Casa particular transformou-se num armazém de cozinha solidária que tocou no coração dos madeirenses

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Merícia e Miguel, a alma da solidariedade do “MeryDoceMery”, no Caminho dos Saltos. Fotos DR

A história é simples mas a lição profunda. Uma casa particular que confecionava comida caseira, no Caminho da Cova do Til, n.6, transformou-se no  maior armazém de cozinha solidária que tem alimentado as muitas centenas de vítimas da tragédia dos incêndios, e dos operacionais do socorro, bombeiros, militares, médicos, enfermeiros e associações de solidariedade.

A “MeryDoceMery”, um negócio familiar gerido por Merícia Figueira e Miguel Rosário numa moradia particular, transformou-se, a partir de terça feira, altura em que deflagrou os incêndios, num verdadeiro exemplo de solidariedade que ultrapassou largamente as expetativas dos próprios dinamizadores.

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Tudo começou com um post no Facebook a apelar à colaboração das pessoas para a confeção de refeições.

Tudo começou com um desejo intenso de querer ajudar com aquilo que melhor sabiam fazer: a cozinha. Alimentar as vítimas dos incêndios e profissionais que prestam socorro com uma boa refeição caseira que ajude a levantar o ânimo. Um simples post no facebook da “MeryDoceMery” a anunciar essa vontade e a pedir a ajuda de voluntários para a confeção das refeições, desencadeou uma onda de solidariedade inesperada junto dos madeirenses. O poder viral das redes sociais espalhou a notícia e os madeirenses reagiram em grande número e de coração aberto para ajudar na preparação de sandes e milhares de refeições, transporte e distribuição aos locais necessitados.

Têm sido centenas de refeições diárias confecionadas por uma equipa liderada pela Merícia Figueira e amigo/sócio, Miguel Rosário, com a ajuda decisiva de muitos madeirenses que passaram a entrar nesta casa particular para preparar, cozinhar, empacotar e distribuir.

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A casa particular rapidamente se transformou num armazém de confeção de refeições, com uma vasta equipa de voluntários.

Ao Funchal Notícias, Merícia Figueira já acusa o cansaço mas sente-se “recompensada” pelo trabalho feito, nomeadamente pela pronta solidariedade de jovens e adultos, bem como das empresas.”Não há palavras para descrever o que se tem vivido na minha casa desde terça feira. Em meia hora, após termos lançado o repto no facebook, já tínhamos dezenas de respostas da população. Uma prova de solidariedade notável e absolutamente desinteressada”.

mery 4Curiosamente, foram as próprias entidades militares a solicitarem à “MeryDoceMery” a confeção de refeições para os desalojados no RG3. Os  militares transportaram para esta moradia particular os donativos alimentares da solidariedade, colaboraram na instalação de fogões e outros equipamentos necessários à confeção das refeições em grande número. Os militares têm sido inexcedíveis no apoio aos desalojados e demais vítimas e também neste trabalho de entrega das refeições e transporte de mercadorias.

As mensagens iam chegando de comida que faltava aqui e ali e esta equipa a todos procurou dar resposta.

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A solidariedade de anónimos falou mais alto.

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Merícia Figueira procurou deixar bem claro que este projeto nasceu sem qualquer motivação política ou partidária, porque não está filiada em nenhum partido e apenas deixou falar mais alto o coração de querer ajudar. Também não quer que se tire dividendos políticos desta iniciativa que nasceu de forma espontânea. É certo que já tiveram a visita da Secretária Rubina Leal e do próprio presidente Miguel Albquerque, que visitou hoje esta residência. É a própria população a passar palavra aos governantes.

Merícia Figueira explica que o presidente veio dar uma palavra de apoio e agradecimento pelo trabalho de voluntariado realizado e disponibilizou a ajuda do governo para fornecer os bens alimentares e/ou outros que sejam necessários para confeccionar a comida para quem precisa.

amilcprincipalMerícia Figueira trabalhava na área da construção civil, mais especificamente na contabilidade e recursos humanos. Com a crise no setor e insolvência de empresas, meteu mãos à obra com o seu sócio, de 41 anos, e criaram o “MeryDoceMery”, para a confeção de refeições caseiras.

Não abriram um restaurante, mas vendem refeições a partir da sua casa. Um serviço apreciado por muitos clientes que, mal souberam desta campanha de solidariedade, foram colaborando e divulgando junto dos mais carenciados, tendo assim um impacto impensável.

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O RG3 passou a solicitar as refeições para aqueles que abrigava, numa pareceria solidária e extraordinária.

Merícia e Miguel fazem questão de agradecer a muitas entidades que têm colaborado voluntariamente com a entrega de bens para que as refeições pudessem ser efetuadas, a saber: RG3, Super São Roque, Pastelarias São Vicente, Garajau, Doce Satisfação, BES, Autochapinha, Sodiprave, Milpan, Pindo Doce da Ribeira Brava e Câmara de Lobos, entre outras que possa omitir por falha de memória.

O cansaço já se faz sentir e ainda há muitas refeições a preparar. Mas sempre com “o coração aberto” e “um sorriso” para aqueles que precisarem da “MeryDoceMery”. De estômago bem servido, é sempre mais fácil enfrentar os problemas.

 

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