A triste história do “Said” e os esclarecimentos oficiais…

Rui Marote
A notícia “Da África do Sul para a Sopa do Cardoso” (https://funchalnoticias.net/2023/12/11/da-africa-do-sul-para-a-sopa-do-cardoso/#) parece ter incomodado a Direcção Regional das Comunidades. O nosso título sugestivo levou a que milhares de seguidores do Funchal Notícias tenham lido a notícia, colocando-a no “top” da mais vista durante três dias. Só ontem aquela Direcção Regional se sentiu incomodada por alegadas imprecisões… mas provavelmente não foi com o conteúdo mas com o título. Se assim não fosse cairia no esquecimento o caso deste desafortunado emigrante retornado à sua terra.
Enfim, chamemos de esclarecimento o texto enviado à nossa Redacção que se assemelha bastante a “tentar sacudir a água do capote”, como reza a expressão.
O jornalista autor deste artigo postula que nem não se sente não é filho de boa gente. O que hoje é verdade amanhã já é mentira… E sublinha que abraçou este caso de forma mais pessoal por conhecer  o “Said” há dezenas de anos  e ter acompanhado o seu trajecto até à triste situação actual.
O caso está a ter repercussão também na comunidade madeirense na África do Sul, onde o “Said” era bastante conhecido. Devemos sublinhar que o aconselhámos durante meses a que não fosse em “promessas”, que a situação habitacional na RAM não tem habitações nem as terá nos próximos anos porque na lista de espera há o modesto número de mais de 20.000 pessoas.  Acreditou em “bruxas” e hoje está como está.
De regresso à Casa de Saúde de São João de Deus, no Trapiche, falámos com o “Said” e demos a conhecer a reportagem do FN. Reacção imediata: “Eles não devem ter gostado desse título”, comentou.
De seguida leu o esclarecimento da Direcção Regional das Comunidades. Confrontámos o “Said ” para que nos esclarecesse :
– 1 “Quando saiu de Joanesburgo sabia que ia para um lar dos pobres na sopa do Cardoso?” – “Não”, respondeu, “disseram-me que iria para um quarto provisoriamente. Quando cheguei ao aeroporto da Madeira aguardavam-me duas pessoas da Direcção das Comunidades. Só tomei conhecimento para onde ia à chegada ao próprio local.
2- “Alguma vez se encontrou com o Dr. Rui Abreu?” – “Na Madeira nunca, só na Africa do Sul”.
3- “Porque recusou  o quarto nas Laranjeiras, em Santo António?” – “Não era um quarto mas sim um sotão… Tinha de andar agachado porque dava com a cabeça na cobertura de telha. Disseram-me que era provisório ate que vagasse espaço nos andares inferiores”. Mas não houve desenvolvimentos em tempo útil.
4- “Quando esteve internado no Hospital recebeu visita  dos funcionários da Direcção das Comunidades?”- “De ninguém”.
5- “Foi transferido para a Casa São João de Deus Trapiche onde permanece há 1 mês. Recebeu entretanto visita da Direcção das Comunidades ? – “Até hoje de ninguém”.
Um homem abandonado, que não sabe o seu destino. E que acrescenta, apesar de estar internado no “Trapiche”: “Não estou louco!”
Contam-se pelos dedos de uma mão o número de repatriados que chegam à Madeira vindos da África do Sul.
Os madeirenses que ali residem de uma maneira geral não regressam à Madeira, ou vão para a Austrália, Inglaterra, América ou Canadá, ao contrário dos conterrâneos venezuelanos.
“Said” pensou que iria ter melhores condições na Madeira. Enganou-se. As coisas por cá não estão fáceis, nem mesmo para os madeirenses cá residentes.