Quinta do Palheiro: atreva-se a conhecer um tesouro escondido nas colinas da cidade

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Fotos Rosário Martins.

É uma opção que não é acessível a todos os bolsos, avisamos já sem rodeios. Os portões abrem-se às 09h00 e encerram pelas 17h30. Um adulto paga 10,50 euros para entrar no paraíso. Ali mesmo, tão perto do Funchal, quem sobe a estrada antiga rumo à Camacha, acima da Boa Nova, numa entrada à direita. A serra ali tão perto e ao mesmo tempo encoberta.

Manter a grandiosa Quinta custa caro e o belo cultiva-se também com as receitas das entradas. Uma pequena separata com um mapa-guia da Quinta e sinopse histórica tem um acréscimo de 1 euro.

quint7O silêncio e o ar fresco são as notas dominantes, dando-nos a ilusão de estarmos mais no Santo da Serra do que propriamente numa das freguesias do Funchal (São Gonçalo).

Mas não só. Tudo é asseado, bem cuidado e sinalizado, o que continua a conquistar a atenção do visitante.

quinta principal 9Não, não há multidões na Quinta. Três ou quatro pessoas aqui e acolá, a desfrutar da quietude do espaço, ao mesmo tempo que os empregados – também eles discretos – passam com as máquinas, de forma ordeira e sossegada, a recolher o lixo, enquanto outros regam os extensíssimos jardins. Uma obra que muito deve também às horas de trabalho, organização  e catalogação do geógrafo madeirense, Raimundo Quintal.

quit6A viatura pode ir até ao centro do Palheiro Gardens. Mas, no meio do verde, a caminhada apetece e o olhar vai-se perdendo nos troncos centenários das árvores, na beleza dos jardins de mil formas e encantos e na forma exótica e insólita destas árvores viçosas.

Há ainda serra escalvada, até porque num passado recente o fogo também fez os seus estragos neste verdadeiro pulmão da cidade. Há plantas a nascer para reflorestar o que o fogo consumiu e já se notam os resultados.

quinta princiopalm 10As camélias parecem ser as rainhas destes jardins. Quisemos fugir às orientações do catálogo para turista ver e fomos assediados permanentemente por uma profusão destas espécies, que apenas têm para oferecer as suas verdes e robustas folhas. Flor da camélia, talvez só entre novembro e Abril, não vá o clima pregar também aqui algumas partidas.

quinta8Esta propriedade privada tem a chancela da família Blandy, que a adquiriu no século XIX, após ter sido propriedade do não menos conhecido Conde Carvalhal. Por isso, não se estranha uma certa ambiência britânica que por ali se respira, desde o asseio e organização dos jardins, aos turistas britânicos sempre de poucas falas, ao vai vem do pessoal de apoio, também ele sorridente mas distante.

quiunta principal 11Atravessar os jardins é como rasgar um vale de silêncio para contemplar o poder mágico da natureza, aquele poder que nos impede quase de descrever mas apenas contemplar e meditar. Recantos atrás de recantos a convidar ao sossego, com uma paleta de cores e diversidade botânica a perder de vista. São lagoas, riachos, corredores, troncos centenários como se tivessem sido alvo de um exercício de bricolage, tudo convida a apreciar e a respeitar.

quinta3A mais de 500 metros de altitude, num dos recantos desta Quinta, sentados num farto tronco, desviamos o olhar bem para baixo, para a cidade, tão distante, e deixamos aí cair a espiral de batalhas, angústias, dramas e outros incidentes que têm vindo a ensombrar a alma dos madeirenses. E desvia-se o olhar para o extenso manto verde, envolvente, silencioso e ao mesmo tempo a afagar os forasteiros. Este sim, a encher a alma de oxigénio para outras batalhas.

quinta11Passámos pela bonita capela com um teto rico, como que bordado à mão tal a criatividade dos seus desenhos. Quem tem fé, esta paragem impõe-se e só se escuta o chilrear de um ou outro pássaro à deriva, no exterior.

Outro “must” do Palheiro Gardens, o extenso campo de golfe, a ocupar algumas dezenas de turistas quer por ali pernoitam. As tacadas são de amadores, mas nada disso importa. Pagam cerca de 200 euros por noite para ficarem hospedados no Hotel Casa Velha do Palheiro e ocupam os tempos livres nas caminhadas, no golfe, no campo de ténis, na piscina, toda ela rodeada da emblemática vegetação, no SPA e até junto dos cavalos que passeiam vagarosamente, em recintos vigiados pelo staff.

quint2A Casa de Chá oferece um serviço razoável ao visitante, com custos próprios de quintas de charme. Mas não é tanto o chá que faz a diferença, tão ao gosto dos britânicos. É sim o extenso e bem cuidado verde que fascina, como se de um templo de outras eras se tratasse.

quint1O folclore turístico não tem espaço no recinto, nem as atrações próprias dos aldeamentos turísticos, nem sequer a pressão para consumir seja o que for. Também não esperemos sorrisos abertos a envolver o forasteiro que é entregue a si próprio a deambular por este céu de vegetação. Tudo é discrição e quietude.

quint4No regresso, pelas 17h30,  ao ponto de entrada na Quinta, ainda nos cruzámos com um dos elementos séniores da família Blandy, displicentemente ao volante do seu automóvel. Circulava calmamente e esboçou um sorriso aos visitantes e um breve aceno, na despedida. Reentrava ele no paraíso e nós no rescaldo de uma cidade dorida pelas sequelas dos incêndios que só o tempo ajuda a atenuar.

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