Rui Marote
No Largo da Restauração, como é habitual na quadra festiva que se aproxima, iniciaram-se já os trabalhos de construção do presépio e de um aldeamento.
Curioso pormenor é que na sua construção o mesmo tem como base as paletes de madeira usadas no transporte de mercadorias em carga em contentores. O material das paletes foram o “esqueleto” da construção. Depois de pronto, este aspecto fica bem camuflado e os visitantes não imaginam este pormenor, ali sentados saboreando o tradicional bolo do caco e a sopa de trigo, numa viagem a séculos passados.
As fotos mostram bem o trabalho de “bastidores” de mãos engenhosas moldando a “rocha” que nos ilude. Tudo isto nos desperta recordações, pois a juventude dos nossos dias não sabe o que é um presépio de “lapinha” ou “escadinha”.
Recordámos, portanto, o tempo da nossa juventude, em finais dos anos 40 do século passado. A armação do presépio de ou “lapinha” na época natalícia, tinha influência franciscana e que chegou à Madeira pelos primeiros colonos. Era um
ritual carregado de simbolismo. Revelava emoções que se renovavam anualmente e retratava a alma de um Ilhéu crente, que teimava todos os anos em manter e preservar as tradições, Hoje tudo isso praticamente passou à história e as famílias que ainda o fazem são do interior da Madeira.
Na casa dos nossos avós, alternava-se o tipo de presépio: um ano era de “escadinha”, que entronizava o Menino Jesus lá no alto aos degraus, sobre uma mesa com pastorinhos e ovelhinhas e decorado com cabrinhas e frutos, em especial os perinhos. Na base da mesa havia uma lamparina de azeite que era acesa todas as noites.
Já o presépio de “rochinha” recriava a paisagem da ilha. Utilizavam-se os recursos naturais disponíveis, as socas de cana ou vimieiro constituíam a base da rocha que era forrada com papel almaço, pintado com vieux chêne um corante em pó para dar um tom castanho semelhantte à montanha. Tudo era colado e moldado dando uma forma com uma gruta.
Nas lojas de ferragem comprava-se o pó, em especial o dourado e também prateado que decorava a “rocha” onde se colocavam casas, romarias e arraiais. Figuras de barro retratavam pastores e animais. Não faltava muita fruta ao redor ,”cabrinhas e alegra campo”.
Mas hoje ficamos pelo grande presépio na Placa Central da Avenida Arriaga, com figuras de uma certa dimensão, e do Largo da Restauração decorado pelas mãos hábeis dos habitantes do Rochão, Camacha. Um Bom Natal…
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