É, ou não é?!

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No rescaldo do último congresso do PSD/M, em que o actual líder desafiou os críticos que se escondem no anonimato a darem a cara, o antigo chefe todo poderoso, o auto-intitulado “único importante” sentiu necessidade de divulgar a sua posição sobre o aludido conclave partidário. Fê-lo, sobretudo pelo que se percebeu, para “repudiar as insinuações de uns canalhas” que em pleno congresso lhe “atribuíram a responsabilidade por uma publicação informática anónima “, que acrescente-se dá pelo nome de “renovadinhos”.

Publicação essa que fez a sua aparição nas redes sociais, numa data cheia de significado para os crentes, nada menos nada mais, do que a 13 de Maio de 2015, isto é, pouco mais de mês e meio após as últimas eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira, realizadas em 29 de Março desse ano, que ditaram a saída de cena político-partidária do dito cujo.

Uma publicação que, desde então, não tem parado de se insurgir contra tudo e todos, muito na linha do que era a prática corrente do septuagenário que ultrapassou em longevidade no poder o ditador Salazar.

Publicação essa que, inicialmente, em 2015, não tinha periodicidade definida, mas que, a partir do ano seguinte, e também no ano em curso, se vem caracterizando pela divulgação diária de novos textos. Ao ponto de, nem em dias de festa assinaláveis, deixar de se publicar.

E foi assim que, no passado dia 25 de Dezembro, um domingo, o tal “renovadinhos” fez publicar um pequeno texto onde se atira, calcule lá o leitor, ao “cunhado do «gilinho»”, isto é, a Luís Filipe Malheiro (LFM), cunhado de Gil Canha. O pretexto foi a publicação num semanário nacional de uma entrevista a Miguel Albuquerque, presidente do governo regional, conduzida exactamente por LFM que, pelos vistos, está de regresso à actividade jornalística, agora para liderar a edição Madeira da referida publicação.

Ora, no já mencionado texto, o autor ou autores, a dado passo questiona, referindo-se a LFM, “será que estamos perante mais um vira-casacas «renovadinho» à beira dos sessenta anos?”. O suficiente para que LFM, igualmente em pleno dia de Natal, tivesse respondido no seu blog “ultraperiferias” na mesma moeda, pior ainda, com um texto intitulado “Boas festas à corja de FDP do costume”. É verdade, o título diz tudo. Nem o facto de ser dia de Natal fez refrear a linguagem que fala por si. Atende-se nalgumas citações: “Boas festas a esta corja de bandalhos ressabiados, derrotados, tenham eles ou não tremedeiras e outras maleitas que só nos fazem sentir pena deles” (…) “Boas festas quer aos que escrevem essas merdas quer aos filhos da puta que são os seus mentores” (…) “ não se escondam sob a capa de um patético anonimato que não engana ninguém e só vos envergonha”.

Dois dias depois, e na sequência de comentários de José Manuel Coelho e da filha Raquel Coelho, LFM voltou ao assunto e a páginas tantas afirma não saber concretamente quem são os mentores e autores do blog visado pelos seus comentários, adianta ter as suas ideias que “em nada apontam para o que parece ser a verdade instituída” afirmando haver “situações concretas que fazem com que não ache que Alberto João Jardim seja o autor do referido blog, ao contrário do que as pessoas sustentam”. E remata: “o contrário seria uma tremenda desilusão para mim”.

Ou seja, LFM não acha que o dito cujo seja o autor. Mas, também não nega peremptoriamente que possa ser. Admite até que há uma “verdade instituída”, que há pessoas que a “sustentam”. Isto é, ele sabe o que muita gente pensa sobre o assunto. Inclusive no seio do seu (dele também) próprio partido. O que equivale a dizer que não foi por acaso que o assunto foi abordado no já referido congresso.

Mas, a dúvida que não a certeza de LFM é profundamente elucidativa da desconfiança reinante nas hostes da agremiação sediada na Rua dos Netos, desconfiança que se estende à própria governação regional. Uma dúvida que não é suscitada por qualquer um. Mas até por gente com responsabilidades antigas ou actuais no seio do próprio partido, como é o seu caso.

Uma dúvida que é simultaneamente um incómodo. Porque, sendo certo que o aludido blog dispara em todas as direcções, um dos seus alvos predilectos é, sem dúvida alguma, a proclamada “renovação” de que se reclama Miguel Albuquerque e Cª Lda.

Uma dúvida que, saliente-se, não surge por mero acaso. Basta ler atentamente o estilo, a linguagem, a adjectivação, para no mínimo ficar a dúvida. É verdade que, volta e meia, também são objecto de crítica pessoas que supostamente não deveriam fazer parte da lista de alvos a abater, nomeadamente alguns empresários sempre tão cortejados e protegidos pelo polvo laranja, mas os bons ensinamentos das técnicas de propaganda e contra-propaganda ensinam também que há que saber despistar, lançar a confusão, espalhar a incerteza. Tudo, portanto, explicado.

Mas há também naturalmente coincidências. Em momento algum, dos muitos textos do blog que li de propósito, se encontra uma qualquer referência crítica ao longo consulado do que o dito cujo designou como “Madeira Nova”, antes pelo contrário. Aliás, sempre que pode ser oportuno, lá vem um elogio, como, por exemplo, quando se salienta que a redução do desemprego na RAM se fica a dever a obras adjudicadas no seu tempo de governação.

E se compararmos com os textos que a criatura publica no seu Facebook há um traço comum: quer num lado, quer no outro se antevê que vem aí o apocalipse e em matéria partidária, o caos, em resultado da “purga” protagonizada pela nova liderança. E, claro, a distinção entre as escolhas que foram suas (de alto gabarito) e as de agora, uma desgraça completa. Como se a bitola não fosse de idêntica natureza. Como se os protagonistas não tivessem todos integrado a tal “máfia no bom sentido”.

Em todo o caso, e tendo em conta tudo o que caracterizava e caracteriza a personagem, convenhamos que não deve ser nada agradável ouvir “mangas-de-alpaca” classificar de “cultura de irresponsabilidade” os seus tempos áureos. Ao fim e ao cabo, sinais de que, quando o navio mete água, os ratos saltam todos. Como dizia o outro, é a vida!.

Só não percebo que, quem nos habituou a interpor processos em Tribunal contra tudo e todos, ainda não tenha avançado com um para acabar com a suspeição em torno da autoria do blog que tanto vem agitando as hostes laranja. Enfim, dantes era mais fácil, pagavam os contribuintes, mas caramba… Também não deve custar nenhum balúrdio.

Quanto ao mais há sempre uma solução. Que tal ir trauteando a canção: “Ò tempo volta para trás. Dá-me tudo o que eu perdi. Tem pena e dá-me a vida. A vida que eu já vivi”.

·         Por opção, o presente texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia.