Crónica Urbana: Funchal Notícias, os “enjeitados” do jornalismo regional

Rui Marote

Existimos desde de 2 de Fevereiro de 2015 e contabilizamos já para cima de 16 milhões de visualizações, num espaço de dois anos e quatro meses. Um projecto jornalístico digital que se destina a informar com rigor, seriedade e objectividade os cidadãos que vivem no arquipélago da Madeira que tem uma grande aceitação na diáspora portuguesa espalhada nos quatro cantos do mundo, sobre os mais diversos temas da actualidade noticiosa. O principal compromisso do Funchal Noticias é unicamente e exclusivamente com a verdade noticiosa, o debate plural de ideias e o respeito pela interactividade com os leitores.

É um projecto jornalístico fundado e dirigido por jornalistas, alguns com mais de 40 anos de profissão. Nasceu numa altura que os jornais diários desta terra emagreceram os seus quadros, colocando no desemprego profissionais que abraçavam esta profissão e fizeram história no desempenho da sua missão. Fomos e somos o primeiro jornal digital existente na RAM; começámos do zero, sem ajudas governamentais ou empresariais, a expensas próprias, tirando alguns do magro subsídio de desemprego, para contribuir com quotizações para registar o título com o nome de “Letras de Coragem Lda” pessoa colectiva Nº513668209 e registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social sob o numero : 126704.

O nosso segundo passo era ter uma sede  o que é obrigatório por lei; os fundadores mais uma vez desembolsaram a renda de uma sala no centro do Funchal. Necessitávamos de cadeiras e mesas para trabalhar e reunirmo-nos; alguém nos doou em segunda mão essas peças de mobiliário. Depois veio a Internet, o telefone e uma televisão que alguém trouxe de casa. Tivemos depois o nosso primeiro anúncio publicitário, que contribuiu para o arrendamento do imóvel.Somos a única plataforma digital que utiliza o maior numero de ferramentas gratuitas online tais como: WordPress.com, Youtube, Flickr, Issuu, Vimeo, Periscope Tv, PodoMatic e redes sociais como Google+, Facebook, Twitter, Path, Tumblr, Pinterest, Linkedin, VK, Instagram, Ameba, Swarm, de modo a permitir uma utilização gratuita e fácil aos leitores. A equipa de jornalistas e colaboradores orienta-se pelas normas em vigor no Estado de Direito português, nomeadamente pelo respeito pela Liberdade de Imprensa, conforme estipulado na Constituição da República Portuguesa, e nos Estatutos do Jornalista e Código Deontológico.

Acabámos por conseguir colocar dois jornalistas que estavam no desemprego, contratados com todos os direitos existentes na lei do trabalho.
E assim fomos resistindo e carregando a Cruz da Vitória. As pressões, as invejas, os maus olhados, de tudo têm feito para que nada desse certo.
Mas é nesta fé que o projecto Funchal Noticias segue em frente.

O que me faz escrever esta “crónica urbana” e lançar este alerta é o debate que assisti ontem na Assembleia Regional, subordinado ao tema da Comunicação Social. O mesmo não foi mais do que tapar o sol com a peneira. Quando os deputados aprovaram a portaria MEDIARAM que regula os apoios oficiais à comunicação social, há um ano atrás, estavam “cegos” para ver que isto era um fato à medida de alguns. Mas só é cego aquele que não quer ver, e hoje  a portaria MEDIARAM não é suficientemente equitativa e não proporciona igualdade de oportunidades às novas empresas de informação que apostam no digital, porque não lhes oferece os apoios necessários para que possam crescer e evoluir, transformando-se em empresas mais fortes e capazes de dar emprego a mais jornalistas.

O presidente do Governo Regional, no entanto, persiste em não aceitar esta perspectiva, considerando  que a MEDIARAM é para apoiar órgãos de comunicação social com pelo menos quatro jornalistas a tempo inteiro e que, sendo assim, não se vai desbaratar apoios públicos em empresas que “podem abrir para depois fechar”.
O Governo pode estar descansado, que o Funchal Notícias,que ficou de fora da portaria MEDIARAM dos apoios – o que nos poderia ser concedido era de tal forma uma quantia ridiculamente pequena que nem valia a pena candidatarmo-nos – não deve um cêntimo à segurança social, às finanças ou a outrém.

Se fechássemos hoje, podíamos ir para casa de cara levantada e com a sensação de missão cumprida. Mas o debate não foi só espinhos: fez-me lembrar o episódio da rainha Santa Isabel: O que levas no regaço? São rosas…  O presidente do Governo Regional da Madeira mostrou-se disposto, perante o parlamento, a discutir uma proposta de decreto que regule a atribuição de publicidade institucional aos órgãos de comunicação social madeirenses. Nós, uma microempresa que ambiciona apenas ter as ajudas suficientes para crescer e se tornar autónoma, continuaremos a aguardar como os “carmelitas descalços” que caiam algumas migalhas de apoios oficiais na nossa malga, para podermos continuar a informar condignamente os madeirenses. Até lá vamos prolongar o nossa penitência. Que assim seja.