Rui Marote (texto e fotos)
Perante as exigências e recomendações que foram transmitidas à população, no sentido de evitar a propagação do mosquito ‘aedes aegypti’, vector de dengue, de febre amarela e de zika, o Funchal Notícias tem denunciado casos de contradições da competência das autoridades. A última foi por nós denunciada há dias, com os ‘lagos’ conspurcados das ruínas do forte no Largo do Pelourinho. Assunto que abordámos em primeira mão, e que já mereceu posteriormente a denúncia de partidos políticos.
Hoje alertamos para mais um foco propício à multiplicação do mosquito e das doenças que transmite, situado na Estação de Biologia Marítima, junto à promenade do Lido. É caso para dizer que, em casa de ferreiro, espeto de pau. Como é possível que onde trabalham tantos biólogos que são sensíveis a estas coisas, existam dois tanques de água com grande capacidade, para 500 litros, que estão mais de 90 por cento vazios e com as tampas de madeira danificadas. E isto na proximidade de unidades hoteleiras.
O FN vai continuar a denunciar casos alarmantes como este. Na nossa história, deu-se como que um ‘apagão’: extinguiu-se o Instituto de Medicina Tropical, que fora criado devido às colónias portuguesas; era matéria na qual dávamos cartas. Mas não se pensou que África é ali ao virar da esquina. E a Madeira está mais próxima desse continente que da Europa.
Em pleno séc. XXI, eis que as ‘pragas’ estão à porta a ritmo galopante. Sem querer ser alarmistas, a febre amarela é, além do dengue outra possibilidade a surgir mais dia menos dia… Vivemos do turismo e os nossos visitantes já começam a tomar o pulso à realidade.
Os técnicos na RAM, que são poucos, e não especialistas nesta área, limitam-se a aplicar as regras base que estão nos livros. Torna-se urgente um simpósio sobre as doenças tropicais na Madeira e a forma de as prevenir…
Há muitos cuidados a tomar. Há cerca de trinta anos visitei a Austrália. Nessa altura, era ainda necessário um visto emitido no passaporte pela embaixada australiana em Paris. Ao recebermos o passaporte, vinham anexados uns desdobráveis muito elucidativos dos produtos cuja entrada não era admitida no país dos cangurus e as penas aplicadas aos prevaricadores.
Ao chegar aos antípodas, e à saída do avião, no corredor de acesso às autoridades fronteiriças, deparei-me novamente com uma estante com os tais desdobráveis em todas as línguas existentes à face da Terra.
Ainda antes da aterragem fora-nos dado um questionário para que pudéssemos responder a inúmeras perguntas.
Recordo uma: se nos últimos dez dias tínhamos visitado uma fazenda. Se tivesse colocado um ‘x’ no quadrado ‘sim’, quando passasse pelos serviços alfandegários todos os meus sapatos ficariam de quarentena e deixaria o aeroporto descalço…
Se transportasse sementes de plantas, tinha uma multa muito significativa e tudo ficava apreendido, para queimar…
Embora não transportasse nada com que pudessem implicar, a minha mala foi aberta. E aqui tive um problema com os bolos de mel que levava, devido à amêndoa que os guarnecia. Problema que só foi resolvido com a chamada do chefe dos serviços, para cortar o bolo e provar que a amêndoa não era uma semente para plantação…
Cheguei à conclusão de que passar com droga era mais fácil do que passar com sementes. Tudo isto porque a Austrália sofreu há dezenas de anos com uma invasão de plantas que foi uma autêntica catástrofe naquele continente. Hoje não toleram descuidos.
Já na Madeira o controlo alfandegário é quase inexistente no capítulo de sementes e flores. Com as grandes obras, importaram-se palmeiras e outras árvores em estado adulto. Resultado: centenas das que eram nossas foram contaminadas com o escaravelho e continuam a sucumbir.
Com as praias de areias artificiais, vieram dezenas de contentores com areia do deserto de Marrocos, que deram entrada na Região sem fiscalização adequada. Há até quem diga que vieram escorpiões e outros tipos de bicharada.
E o mosquito, que provavelmente deu entrada na Madeira conjuntamente com as plantas importadas com a mesma irresponsabilidade, é outro problema. Pede-se às pessoas que tomem cuidados, quando as autoridades não tomam os seus. Estamos a pagar caro o desenvolvimento a qualquer preço.