lógica de sensibilizar a população que, afinal, a aposta em movimentos já não marca a diferença, uma vez que o JPP passou a partido. Roquelino tem um grande trabalho pela frente. Já vem sabendo, há algum tempo, o que isso é. E contrariando aquilo que alguns pensam: “Onde se foi meter…”. O candidato responde :“Claro que sei onde me vou meter”.

Roquelino BB
“É bom que se refira que a candidatura que encabeço é do PSD mas nenhum dos candidatos esteve envolvido em qualquer gestão anterior”. Foto DR

É cauteloso na forma como expõe esta candidatura social-democrata. Não tem nada a ver com a atual gestão camarária do JPP, mas também não quer ter nada a ver com a anterior, como se sabe do PSD. Faz questão de colocar isto em “pratos limpos”, como popularmente se diz. Para não deixar dúvidas que o discurso “laranja”, em Santa Cruz, é como se começasse de novo. É melhor assim.

Encarar o futuro de frente e não virados para o passado

É claro quando afirma: “É bom que se refira que a candidatura que encabeço é do PSD mas nenhum dos candidatos esteve envolvido em qualquer gestão anterior. Propomo-nos desenvolver um atitude política diferente, firme mas dialogante e para nós o passado é tudo o que está para trás de ontem. A forma de gerir do PSD e a forma de gerir do JPP é tudo passado para este conjunto de candidatos. Queremos dar uma vida nova a Santa Cruz, encarar o futuro de frente e não virados para o passado”.

Reforça o seu posicionamento estratégico de demarcação do passado quando diz que até à data “temos sido bem recebidos pelas pessoas que contactamos que se queixam de erros do passado, no geral, e, queixam-se muito, do desleixo em que se encontra o concelho, com críticas severas também à atual maioria. E o JPP sabe disso”.

Não é possível saldar em 3 anos uma dívida que terminava em 2034

Roquelino CC
“Temos sido bem recebidos pelas pessoas que contactamos que se queixam de erros do passado, no geral, e, queixam-se muito, do desleixo em que se encontra o concelho,

Quando vem à conversa os números, diz que “na qualidade de munícipe e como candidato ficaria muito satisfeito se a realidade financeira da Câmara correspondesse ao que é propagandeado”, mas logo passa para o campo das dúvidas ao referir que “não é preciso ser grande entendido em finanças para se perceber que é impossível obter em 3 anos os resultados que se apregoam ( de ter saldado uma dívida que só terminava em 2034), é um perfeito disparate fazer isto e dizer isto quando temos um concelho cheio de lixo e mato por todo o lado, faltas enormes e necessidades ao nível da missão elementar da autarquia.”.

Fala em “engenharias financeiras”, diz saber que existem e que a atual gestão camarária está “a empurrar parte da dívida para a frente, à qual acrescerão encargos muito elevados, previstos até pelos serviços financeiros da própria autarquia”.

Não nega que houve algum trabalho, mas afirma que “foi um verdadeiro fracasso a forma como se geriu o município neste último mandato. Também na vida das pessoas todos sabemos que mesmo quando estamos insolventes é preciso prover necessidades básicas. O básico, foi descurado nos últimos anos”.

Há um ódio visceral do JPP ao PSD

O clima de tensão não ajuda à normalização da dialética política. Sendo um homem que não vai falar do passado nem atacar concorrentes, como concilia isso com um posicionamento que assenta mais na resposta e na crítica à gestão anterior do PSD, utilizado pelo JPP?

Roquelino Ornelas reconhece que não é tarefa fácil porque “há um ódio visceral do JPP ao PSD. Estranho, mas é assim mesmo. Repare que qualquer reação, mesmo por questões corriqueiras dão origem a réplicas carregadas de adjetivos, insinuações, em suma expressam uma violência desequilibrada. Julgo que pretendem inibir ou calar os outros. Não lhes fica bem mas cada um adota os modelos e estilos que mais gosta”.

A política é a arte do possível mas não é do vale tudo

Enquanto candidato, aponta uma outra postura: “Não esperem que ande a responder a tudo e a nada”. Mas logo deixa uma porta aberta para os casos em que “todos somos de carne e osso”. Admite “ceder à tentação e uma vez ou outra responder na mesma moeda. Nestas coisas da politica e da vida não há anjos e diabos”.

Aponta a sua orientação no sentido daquilo que, em sua opinião, conta: o futuro. “Não quero remoer o passado de ninguém e entendo que a política sendo a arte do possível não é concerteza a prática do vale tudo até arrancar olhos e, se tiver de ser, vamos recordar em rol, todas as obras que foram feitas nos mandatos do PSD. Porque, repito, fez-se dívida mas fez-se igualmente muito investimento. Quanto a atitudes menos conforme com a lei e os costumes, digamos, recorde-se que foram sancionados por quem de direito. Pela justiça quando teve de ser e pelo eleitorado que deixou de dar o voto quando achou que o devia fazer”.
Faz referência, num aparente despertar do eleitorado, ao facto de o JPP ter começado com uma forma e está com outra: “O JPP começou por ser um movimento idealista que congregou esperança e a adesão de varias forças políticas. Por via disso teve maioria em 2013. Os parceiros cedo se afastaram ou foram afastados. Hoje, é um partido, só e cheio de fel”.

Povo dará maioria a quem tiver que ser

O número de candidaturas, já vão em nove, pode resultar numa dispersão de votos e onde praticamente não existirão beneficiados. Este cenário é bom ou mau para o PSD? O candidato social democrata reconhece que “são muitas”, mas também deixa claro que esta realidade “é uma prova de vitalidade democrática”. Logo, “são candidaturas válidas, todas cheias de boas vontades. Lembra que, para estas eleições, “podem concorrer partidos, coligações e movimentos de cidadãos. Para ganhar as eleições é preciso obter maioria. Um voto faz a diferença. O povo é sábio e vai escolher em consciência e dará a maioria a quem tiver de ser”.

Não está nos meus planos prometer “mundos e fundos”

A estratégia do PSD para Santa Cruz, diz o candidato, passa por “ouvir para elaborar o melhor programa, aquele que melhor sirva a população”, mas deixa bem clara uma salvaguarda para a realidade financeira. A realidade mesmo, a que vai ficar registada nos papéis. E essa realidade financeira do município, sublinha, “só se conhecerá quando forem apresentadas contas no final do corrente ano”.
Não está nos planos de Roquelino Ornelas “prometer mundos e fundos porque não me parece correto e estamos todos fartos disso…apesar de encontrar muita gente que quer ouvir esse tipo de discurso. Uma coisa é certa, todos os anos se faz um orçamento que é uma previsão de despesas e receitas e um plano de investimentos. Se formos eleitos fá-lo-emos com o pensamento virado para a necessidade de melhorar a qualidade de vida e o bem estar de todos os residentes no concelho e também daqueles que nos visitam.”

O nosso manifesto será um conjunto viável de propostas

O candidato recorda, para os menos atentos, que “Santa Cruz é o segundo maior concelho da Madeira, o segundo em turismo, o segundo mais jovem e também o segundo com taxas mais baixas de envelhecimento e isso tem de ser contemplado nas políticas que se programam.
Como disse não me preparo para promessas demagógicas. O nosso manifesto será assim um conjunto viável de propostas, feito a partir das auscultações com as bases em clima de diálogo com todos que é a marca desta candidatura. Acreditamos ter a melhor equipa e sobretudo espírito de equipa”.

Recolocar Santa Cruz no mapa do desenvolvimento e do progresso

Mudar Santa Cruz, por forma a contrariar a tendência de dormitório, de que o Caniço é o expoente máximo, parece ser uma tarefa complexa, exigindo medidas de fundo que não resultam em dias ou meses. O candidato “laranja” defende para Santa Cruz, que é um concelho “com história, cultura e potencialidades únicas de desenvolvimento, uma posição “mais harmonioso em toda a linha desde o litoral mais urbano e turístico às zonas altas, mais rurais e com problemas específicos que têm de ser atalhados sem demagogias.
A proximidade do Funchal dá a algumas centralidades do Caniço e de Gaula essa nota de zonas dormitório. O problema não é tão acentuado hoje. Mas é preciso criar mais e melhores soluções para promover bem estar a quem vive e a quem nos visita.
Neste momento a candidatura à câmara está a preparar com as candidaturas à junta o programa de ação pelo qual nos vamos orientar no próximo mandato autárquico em Santa Cruz. Estamos certos que vamos conseguir pôr Santa Cruz de novo no mapa do desenvolvimento e do progresso”.

As pessoas que me conhecem melhor, acham que faço bem

Embora com ligações ao PSD-Madeira, em termos de cargos autárquicos será esta primeira vez, nesta dimensão, que se candidata a uma Câmara. Pensou bem onde se vai meter? Esta questão não deixa o candidato desconfortável e nem pensa muito: “Claro que pensei onde me vou meter. Já respondi algumas vezes a essa pergunta. É engraçado no entanto que as pessoas que me conhecem melhor, familiares e amigos, acham que faço bem e acreditam que sou capaz de fazer positivo”.
Volta atrás no tempo para falar que a ligação ao PSD começou na Juventude Social Democrata, “onde cheguei a ser dirigente. Depois entendi que me deveria dedicar apenas à profissão e tenho muito orgulho no trabalho que fiz durante 33 anos de jornalismo de serviço publico. Foi uma carreira que por coincidência acompanha a fase de implantação do regime autonómico e igualmente do poder local democrático”.