Crónica Urbana: Uma praça onde o povo não se respeita

(Foto Rui Marote)
(Foto Rui Marote)

* Rui Marote (texto e fotos)

Isto do Povo tem que se lhe diga, a ver pela forma como se está a tratar a novel praça que lhe deveria prestar homenagem.
Infelizmente, essa massa anónima popular é geralmente mais rápida a apontar defeitos, do que a assumir atitudes e comportamentos de civismo.
Infelizmente, nem sempre a cidadania é exercida de forma espontânea, refletida e assumida. Precisa ainda o tal “povo” de polícias e fiscais, de reprimendas e avisos, a fim de cumprir o que, à partida, é óbvio e certo.
Tem isto a ver com o que ocorre por estes dias na baixa do cidade, na conhecida Praça do Povo. Já lá vão uns meses que o Governo Regional tomou medidas quanto à utilização do espaço, de forma a preservar a integridade e dignidade de uma zona que se assume como a nova centralidade do Funchal.
Ao que parece, bastou um aligeirar da fiscalização para atropelar regras e o que resta de bom senso. É caso para dizer que está “sem rei nem roque”. Sem culpas nem responsáveis.
A praça está entregue à volatilidade de quem por ali assentou barraca. As imagens dispensam comentários. Os produtores de vinho, representados no âmbito das festividades, decidiram estacionar as suas viaturas particulares nas traseiras dos quiosques, fazendo do espaço, destinado à cultura e entretenimento, um parque de estacionamento. O que não se percebe, quando a poucos metros existe o cais 8 afeto a essa função enquanto durar a Wine Village.
Resultado: para além da imagem de anarquia, a bonita cantaria que cobre o pavimento, paga com o suor e sangue do tal povo, apresenta-se já suja e danificada.
Poder-se-á argumentar com a ligeireza e descontração próprias da “silly season”, com o espírito festeiro ilhéu, com os excessos das coisas de Baco. Basta de subterfúgios. É comodismo, é falta de civismo, é oportunismo. Não é bonito.
Se a professora Helena Caroço fosse viva diria que na “Casa Figueira está à venda um livro cor de rosa de boas maneiras”. Seria suficiente?