Ireneu Barreto concluiu visita às Selvagens apelando para a conservação do ambiente

Fotos: Rui Marote e Luís Rocha

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O Representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, acaba de concluir uma visita às ilhas Selvagens, acompanhado de diversas entidades civis e militares. Objectivo: para além da afirmação da soberania portuguesa sobre aquelas ilhas, que tanto parecem interessar a Espanha, conhecer ‘in loco’ o trabalho de conservação da natureza naquela reserva natural reconhecida pelas entidades europeias, pelos serviços do Parque Natural da Madeira, através dos seus cientistas e Vigilantes da Natureza. Estes últimos residem permanentemente na Selvagem Grande, revezando-se entre si por períodos de diversas semanas.

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A fragata Bartolomeu Dias, da Marinha de Guerra Portuguesa, que atracou de manhã bem cedo no porto do Funchal, partiu na sexta-feira ao final da tarde, após ter participado num exercício militar no Porto Santo, transportando a bordo múltiplos responsáveis de diversas áreas administrativas, científicas e políticas, que acompanharam Ireneu Barreto nesta deslocação. Entre elas, o presidente da Assembleia Legislativa Regional, Tranquada Gomes, a secretária regional do Ambiente, Susana Prada, a deputada à Assembleia da República  Rubina Berardo, o director regional de Florestas, Miguel Sequeira, o director do Parque Natural da Madeira, Paulo Oliveira e a directora da APRAM, Alexandra Mendonça. Isto além de entidades militares como o general Marco Serronha, comandante operacional da Madeira, ou o vice- almirante Pereira da Cunha, comandante naval (comando operacional da Marinha, tem sob sua dependência directa as unidades de fuzileiros e de superfície). O comandante da Zona Marítima da Madeira, Félix Marques, também acompanhou esta viagem àquelas ilhas distantes, na qual participaram ainda jornalistas dos diferentes órgãos de comunicação social da Região.

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Na Selvagem Grande, onde efectuou um percurso de visita a pé, Ireneu Barreto elogiou à comunicação social “todo o trabalho que tem sido feito” pelos responsáveis do Parque Natural e respectiva tutela não só nas Selvagens, mas nas ilhas da Madeira e Porto Santo e Desertas, no que à conservação da flora e da vida selvagem diz respeito.

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“Nós nem sempre valorizamos o nosso património. Mas temos de ter consciência de que temos o dever de conservar aquilo que temos, para o deixarmos para as gerações futuras. O trabalho que os Vigilantes da Natureza fazem em circunstâncias muito penosas nem sempre é devidamente reconhecido. Nós temos uma área vastíssima de mar, que é uma fonte misteriosa, que não conhecemos completamente”, referiu. “Um distinto marinheiro dizia-me, há dias, que conhecemos melhor o Sol e a Lua do que o fundo do mar. Mas de qualquer modo, temos o dever de preservar o mar, de torná-lo um meio ambiente saudável”, sublinhou.

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Sensibilizado para o grave problema dos lixos oceânicos, Ireneu Barreto fez questão de realçar que essa preservação “depende de todos nós, nos gestos mais simples”.

“Inconscientemente, nós podemos atirar o lixo de qualquer maneira, em qualquer sítio… mas depois esse lixo vem ter ao mar e vem poluir, digamos, toda a cadeia alimentar, chegando novamente até nós”, acrescentou.

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A tripulação da fragata Bartolomeu Dias dirigiu-se inicialmente à Selvagem Pequena, onde Ireneu Barreto, aconselhado pelos cientistas, tinha a intenção de desembarcar. A ideia fulcral desse desembarque era precisamente alertar para o problema da poluição marinha, que vem afectando aquele ambiente protegido. Porém, uma inspecção inicial por parte de um grupo de botes dos fuzileiros concluiu que as condições da ondulação não permitiriam que os visitantes chegassem a terra.

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“Falhámos o desembarque na Selvagem Pequena, o que foi pena, porque precisamente uma das actividades que ali estava prevista era mostrar quanta poluição existe neste mar, a quantidade de lixo que ali se acumula. Não foi possível, mas gostaria, através de vós [os jornalistas] sensibilizar todos para os cuidados que devemos ter em relação à protecção do nosso meio ambiente”, disse o Representante da República.

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O orador acrescentou ainda uma menção especial para o “apoio incondicional” que a Marinha Portuguesa tem dado a este trabalho de conservação. Por isso, dirigiu-lhes palavras de “homenagem, de reconhecimento e de gratidão” por esse auxílio, para além do cumprimento das missões de defesa e de fiscalização da nossa zona marítima.wpid-fotografia-2.jpg

Na Selvagem Grande, onde foram recebidos na casa dos Vigilantes da Natureza e onde se realizou um almoço, a secretária regional do Ambiente, Susana Prada, explicou cuidadosamente a Ireneu Barreto, a Tranquada Gomes e a todos os presentes aspectos curiosos e interessantes da história geológica das Selvagens, que datam, revelou, de um período muito anterior à da emersão da Madeira, verificada há cerca de sete milhões de anos: na realidade, as Selvagens são muito mais antigas, datando a sua emersão de entre 24 e 29 milhões de anos.

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Na ocasião houve oportunidade, também, para uma delegação da Ordem dos Arquitectos apresentar o concurso temático ‘Duas Casas nas Ilhas Selvagens’, que receberá propostas até 1 de Fevereiro de 2016. O concurso foi lançado pela Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, em colaboração com a Delegação da Madeira e em parceria com o Parque Natural da Madeira e a Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais.

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O que se pretende é conceber uma casa na Selvagem Grande e outra na Selvagem Pequena,  para servirem de habitação aos Vigilantes da Natureza.

“A arquitectura torna possível a presença humana permanente nas ilhas, que é imperativa para a salvaguarda do património natural e da territorialidade portuguesa num quadro internacional”, sublinharam os arquitectos.

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Este concurso atribuirá prémios pecuniários para os três primeiros classificados: o primeiro receberá 5000 euros, o segundo 1500 e o terceiro 1000 euros. Os resultados serão anunciados a 17 de Fevereiro do próximo ano. Este é o primeiro de vários concursos que serão lançados pela Ordem dos Arquitectos até Julho de 2016, no âmbito do Programa Escolha-Arquitectura, destinado a “incentivar a compreensão, o acesso e a importância da arquitectura como garante da qualidade dos espaços que habitamos”.

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Por sua vez, responsáveis ambientais explicaram que, no seio da ONU, foram criados acordos regionais, nos quais está inserida a OSPAR, uma convenção que reúne 15 países europeus. Criada em 1972, desde essa data que tem funcionado como um mecanismo para identificar ameaças ao ambiente marinho e organizar modos eficazes de cada nação os combater. Portugal participa neste acordo e, consequentemente, também a Madeira.

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“Esta OSPAR tem imensa influência dentro da Comissão [Europeia] e é a melhor forma de estarmos por dentro das áreas emergentes de investigação e de oportunidades de cooperação e de financiamento”, referem os responsáveis.

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A tutela do Ambiente na Região tem-se desdobrado em contactos no estrangeiro, procurando estabelecer modelos de cooperação com eventuais parceiros, entre os quais a Escócia, a Irlanda, a França, a Espanha e a Holanda, em torno da monitorização de assuntos cruciais como o combate ao lixo marinho. Um comité da OSPAR reunirá na Madeira no período de Maio/Junho do próximo ano. “Virão países de toda a Europa”, discutir temáticas ambientais.

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A OSPAR tem importante influência em muitos outros organismos europeus e mundiais, que definem, por exemplos, quotas de pescas dos vários estados.

Paulo Oliveira, director do Parque Natural, fez questão de sublinhar que as ilhas Selvagens merecem de facto ser acarinhadas pelas instâncias nacionais e europeias, na medida em que “são únicas”.

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“O seu património natural é relevante: tem plantas que são exclusivas destes locais. A Selvagem Pequena é um exemplo; apesar do seu tamanho, há plantas que só existem ali, e em mais nenhum lugar no mundo todo. Existem relações ecológicas únicas, também, entre plantas e animais que não se verificam em mais nenhuma parte do mundo. As Selvagens são um laboratório vivo: temos aqui evidente a evolução, o modo como a vida aconteceu. Este é um lugar remoto, e por isso estes aspectos conseguiram prevalecer. As ilhas revestem-se ainda daquilo que eu classificaria como o imaginário da conservação da natureza, tanto para madeirenses como para europeus. Temos uma área única, pristina, que merece toda esta atenção, ou ainda mais”, frisou.

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Paulo Oliveira insistiu que hoje em dia a conservação da natureza tem de interligar várias perspectivas, económicas e sociais, para além de científicas. Quanto mais vectores de disseminação tivermos da importância das Selvagens, mais longe conseguimos ir na sua defesa. Mesmo que as pessoas não as venham visitar, só o facto de apoiarem o trabalho que ali é feito já contribui para sua conservação.

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Mas as pessoas têm querido visitar estas ilhas: este ano, já foram cerca de 500 pessoas conhecer estas ilhas, onde as cagarras nidificam.

É um número que se tem mantido, dado o carácter remoto das Selvagens. Já na reserva das Desertas, o número tem vindo a aumentar, o que tem correspondido também a mais oportunidades de oferta de transporte para aquele santuário dos lobos marinhos.

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No entanto, uma grande percentagem das visitas é protagonizada por investigadores internacionais. “Mas também temos muitas visitas de iatistas, e de pessoas interessadas no turismo científico”, garante Paulo Oliveira.

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