Martins Júnior
A chegada do argentino Jorge Bergoglio ao Vaticano, classifiquei-a de Primavera Romana. E à nova aragem outonal de 29 de Setembro/2013 dediquei-lhe a “Primavera na Madeira”. E, brevemente, estaremos a produzir, em tempo meteorológico oportuno, a Primavera do 29 de Março que já nos bate à porta.
Mas há, ainda, uma outra. Mui outra e decisiva Primavera que urge fazer abrir neste solo ilhéu. Não sei se há muita gente que pressinta a urgência lógica e cronológica desta gestação de um novo rebento ou, no limite, a certidão de óbito àquela “casta meretriz”, como eufemisticamente apelidavam alguns doutores santos da Igreja, e especialmente, digo eu, da marca “made in Madeira” , acompanhando o féretro do seu cônjuge-filho-amante e amado Governo. Unidos no berço, reunidos na sepultura.
Quem leu a esclarecida e frontal prestação do Pe. José Luís Rodrigues neste mesmo espaço, de 31/01/2015, (agradeço-lhe o mote) entenderá que é da Igreja Católica Madeirense que estou a falar. Resta-me perguntar às mentes pensantes desta terra se ainda duvidam da urgente e necessária extinção da dupla Quinta Vigia-Paço Episcopal. É um imperativo lógico e cronológico, sim, e a que acrescento histórico imperativo. Pela transparente conclusão de que o corredor (no fascismo, discreto e subterrâneo, agora a-céu-aberto e ufano) que ligava as duas hierarquias, a política e a religiosa, deve auto-decretar o fim de prazo, a perda de mandato. Não falo da Instituição, falo dos seus titulares, ao mais alto nível regional.
Porquê?
Porque, como já afirmou o Pe. Mário Tavares Figueira à revista “Visão”, o PSD/M “nasceu numa sacristia”, excelente expressão para designar a militância sem pudor do primeiro bispo Santana que, em 1974/75, correu as igrejas da Madeira para apresentar aos párocos aquele rapaz novinho em folha que, em seu entender, devia ser “o melhor candidato a presidente do GR”. O segundo, o bispo Faria que conluiou com o dito presidente mandar um efectivo de 70 polícias ocupar e assaltar uma igreja católica e a residência paroquial na Madeira, durante 18 dias e 18 noites. Sem mandato judicial. Foi em 27 de Fevereiro/1985. Faz agora 30 anos. O terceiro, dócil e quieto, outra coisa não tem servido senão de mestre-de-cerimónias em ofícios e jantares e recepções do protocolo. E por tudo isto, ganharam na opinião pública o encomiástico epíteto de “Secretários Regionais dos Assuntos Religiosos”. Mísero atestado de humilhação para quem tinha o dever “missionário” de estar separado e acima dos interesses político-partidários locais. Por isso, a conclusão é clara como a lei: caído o governo, caem os secretários. Deveriam ter, ao menos, a dignidade de demitir-se. Por solidariedade política e em agradecimento pelo “prato de lentilhas” (leia-se construção de igrejas e casas paroquiais) que lhes foi servido em vida do governo. Por isso, repito: unidos no berço, abraçados na sepultura.. Pouco falta à Madeira para alistar-se no cardápio das Igrejas Patrióticas Católicas, assim chamadas na China. ( cfr. John-Peter Pham, in Herdeiros do Pescador)
Quero sublinhar que não me refiro aos supra-dotes ou infra-dotes pessoais dos três prelados que a Madeira teve a “sorte” de aceitar no pós -25 de Abril, mas tão só aos seus préstimos, públicos e notórios, ao tipo de governação prestes a extinguir-se.
Haverá quem não se importe, encolha os ombros e até diga:”Isso é lá com eles, os senhores”. E eu digo que não. Porque, em primeiro lugar, foram eles que obrigaram a que certos padres (a cujo elenco me honro de haver pertencido) tivessem de usar a mesma tribuna parlamentar e os mesmos direitos de intervenção contra tão escandalosa colonização da fé, da alma e da mentalidade dos crentes deste arquipélago. Em segundo lugar — em todos os lugares — porque, “não sendo deste mundo” o Reino do Cristo, também não deveria sê-lo o da Igreja, muito menos deixar-se comprar ou vender ou trocar. “De joelhos, diante de Deus. Diante dos homens, sempre de pé” — já o proclamou o grande bispo do Porto, António Ferreira Gomes, já falecido. Tivesse a Madeira um bispo desta estirpe, como o do Porto, (exilado do país por ordem de Salazar) ou de um Hélder da Câmara ou António Fragoso, no Brasil, vê-los-íamos tratados a pontapé e à bastonada, com polícias cercando o Paço Episcopal e com o mandado de expulsão cá da ilha. Como este governo quis fazer em Machico, mas não conseguiu porque o povo foi mais forte.
Oh, onde eu já vou! Peço desculpa de me alongar. Mas muito, muito mais tenho a contar. Para mais tarde.
Há cérebros e corações e estatutos onde não mora nem pode florir a Primavera. De nós depende que ela volte!