Avião cargueiro inicia operação a 1 de setembro entre Lisboa e Funchal

Miguel Freitas (Fly Mii) e Ole Christiansen (Blackbird) na assinatura do protocolo com o Governo Regional.
Miguel Freitas (Fly Mii) e Ole Christiansen (Blackbird) na assinatura do protocolo com o Governo Regional.

Dia 1 de setembro é, para já, a data mais provável do arranque da operação de transporte aéreo regular de carga entre a Madeira e Lisboa. A Fly Mii, a empresa madeirense que irá explorar e gerir a operação, avança que a partir do início de setembro os transitários nacionais estarão prontos para assegurar a carga no voo a partir da capital portuguesa. Uma condição essencial à sustentabilidade do negócio, conforme explica Miguel Freitas, o empresário da Fly Mii, que espera rentabilizar o avião cargueiro com outras rotas.

Neste momento, o avião fretado à Blackbird-West Air está na Dinamarca para pintura do logótipo e as tripulações encontram-se em formação. Estes procedimentos técnicos, a par de outros de ordem administrativa, encontram-se em fase de conclusão. O adiamento em cerca de um mês da data prevista para o início da operação estará também relacionado com a época baixa que se avizinha em matéria de volume de carga em trânsito.

O avião ao serviço da Fly Mii, com capacidade para 6,5 toneladas de carga, vai operar de terça a sábado entre a Madeira e o Continente, garantindo o abastecimento regular de bens essenciais à Região e permitindo aos agentes económicos locais uma resposta rápida no escoamento de produtos agrícolas e perecíveis.

A operação representa um investimento de cerca de um milhão de euros suportados totalmente pela Fly Mii, empresa madeirense que está apostada em desenvolver o serviço de transporte aéreo na Região, seja de carga ou de passageiros. Ao Funchal Notícias, Miguel Freitas, comandante de avião e empresário, confessa que a sua empresa pensa em voos mais altos, ponderando no futuro avançar para uma companhia de aviação regional.

Funchal Notícias – Quais os fatores preponderantes para o sucesso da operação, atendendo às diferenças no volume de carga entre a Madeira e o Continente?

Miguel Freitas – Neste negócio, há muitas variáveis e uma delas é, senão a mais importante, os transitários que operam de Lisboa para o Funchal, porque sem eles nós não conseguimos fazer negócio. Ou seja, temos de garantir que o avião está cheio de lá para cá, porque isso é que paga a operação.

Da Madeira para Lisboa, como qualquer ilha portuguesa, a rota é altamente deficitária, porque importamos muito mais do que exportamos (cerca de 14 toneladas por dia de Lisboa para o Funchal e 1,5 toneladas no trajeto inverso). Este avião só será um negócio sustentável se garantirmos a carga total de Lisboa para o Funchal.

Apesar de ter o compromisso e o apoio da Secretaria Regional da Agricultura e Pescas na divulgação do projeto, é evidente que não consigo tornar a operação viável apenas com o transporte de banana e de outros produtos locais para o mercado nacional.

FN – Como está a decorrer o processo?

MF – Já efetuamos os contactos, já falámos com empresas de renome como a FedEx, a EcoTrans, a Abreu cargo. De Lisboa para cá, já temos assegurada a carga. Está tudo a andar. O avião está, neste momento, na Dinamarca a ser preparado e, logo que esteja pronto, vamos dar a conhecer essa situação aos nossos parceiros.

A 10 ou 12 de agosto estarei em Lisboa para reunir com os transitários, no sentido de conciliar os interesses de todas as partes e definir a logística das operações.

FN – A operação não terá início então a 1 de agosto como previsto inicialmente. Quando acontecerá?

MF – Quem vai estabelecer a data da entrada de funcionamento serão os transitários, mas quase de certeza que será a 1 de setembro, uma terça-feira, o dia da semana em que se regista mais carga.

FN – Qual o motivo do adiamento do arranque da operação?

MF – Não faz sentido lançar uma operação no decorrer do mês de agosto, quando está tudo de férias e parado. Eu tenho de falar com as empresas em Lisboa e dar-lhes tempo para organizarem o seu marketing. Ou seja, há uma série de fatores que temos de harmonizar para que tudo corra bem, como é o caso da questão do pagamento dos serviços. De forma a garantir que recebemos sem atrasos, no dia 3 de cada mês, o processo será efetuado através da IATA que cobra aos clientes no ato da entrega da carga para despacho. São questões essenciais quando se lança um negócio e que levam o seu tempo.

FN – Como garantirá a rentabilização máxima em termos de carga?

MF – A gestão dos espaços ou porções de carga no avião é feito pela GSA-Logistics que encaminha todas as cargas para qualquer destino no mundo e garante o avião sempre no máximo da capacidade para o voo.

FN – Falou em utilizar o avião em outras rotas. Pode concretizar?

MF – Os Açores são uma opção em estudo, visto que este avião estrategicamente pode ir a outras ilhas portuguesas e dos PALOP. A nossa ideia é rentabilizar a aeronave. A rota Lisboa-Funchal-Lisboa representa em média 70 horas mensais de voo, o que é muito pouco. O ideal serão as 150 horas mensais.

FN – O que levou a escolher a Blackbird-West Air como parceira?

MF – Nós estamos a fretar o avião à Blackbird-West Air. Trata-se nem mais nem menos do que a maior empresa de aviões de carga da Europa, com uma frota de 40 aparelhos. Tem quase o tamanho da TAP.

A Blackbird-West Air é detentora do AOC (Air Operator Certificate), um alvará aeronáutico emitido pelas autoridades do país onde o avião é registado, neste caso, a Suécia. Portanto, será esta empresa a operar a aeronave e será responsável pela formação da tripulação. Eles têm as suas próprias regras e critérios técnicos e, como tal, é do seu interesse garantir a segurança da operação. A formação da tripulação acontece porque este avião é novo. Como cargueiro só existem três no mundo. Trata-se de uma aeronave de fabricação canadiana, o Bombardier CRJ 200, com capacidade para seis toneladas e meia.

FN – Qual o papel da sua empresa no negócio?

MF – Neste processo, a Fly Mii é a empresa que aluga a aeronave e, como outro qualquer leasing ou renting, é a dona do aparelho e de toda a operação enquanto o contrato for válido.

A Fly Mii tem a responsabilidade e o risco do negócio, coordena os agentes envolvidos e vai vender o avião para outras rotas, visto que a linha da Madeira não é suficiente para a sustentabilidade.

FN – Como funcionará o programa da rota Lisboa-Funchal-Lisboa?

MF – De terça a sábado, o avião sairá às 6 da manhã de Lisboa (voo SWN 621) com destino ao Funchal e, ainda na parte da manhã, fará o percurso inverso (voo SWN 622). Cada trajeto terá a duração de hora e meia.

FN – Quais os objetivos da Fly Mii a médio prazo?

MF – O objetivo da Fly Mii (e o meu também que já ando na aviação há mais de 20 anos) é desenvolver tudo o que é atividade de transporte aéreo na Madeira, seja de caga ou de passageiros. Ou seja, queremos capitalizar a empresa para mais tarde criar uma companhia aérea regional, com engenheiros, pilotos e tripulação portugueses.