Sexta feira Santa: um convite para olhar para a Cruz e fazer a reflexão interior

CRISTO CRUZ
Adorar a Cruz é refletir hoje na entrega de Cristo pela salvação dos homens.

Os católicos assinalam hoje a cerimónia da Morte de Jesus Cristo e Enterro. Não há missa mas sim uma cerimónia profundamente simbólica de reviver o sofrimento de Jesus Cristo, condenação e crucificação na Cruz.

Um pouco por toda a Diocese do Funchal, os católicos assinalam este momento alto da Paixão do Senhor, quer em reflexão nas suas residências quer participando nas cerimónias da Paixão e Enterro do Senhor.

Não deixa de ser pungente o exemplo que Cristo nos dá com esta entrega passiva aos seus inimigos: foi entregue ao poder romano, insultado, acusado e crucificado, sempre com uma postura de silêncio e entrega. Também ele se confrontou com os seus dilemas interiores, nomeadamente quando, no auge do sofrimento, questionou o Pai, conforme refere o Evangelho de São João: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” Depois, a entrega incondicional de Jesus em nome da salvação dos homens.

O dia de hoje apela, pois, ao simbolismo desta entrega de Deus pelos homens, à importância de se cumprir o mandamento que Cristo deixou: amem-se uns aos outros como eu vos amei.

Neste dia, a Agência Ecclesia divulga as palavras do Bispo de Lamego, especialista na Bíblia, investigador e professor de Sagrada Escritura, sobre o simbolismo da Cruz, que o Funchal Notícias aqui reproduz: “A cruz tem um significado muito para além do cristianismo, e pode atingir qualquer coração humano que ouse colocar-se diante dela, não durante cinco minutos, mas durante bastante tempo. Quando qualquer pessoa honesta, sem máscara e bem-intencionada, se coloca diante da cruz, vai ser tocada por diversos elementos pessoais, que estão dentro dela, e também pelo amor excessivo e subversivo de Deus, que subverte o que há de pior dentro de mim.”

D. António Couto sustenta que, “quem olha para aquela cruz e para as cruzes de hoje” tem de se aperceber que as “vidas completamente massacradas” da atualidade têm na sua origem “a violência, o mal, a estupidez” de cada pessoa.

“Este é um ato sério, cultural, com o qual o mundo de hoje, seja crente ou não, tem de se enfrentar, sem medos”, defende. “A cruz de Jesus que está exposta diante de nós, nas igrejas, nos cemitérios e estava em lugares públicos e hoje desapareceu de alguns deles, é um elemento cultural de extrema importância que vale para toda a gente”, refere D. António Couto.

Para o biblista, o facto de terem mandado retirar as cruzes de espaços públicos é porque “provavelmente incomodavam. Enfrentar a cruz é um ato de coragem, porque me vai desvendar. Por outro lado é um ato de suprema humanidade e divindade, porque é perceber que Deus desce a este meu mundo não para se ir já embora, mas para o abraçar e o mudar. Ele veio para mudar o meu coração”, disse o bispo de Lamego.