Se o escritor Cesário Verde estivesse vivo e deambulasse pela ruas e becos da cidade do Funchal, certamente diria que se está perante um recorte de odores, certamente propício a uma aguarela. Já não se trata do desenho peculiar do casario que galga as serras nem sequer do bulício pitoresco da cidade, mas sim de uma cidade que encanta quem a visita pela beleza exuberante das suas flores e do seu mar. Uma cidade que é o melhor perfume natural para madeirenses e turistas.
Ao longo do ano, não faltam as flores a decorar a cidade e a torná-la sempre fresca e colorida. As floristas que diariamente instalam o seu negócio na Rua do Aljube e Largo do Mercado dos Lavradores sabem bem do que falamos. A oferta é diversificada, multicolor e sempre freca: são antúrios carnudos e pontiagudos, são estrelícias de cor abrasiva e elegante, são rosas brancas ou rubras para os românticos, são gerberas a prestar-se a múltiplos arranjos no lar, são margaridas do campo simples mas viçosas, são os cravos alvos e mesclados, são os amores-perfeitos, são tantas e tantas as formas que se perde a conta.
Que dizer dos jardins da cidade? Outro encanto. Do Jardim Municipal ao Parque de Santa Catarina, a profusão da flora é um cartaz que encanta. Alinhadas nas suas formas, viçosas no seu crescimento e multicolores não só lembram o tempo estival como também nos convidam a uma harmonia única com a natureza. Para uns, antes conviver com as plantas do que com os homens; para outros, a melhor das evasões; para o homem comum o privilégio de apreciar tão belas espécies que são dádivas de um Deus supremo.
Será preciso ir tão longe para apreciar a beleza das flores quando, no coração da cidade, o bonito Parque de Santa Catarina as oferece gratuitamente? Por vezes, os funchalenses quase se esquecem deste bonito Parque. Quanto têm crianças ao seu cuidado, ainda o visitam para as brincadeiras dos pequeninos; ou então, para os festivais musicais noturnos, tão na moda. Alguém se lembra de espreitar a beleza da flora e até do lago e dos cisnes, em vez de uma estereotipada visita aos shoppings comerciais?
Mas há também outros tesouros escondidos nesta cidade. Alguém ainda se lembra das quintas privadas cujos jardins são um hino à mais diversas espécies de botânica? Os jardins da Fundação Berardo, abertos ao público, são também uma mostra genuína da flora e da fauna que vale a pena visitar. Mas também há outras quintas que prezam a natureza, como o Palheiro Ferreiro, entre outras.
É ainda de referir que as moradias madeirenses têm também uma tradicional propensão para o cultivo doméstico das flores, nos seus vasos de barro e até mesmo jardins. Rara é a moradia, mesmo nos tempos de progresso civilizacional, em que não existam flores tipicamente madeirenses: as azáleas, os amores-perfeitos, os “não me deixes”, as rosas e tantas outras identidades que nos escapam à memória.
Quando se fala de flores da cidade, não é possível omitir a Festa da Flor, no fundo, o desfile da riqueza floral madeirense convertido em grande cartaz turístico que atrai milhares de forasteiros à Ilha. Poder-se-á dizer que nem todas as plantas são made in Madeira mas sabemos que grande parte delas tem a sua génese na Ilha. Não é, pois, por acaso que se chama à Madeira um jardim.
Ousamos mesmo dizer que a qualidade de vida do Funchal passa também pela beleza das suas flores. Passear pela cidade e apreciar estas espécies e usufruir dos seus odores é sem dúvida saber estar em comunhão com a natureza, partilhando do seu encanto. Para uns é a melhor das evasões, para outros, antes falar com as plantas do que com os homens…