Mãe de quadrigémeos pede ajuda

Mãe de quadrigémeos abre conta solidária

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A história de Nélia Alves e da família está longe de ser mais uma novela banal de dificuldades familiares que afetam hoje a maioria dos agregados familiares portugueses. Por isso mesmo, contactou o Funchal Notícias para dar a conhecer a sua história e pedir ajuda para assegurar a formação superior, em simultâneo, dos quatro filhos, neste momento a frequentar o 12.º ano de escolaridade.

Quando casou em 1993, acalentava o sonho de vir a ser mãe e constituir uma família. Dois anos depois, decidiu engravidar. Problemas relacionados coma a ovulação fizeram com o que o seu médico a aconselhasse a fazer uma medicação que, alegadamente, teria de cumpri-la por longo período de tempo. Após uma toma de cinco comprimidos, deu-se conta de que estava grávida. Estava cumprido o sonho, mas de forma demasiado rápida e inesperada.

Na primeira ecografia, recebeu a notícia: grávida de trigémeos. Nélia Alves assume que ficou “verdadeiramente assustada”. Após o contacto telefónico com a mãe, e a reação inesquecível desta, “É espetacular”, serenou os ânimos e houve que seguir em frente.

Só quando já ia na 28.ª semana da gravidez, e por intermédio de nova ecografia, com registo de medidas sempre diferentes, ficou preparada para a possibilidade de vir também a caminho um quarto bebé. A confirmação foi recebida com pânico. “Só o meu médico me conseguiu acalmar, isto depois de molhar-lhe a bata com as minhas lágrimas”.

A história desta gravidez insólita foi mantida em segredo no seio da família até ao dia do nascimento. Nélia corria sérios riscos assim como os bebés.  Nada garantia que nasceriam bem ou mesmo que conseguisse levar a bom porto esta gravidez ou ainda que os filhos nascessem com saúde. No fundo, muitos meses de grande receio e expetativa, vividos entre as quatro paredes da família. Hoje recorda que foi necessário ter uma força titânica para ir em frente: “Eu e o meu marido estávamos tão felizes e ao mesmo tempo com receio”.

33 semanas de gravidez. Risco de pré-eclampsia. Análises a apontar para um diagnóstico reservado. Houve que fazer uma cesariana, com recurso a uma equipa vasta mas “fantástica”. Pelas 33,5 semanas aconteceu o parto, entre as 1h33 e as 11h37. As quatro crianças nasceram bem, entre 1 kg e 1,720 kg, dispensando ventiladores e respiração assistida, ficando apenas nas incubadoras.

O pior viria depois. No final do dia, Nélia confrontou-se com uma complicação na sequência do parto e chegaram mesmo a recear pela sua vida.

“Não existem grandes explicações a nível científico mas eu sobrevivi e as minhas crianças estavam bem de saúde”, explica ao Funchal Notícias.

Com dificuldades e muita capacidade para contornar os problemas, a família Alves seguiu em frente e foi educando os seus filhos com os seus próprios recursos. O que Nélia não contava foi com a perda do seu braço direito: a morte inesperada do marido, há menos de dois anos, o homem com quem estava desde os seus 17 anos de idade. “Um choque marcado por uma violência emocional indescritível”, relembra. Mas o pior ainda foi dar a notícia aos filhos, na verdade o pior momento da sua vida.

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Apesar de ser uma mulher forte e batalhadora, admite que tem sido muito complicado gerir tudo isto, razão pela qual tem recorrido aos préstimos de um amigo psicólogo que os tem ajudado e, no caso dos filhos, contribuído muito para clarificar situações e sobretudo ajudar a saber lidar com a perda.

Admite que, no início, houve uma tendência para o filho André Diogo assumir um pouco o papel de pai. Mas optou por ser ela própria “a tomar as rédeas de tudo com o apoio de todos”. Na verdade, reconhece que há uma “grande cumplicidade” familiar mas considera ser importante que os filhos vivam a sua adolescência.

O percurso não é fácil. Tem de ser mãe e pai ao mesmo tempo, assumindo a gestão de tudo, embora vá procurando fazer com os filhos ganhem autonomia e responsabilidade. Há que os preparar para uma vida independente. No seu trato diário, explica que consegue “ser carinhosa e apoiar mas também impor limites, necessários nesta idade”.

Para além da perda incontornável do marido, Nélia Alves recorda que também a componente financeira não tem sido bem sucedida. Neste momento, reside com a família num apartamento, na Nazaré. A sua empresa (Intervisa – Pestana Turismo) fechou em 2011 e ficou desempregada. Estava a acabar  o MBA em Turismo e Hotelaria e tinha entrado no Mestrado em Ciências Empresariais, na Universidade Fernando Pessoa. Com o apoio do marido, acabou o mestrado e optou por se inscrever no doutoramento, pois é uma apaixonada pelo estudo.

Porém, a 22 de Maio de 2013, marido, Duarte Jorge, veio a falecer e cancelou o doutoramento, optando por ficar em casa durante um ano como mãe a tempo inteiro. “Esta opção de ser mãe a tempo inteiro foi, a meu ver, a melhor para a família e não me arrependo de o ter feito, apesar de ter mantido ativa a procura de novo desafio profissional. No passado mês de dezembro, deixei de receber o subsídio de desemprego e voltei ao mercado de trabalho em janeiro. Sou guia intérprete oficial e é essa a atividade que estou a exercer de momento como empresária em nome individual, em regime free lancer. É uma profissão liberal fantástica que só tem o grande inconveniente da sazonalidade e não ter um rendimento médio fixo com que possa contar. Mas, estou já a trabalhar como guia embora ainda haja pouco serviço”.

Após uma vida marcada, no mínimo, pela surpresa, e com os filhos a frequentar neste momento o 12.º ano de escolaridade nas escolas da Região, coloca-se novamente um grande desafio à família Alves: como custear as grandes despesas que implicam dar formação superior a estes quatro jovens, em simultâneo? Na verdade, os quatro filhos querem entrar na universidade este ano. O Nuno quer medicina, o Diogo luta pela academia militar, a Beatriz namora a terapia ocupacional ou fisioterapia e o Leonardo a educação física e desporto. A mãe não faz ideia como vai suportar tanto custo!

Mas a vida tem ensinado esta mãe a confiar no futuro e a não cruzar os braços. Por isso, tem andado no terreno em contactos, até mesmo junto da Fundação Benfica e Fundação Champalimaud. Mas sem grandes resultados, para além de saber que existem bolsas de estudo para atribuir. Só no final do corrente ano letivo, é que os filhos se poderão candidatar à universidade e, quem sabe, possa ter outro feedback das referidas  instituições.

Nélia Alves confessa que a questão dos estudos dos filhos a deixa acordada todas as noites.”Receio não poder suportar os cursos para os quais eles lutam tanto para aprender, ter médias. Tenho medo de “matar” os sonhos dos meus filhos, além de que era o grande objetivo de vida do meu marido, pagar-lhes o curso que optassem por fazer. Eu não pude tirar o curso que queria por motivos financeiros e foi o trauma da minha vida. Acabei por tirar o curso de guia (bacharelato). Só entre 2008-2013 fiz formação académica superior e publiquei os meus artigos científicos. A minha experiência pessoal reforçou o meu receio que os meus filhos passem por experiência similar e eu não consiga pagar os cursos. É o meu maior medo….”

Os contactos para as autoridades oficiais também foram estabelecidos. Nélia Alves diz tudo ter tentado, inclusive enviou “correspondência para a Presidência da República”. Mas, com a burocracia do costume, e após ter saltado de ministério em ministério, foi informada de que a lei portuguesa não previa esses casos.

Teve um pouco mais de sorte nos contactos estabelecidos a nível regional. Após ter recorrido à presidência do Governo Regional, foi-lhe atribuído um pequeno subsídio de cooperação familiar. Mas também a este nível não tem grandes ilusões: “De três em três meses tenho que ir à ação social para renovar, embora o valor já tenha diminuído e seja cada vez mais difícil. Por exemplo, neste momento não sei se o terei para os próximos 3 meses”.

Num momento em que o país atravessa o drama do envelhecimento e dos propalados apelos à natalidade, a verdade é que as famílias numerosas ou este caso singular da família Alves contam com poucos apoios do Estado: “Efetivamente não existem apoios às famílias nesta situação como acontece em diversos países da Europa, mas qualquer apoio é muito valioso e apreciado. Nos últimos dois anos tive um grande apoio por parte da Porto Santo Line a nível do material escolar, o que foi muito apreciado”.

Ao longo desta árdua caminhada, o marido, a mãe e a ama dos filhos, a D. Virgínia, foram o grande apoio desta mãe. Com a perda do marido, resta-lhe a mãe e a ama que ainda continuam a dar apoio esporádico. “Quanto à ama, pago-a com uma parte do subsídio que recebo porque também é de uma família muito carenciada e tem sido um apoio extraordinário a todos os níveis. Os miúdos adoram-na, simplesmente… A minha irmã apoia mas tem estado longe a estudar e trabalhar pelo que não pode fazer mais”.

Os “bons amigos” também têm sabido partilhar este percurso, embora a educação e formação ficaram a cargo dos pais. “Confesso que, quando me queixo a alguém que preciso de ajuda, as pessoas dizem-me que eu aparento ter sempre tudo controlado, que sou muito calma e muito forte e que nem notam que era necessário ajuda. Realmente, só recorro a ajuda de terceiros quando preciso mesmo. E agora estou numa fase em que preciso muito de ajuda para encontrar algo ou alguém que, a título de mecenato ou solidariedade social, possa ajudar a realizar o sonho dos miúdos e o objetivo de vida do meu marido que é a formação superior dos meus quadrigémeos”.

Curiosamente, a Nélia Alves pensa mesmo contactar as vedetas da atualidade para poder ajudar a família. Ao Funchal Notícias confidencia: “Ando até a considerar a possibilidade de fazer chegar uma mensagem ao Cristiano Ronaldo a perguntar se ele terá bolsas de estudo. Uma vez conheci-o e quando lhe disseram que eu era mãe de quadrigémeos ele respondeu: Uau…e manifestou muito interesse, o que é ótimo. Como vê estou a explorar todas as possibilidades e mais algumas mas ainda não tive sucesso”.

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Quanto à maneira de ser e de estar dos quatro filhos que nasceram no mesmo dia, são todos diferentes. Mas, o mais importante, têm sido saudáveis. “Apenas o Diogo teve um problema nos seios perionasais e foi operado em Lisboa há cerca de 5 anos. Teve a doença de Perths – acontece sem explicação, entre os 5 e 10 anos, e causa um crescimento mais acelerado de uma parte do corpo –  que está controlada e que deixou como sequela um ligeiro cambalear. Recentemente recorri a um podologista para corrigir a diferença de altura entre ambas as pernas para evitar potenciais danos na coluna por má postura. Tem também uma assimetria na face devido a não ter dentes incisivos, o que implicará uma cirurgia maxilo-facial de correção”.

Nélia Alves admite ainda que tentou, ao longo dos últimos anos, poupar ao máximo para reservar algum dinheiro para a faculdade dos filhos ou outra formação que fosse do seu gosto. Porém, não tem conseguido. “As despesas mensais numa realidade destas são astronómicas e nunca conseguimos ter uma conta bancária para estudos superiores. Sempre tivemos imensas dificuldades financeiras, no entanto com o salário de dois lá conseguimos ultrapassar as dificuldades e nunca lhes faltou nada de essencial. Agora, sozinha e nos tempos de crise tudo se tem vindo a tornar mais difícil”.

Apesar dos obstáculos, Nélia Alves e a família são otimistas e prometem lutar pelos seus sonhos. Acreditam que alguém sairá em defesa destes jovens e dos seus sonhos. Ela própria, a mãe, teve que fazer opções: “Muitos dos meus sonhos foram adiados ou anulados. Há coisas com as quais sonhava , viajar, o meu carro de sonho e outras, que deixei para trás. Mas não trocaria esta enorme bênção de ter quadrigémeos por absolutamente nada. Apesar de todas as dificuldades passadas e atuais, sinto-me grata e abençoada pelos meus filhos que são absolutamente fantásticos em todos os aspetos”.