Skopje, cidade das estátuas

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Rui Marote, em Skopje (Macedónia)

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Para os amantes de estatuária, Skopje (oun Escópia, em Português), a capital da Macedónia, é um verdadeiro maná. As esculturas são às centenas e a arte pública pode ser vista em cada esquina. Situada no curso superior do rio Vardar, na principal rota norte-sul dos Balcãs, entre Belgrado e Atenas, a cidade é um destino fascinante de férias, e ainda por descobrir, dado que recebe poucos turistas.

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A nossa ideia da Macedónia é logo pensar nos refugiados sírios e na guerra no Kosovo… Mas de facto, a vivência diária não está contaminada com tais problemas. Gostei muito do ambiente e achei as pessoas simpáticas e acolhedoras.

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Skopje é a capital de um país que anteriormente pertencia à Jugoslávia socialista, e que entrou em 1993 para as Nações Unidas com a designação de Antiga República Jugoslava da Macedónia, por causa de um acordo internacional motivado por uma confusão com a Grécia, que não aceitava a independência deste país caso usasse simplesmente o nome de Macedónia – que os gregos defendem fazer parte da Grécia, ou seja, a maior parte da antiga Macedónia estaria no actual território grego.

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Madre Teresa de Calcutá é uma figura icónica

De acordo com o historiador grego Heródoto, os ‘makednoi’, os habitantes da Macedónia, eram uma tribo dória, fundadora do reino com aquele nome. A palavra deriva do grego Makos e o adjectivo Makednos, o que significa alta. O gramático Hesíquio de Alexandria diz que se trata de uma palavra do dialecto dórico, significando ‘grande’ ou ‘pesado’. Pelo que se acredita que os antecessores dos macedónios, os ‘makednoi’, fossem pessoas grandes e altas.

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Como a Grécia considera a palavra Macedónia parte do seu passado cultural, e já tem uma região com esse nome, os gregos opuseram-se à designação simples do novo país admitido na ONU após a desvinculação da ex-Jugoslávia. Mas a Bulgária e a República da Macedónia, como foi progressivamente sendo conhecido o novo país, referem-se à parte da Macedónia que integra o território grego como ‘Macedónia Grega’ ou ‘Egeia’, considerando que não designam o território da Macedónia na sua totalidade. Um bom imbróglio, na verdade.

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Zona velha da cidade

A maior parte da comunidade internacional, hoje em dia, refere-se a este país simplesmente por ‘Macedónia’. E pronto. Os gregos que tenham paciência.

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Filipe II, pai de Alexandre o Grande

Sabia que estava a viajar para um dos países mais pobres da Europa e não tinha expectativas muito elevadas acerca da antiga Macedónia. E, na realidade, imitando as complicações das antigas sagas, a minha chegada a Skopje foi atribulada. Após passagens tranquilas pela Bulgária e Albânia, as coisas complicaram-se. Estava em trânsito em Istambul para Skopje, vindo de Tirana, quando foi anunciado, no aeroporto, que o voo estava cancelado. Iniciei uma maratona no aeroporto de Atatürk: novo cartão de embarque, controlo de passaporte, transfer para um hotel e embarque previsto para as 19 horas.

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Alguns chafarizes ficam protegidos com um toldo no Inverno

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A Turkish Airlines colocou-me num hotel nas proximidades da famosa Mesquita Azul, para um almoço e um repouso… Transfer às 16 horas, para o aeroporto.fotografia-41.jpgMas, por incrível que pareça, os 37 km foram transpostos em mais de três horas: chuva, trânsito intenso e obras na rodovia atrasaram tudo. Quando chegámos ao aeroporto, já o avião tinha partido…

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Monumento às primeiras olimpíadas

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Novamente para um hotel nas redondezas do aeroporto, para jantar e acordar às 3 horas da madrugada, para transfer e partida para Skopje às 7h45. Um dia perdido, e quando cheguei à Macedónia, chuva e céu cinzento para completar o quadro negro. Mas, apesar dos percalços, cedo a cidade começou a seduzir-me.

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A cidade tem avenidas amplas e o centro é impressionante. O monumento ao famoso conquistador Alexandre o Grande é, de facto, notável e está cercado de chafarizes e imensa estatuária, que se pode encontrar um pouco em cada canto, embora esteja, essencialmente, concentrada no centro da urbe.

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Antiga ponte do séc. XV

É aqui que está também preservada uma ponte de pedra datada do século XV, uma verdadeira relíquia e uma espécie de ex-libris da cidade de Skopje. Em duas outras pontes, a ‘Ponte do Olho’ e a ‘Ponte das Artes’, podem ser vistas mais de seis dezenas de estátuas de bronze em tamanho natural, representando uma infinidade de personagens, desde membros do clero a soldados fardados à moda do império romano, para não falar de muitos outros cidadãos comuns. É difícil identificar a todas, perceber a quem são dedicados todos aqueles monumentos e a quem retratam. Mas que são de ‘encher o olho’, isso são, sem dúvida.

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Praça de Alexandre o Grande

Um dos chafarizes destaca-se por ser uma homenagem às mães, apresentando três estátuas de mulheres com crianças ao colo e uma grávida, demonstrando óbvio carinho maternal.

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Homenagem às mães

A cidade está em franco crescimento e aposta nestes monumentos como uma forma de atrair o turismo. Nesta parte da cidade há obras por todos os lados e percebe-se que embora as construções sejam novas, estão a ser construídas com uma arquitectura antiga, grega, romana ou mesmo de influência francesa, que se mistura de forma curiosa com a parte antiga do bazar turco e da  fortaleza medieval.

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Skopje não é o principal ponto turístico do país, mas é um ponto de partida, principalmente para o lago Ohrid, que é muito procurado e funciona também como porta de entrada para o Kosovo que fica a umas duas horas de carro e é possível ser visitado no mesmo dia.

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O bazar turco é também bastante grande e um ponto interessante para visitar. Uma boa oportunidade para fazer compras. A Macedónia não é um destino caro.

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A rua Macedônia, para pedestres, conduz à Casa Memorial de Madre Teresa, que nasceu em Skopje, o que muito orgulha os habitantes da cidade. Aliás, veem-se placas evocativas da famosa freira por todos os lados, inclusive com aforismos seus traduzidos para inglês.

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Madre Teresa tinha por nome verdadeiro Anjezë Gonxhe Bojaxhiu. Era de etnia albanesa, pelo que na Albânia é também uma figura de grande destaque.

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Do outro lado do Rio Vardar fica uma das áreas mais interessantes de Skopje e que conta um pouco de sua história: Čaršija, o antigo bairro otomano, uma zona bastante diferente do centro da cidade que faz lembrar Istambul. Os turistas são ainda em número reduzido.

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Xadrez, o mais apetecido jogo de rua

A  Tvrdina Kale fica perto do bairro otomano e é uma fortaleza do século VI. Foi danificada no terramoto de 1963, que causou grandes estragos em Skopje, mas as muralhas externas foram reconstruídas em décadas mais recentes.

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Ópera e teatro da cidade

Ao lado da fortaleza fica a Mesquita Mustafa Pasha, de 1492, mais um vestígio do período otomano na Macedónia.

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Balões em forma de coração para o Dia de São Valentim

A igreja Sveti Spas, a mais antiga igreja preservada de Skopje, foi onstruída inicialmente no século XIV. Na época os otomanos não permitiam que as igrejas fossem mais altas que as mesquitas e por isso essa igreja foi construída parcialmente subterrânea. A porta fica no nível da rua, mas desce-se por uma escadinha para chegar à nave. É uma igreja ortodoxa e por isso não há estátuas, apenas pinturas, mas enormes e absolutamente notáveis.

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Esculturas situadas na área em torno do teatro

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Para terminar, um apontamento sobre a alimentação. Como estive três dias conheci alguns restaurantes.

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Homenagem ao engraxador

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Čaršija é um bom lugar para comer kebabs ou bureks, mas na beira do Rio Vardar há vários restaurantes. Ao contrário do que eu imaginava, os preços não são abusivos. Almocei num deles, pedi um prato típico (uma mistura de carne, queijo e molho), o preço é superior a Tirana mas nada que se compare à Madeira. O atendimento e a comida foram bons. É possível comer num bom restaurante por um preço que ronda os dez euros.

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A monumentalidade da cidade à noite
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Palácio do Governo

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Resumindo, uma boa cidade e uma boa surpresa, num país que, depois das convulsões pelas quais passou toda aquela região dos Balcãs, pouco a pouco se reinventa. E um daqueles lugares para onde apetece partir á aventura e à descoberta.