Madeirense faz 1200 km de mota até Espanha para ver evento internacional Moto GP

 

Miguel em Jerez com bandeira do Valentino Rossi
Miguel Gomes em Jerez com bandeira de Valentino Rossi. Fotos DR

*Com Lília Castanha (texto)

O Grande Prémio BWIN de Espanha 2015 teve lugar no Circuito Jerez de La Frontera, na província de Cádiz a 1, 2 e 3 de Maio. Entre os 248 mil espetadores que passaram no circuito, nos três dias, encontrava-se um madeirense: Miguel Gomes, um apaixonado pelo desporto motorizado, percorreu de mota mais de 1200 km de Lisboa a Jerez de La Frontera, para sentir a emoção, ao vivo, dum evento deste tipo.

A MotoGP é a categoria máxima do Grande Prêmio de Motociclismo.  O primeiro ano de competição teve lugar em 1949, sendo este o mais antigo Campeonato do Mundo de desportos motorizados  a realizar-se  nos quatro continentes com cobertura televisiva global. O Campeonato do Mundo de Motociclismo é constituído por 3 classes: MotoGP, categoria rainha, Moto2 e Moto 3. É um desporto que movimenta mais de 2,4 milhões de pessoas em todo o mundo anualmente. Na grelha encontram-se os melhores pilotos a nível mundial de diversas nacionalidades, todos eles munidos com a mais avançada tecnologia de motociclismo criada pelos construtores Honda, Yamaha, Ducati, Suzuki e Aprillia, entre outros. Um Grande Prémio acontece ao longo de três dias, com os dois primeiros destinados aos treinos e qualificação de cada categoria. No terceiro dia são as corridas.

Funchal Notícias – Como surgiu esse interesse pelo desporto motorizado?

Miguel Gomes – Desde criança. O meu pai tinha mota e sempre tive rodeado de motas, armava, desarmava, pintava, mexia nos motores e aprendi desde muito novo a conduzir. A partir daí foi crescendo o interesse pelo desporto motorizado, seja ele mota ou carro e a competição foi um acréscimo a esse gosto por motores.

FN – O que o levou a percorrer tantos quilómetros de mota para assistir ao Moto GP?

MG – Já há muitos anos que sigo o desporto motorizado. Já tive a oportunidade de assistir em 2004 a um Grande Prémio no autódromo do Estoril. Sou fã do Valentino Rossi, é um excelente piloto, que interage muito com o público, com sentido de humor e equipamento com caricaturas muito próprias. Pena que já não há Moto GP em Portugal; quem quer assistir tem que se deslocar a outro pais. Portugal não soube aproveitar esta oportunidade . Só em Espanha este ano há 4 grandes prémios. Os espanhóis vibram este desporto. É um desporto que atrai milhares de pessoas e traz bom retorno para a economia.. O circuito Jerez é um circuito mediático, é o acontecimento maior do ano, é a concentração maior do mundo de motas. Só em 3 dias passaram pelo circuito 248,500 pessoas, números oficiais, o que mostra a forma como os motards vivem este grande prémio.

Agora temos a entrada de um português pela primeira vez, o Miguel Oliveira, na classe mais baixa, Moto3. Tive curiosidade de ver ao vivo a prestação do Miguel. A oportunidade surgiu em conversa com um colega de trabalho; estávamos a falar sobre motas, ele também é motard e já tinha ido ao Jerez e começamos a falar vagamente sobre a possibilidade de irmos assistir e depois aconteceu, concretizamos.

FN – Para fazer a viagem de mota de Lisboa a Jerez tiveste que fazer alguns preparativos?

MG – Sim, tínhamos de fazer uma viagem segura e confortável pois são muitos kilometros, 1648,  o total que fizemos em 4 dias. Tivemos que fazer uma preparação detalhada.

Acima de tudo temos que escolher uma mota com posição de condução confortável, tipo motos do Dakar, e não moto de pista. Depois é necessário todo o equipamento, desde luvas, botas, calças, camisa térmica, meias, casaco específico, gorro, capacete, etc. É um equipamento específico de motard, existe separado casaco e calça e existe o fato completo, numa peça. É fundamental também termos fato de chuva próprio para mota. Não pode ser uma peça de roupa normal pois à velocidade que andamos rasga-se; andar durante muito tempo a 140 e 150 e com os ventos que por vezes apanhamos danifica todo o equipamento. Ver a prognóstico do tempo para  podermos equipar-nos de forma correta. A mota tem que ser toda revista, é fundamental. Após isto é preparar a mochila com as coisas que iremos precisar de acordo com os dias que vamos passar no local.

Parque motas no Jerez
Miguel G no parque de motas do Jerez de La Frontera.

FN – Quanto tempo levaram de Lisboa a Jerez?

MG – Saímos de Lisboa, mais propriamente de Sintra e abastecemos logo a seguir à Ponte  Vasco da Gama. Pensávamos que iriamos abastecer 3 vezes e acabamos por abastecer 4. Quando estivemos a planear sabíamos quais as bombas onde iríamos abastecer, pois estão afastadas geralmente 30 km nas autoestradas. Tivemos que contar também com as portagens à passagem na Ponte Vasco da Gama e no Algarve na Via do Infante que deu à volta de 60 a 70 euros, só em Portugal. Contabilizamos uma única portagem de 7 euros, em Espanha, praticamente pelos mesmos kilometros. Saímos por volta das 15.30 e chegamos às 21.30 ao nosso destino. Recorremos do GPS, que foi uma ajuda preciosa. Atravessamos a fronteira e fomos até Sevilha e depois descemos até Jerez de La Frontera. A viagem foi dura, ainda bem que fiz alguma preparação física. É também importante ter uma cinta para manter uma postura correta ao longo do percurso. Fizemos 4 paragens para abastecer e comer.

FN – E como é que correu o Grande Prémio? Como relata a experiência?

MG – Perto do percurso, a polícia estava bem organizada e tudo e todos facilitavam o acesso das motas ao circuito. Vimos motards de muitos países e foi interessante o fato de não haver rivalidade, eramos todos motards, cada qual a tirar pelo seu piloto favorito e a respeitar o gosto do outro, ao contrário do que se vê em outros desportos.

Já tínhamos comprado os bilhetes pela internet e depois esgotaram em várias bancadas. A entrada no circuito foi feita de modo calmo, as bolsas eram revistadas mas tudo muito pacifico e as pessoas bem dispostas. Ficamos na bancada defronte para as boxes e pódio, na reta da meta, com o ecrã gigante. O barulho é ensurdecedor e a determinada altura tivemos que colocar os tampões nos ouvidos que vieram juntamente com o bilhete. Muitas pessoas de várias faixas etárias e nacionalidades, é um desporto que movimenta mais pessoas que o futebol.

miguel e amigos
O madeirense (primeiro à direita) e amigos rumo ao Jerez.

FN – O tempo ajudou?

MG – Tivemos sorte com o tempo. Em Jerez, nos três dias, o tempo esteve ótimo, esteve muito sol. Comprei uma bandeira grande do Rossi e uma barreta que protegiam-me do sol, já que esquecemos do protetor solar.

FN – O que achou da prestação do português na Moto3 e do Rossi?

MG – Acompanhei a corrida do Miguel Oliveira que ficou em 8º nos treinos. Para a classificação conseguiu subir mais uns lugares e na corrida andou em 1º durante algum tempo. Infelizmente, na última volta, o Ken meteu-se por dentro, tocando no 3º classificado e o Miguel Oliveira acabou por ficar em 2º,  um excelente 2º lugar no Jerez.

O Rossi ficou em 3º, foi difícil acompanhar Marquez e Lorenzo que estavam  muito fortes. Fez a corrida que lhe competia e podia, andou em 8º, 9º nos treinos e conseguiu sair de 5º. Passou rapidamente para 3º, não conseguindo galgar mais nenhum lugar. Está em 1º no campeonato, tinha que somar estes pontos e não cometer nenhum erro para não deitar tudo a perder. O Rossi já é uma lenda, com sete títulos mundiais movendo multidões.

FN – Em termos turísticos, considera que os espanhóis estavam bem preparados?

MG – Eles preparam-se bem para esta época, para receber esta enchente de motards. Mas não podemos comparar os restaurantes, a comida, os preços. Não fui muito fã da comida, usam muito à base de presuntos e pão. É tudo caro, pelo menos nesta época. O pequeno almoço para 3 pessoas rondava os 30 euros. Recordo-me que estava de manhã numa pastelaria e havia grupos de espanhóis e falavam muito alto e rápido. São mais barulhentos que nós.

FN – Quando a corrida terminou, regressaram logo a Portugal?

MG – No sábado, ao acabar a classificação, caímos no erro de sair logo e foi difícil com o calor que estava, a quantidade de motas e o fumo dos escapes, etc, estivemos muito tempo para sair. No domingo, quando acabou a corrida, usamos a estratégia de comer dentro do circuito enquanto os motards saíam. Havia no circuito uma força de vendas brutal, cerca de 1 km de tendas com os artigos dos vários pilotos que competem no Grande Prémio. A tenda do Valentino Rossi era a tenda com mais pessoas e menos artigos já para venda. Neste espaço havia comes e bebes e aproveitamos para comer antes de irmos buscar a bagagem, casacos e capacetes. Conseguimos arranjar uma mesa, almoçamos e descansamos. Havia uma tenda gigante onde pagávamos 3 euros e deixávamos lá os nossos pertences; no final íamos lá recolher e dávamos o numero de BI e eles entregavam-nos as coisas. Estava bem organizado e não tínhamos que esperar muito. Saímos por volta das 16.30 para Faro e chegamos a Sintra perto da 1.30 da manhã. Paramos para jantar como é óbvio. O nosso receio é que pudéssemos apanhar os postos de abastecimento fechados. Entretanto no domingo estava um alerta amarelo para Portugal Continental. Felizmente só apanhamos uma parte negra e algum nevoeiro mas chuva não, algum vento na ponte 25 de Abril e depois correu tudo bem e chegamos ao nosso destino.

FN – Foi uma viagem de 4 dias e 3 noites. Como é que transportaram a bagagem?

MG – A minha mota estava equipada com malas laterais e uma central que dá para levar algumas coisas. Convém levar roupa e sapatos confortáveis pois o equipamento de motard torna-se muito quente.

Miguel Oliveira, 2-¦ em Moto 3
Miguel Oliveira, segundo em Moto 3.

FN – O que mais gostou desta experiência?

MG – Eu gostei de tudo. Foi extremamente cansativo mas foi uma experiência que valeu a pena. Aconselho a todas as pessoas que gostam do desporto motorizado a assistir a uma festa destas porque Jerez é o topo, a capital do MotoGP. Segundo as pessoas com quem falei não há um MotoGP tão emotivo e com tantos motards. E Jerez adaptou-se bem, as redondezas também.A 20 km aproximadamente do circuito existe uma concentração de motards em Puerto de Santa Maria. Esta avenida repleta de esplanadas está vedada aos automovéis, circulando apenas motas.Tomamos uma bebida e durante as 2 horas e meia que lá estivemos, estiveram constantemente motas a passar, algo que nunca pensei que pudesse acontecer, mas é uma realidade.

Vista da bancada
Perspetiva da bancada no jerez.
Miguel Oliveira e equipa
Miguel Oliveira e equipa.
O Miguel gritou tanto pelo Miguel Oliveira que at+® teve direito a entrevista, com a bandeira do Rossi atr+ís.
Miguel Gomes apoiou tanto o Miguel Oliveira que até foi entrevistado pelos jornalistas locais.