Daniel Sampaio revisita a Madeira para lançar o seu novo livro porque deve falar-se sempre de Amor

Na frescura dos seus 77 anos de idade – quiçá fruto de muita afinidade com uma prática clínica com a juventude e famílias – Daniel Sampaio lança o seu novo livro que tem como sugestivo título Para tão curtos Amores, Tão longa Vida, das Edições Caminho. No dia 23, revisita a Madeira – onde tantas palestras dinamizou e fez amigos – para lançar este seu último título na Assembleia Legislativa da Madeira, pelas 18 horas.

Atento ao mundo que o circunda, otimista incondicional e sempre pronto a aplicar os conhecimentos da escola da psiquiatria e da vida às circunstancias que o envolvem, Daniel Sampaio mostra-se sempre um jovem a abraçar causas que segurem, com firmeza, as famílias num mundo tão fustigado por modas e absurdos. Desta vez, a linguagem editorial de Sampaio é o amor, o casamento, um convite a repensar as relações, tão beliscadas pelas ruturas do divórcio. Os anos passam, as tempestades acontecem mas o professor Daniel Sampaio tem sempre uma lição para o mundo, porque as suas aulas, verdadeiramente, ainda não acabaram com a sua aposentação. Saltam para os livros, chegam-nos como notas exemplares da experiência vivida e do mundo claramente visto, como diria Camões, o imortal escritor a quem presta homenagem no novo título que publica.

Funchal Notícias – Quais as  motivações intrínsecas à escrita de mais um livro da chancela de Daniel Sampaio? O que falta partilhar com o mundo?

Daniel Sampaio – A ideia do livro surgiu pela observação diária de que existe um número muito elevado de divórcios e separações (nos casos das uniões de facto), verificando-se uma grande instabilidade nas relações amorosas. Esses factos deveriam ser motivo de debate na sociedade portuguesa, mas raramente isso acontece. Por outro lado, achei que a teoria da vinculação, uma das mais brilhantes da Psicologia, merecia ser divulgada. Esse estudo mostra-nos que o bebé se liga (vincula) ao seu cuidador primário (em regra a mãe), em busca de segurança psicológica, essencial para o seu desenvolvimento. Sabe-se agora que a ligação ao par romântico também tem a ver com essa necessidade de bem-estar e segurança básica. Conto a história do amor da Luísa e do João ao longo de 50 anos de casamento, com os seus grandes momentos e os seus períodos de crise.

FN – Como se pode falar do Amor numa fase mais outonal da vida?

DS – Deve falar-se sempre de amor. Os casais jovens confundem paixão com amor e esquecem-se como a relação amorosa é uma construção a dois, que se alimenta do património comum. Na fase outonal da vida, se tiver havido essa construção, a segurança aumenta e o envelhecimento faz mais sentido.

FN -O Senhor Professor acha que neste tempo frenético e controverso em que vivemos, ainda há razões para cimentar o Amor e as relações interpessoais?

DS – Justamente agora devemos falar mais de amor e menos de guerra. São os diversos tipos de amor que dão sentido às nossas vidas: o amor pelos nossos companheiros, pelos filhos, pelos amigos, mesmo pelos animais domésticos. Sem isso, surge a solidão e a tristeza.

FN – O que nos conta neste título que ainda não tivesse partilhado antes?

DS – Nunca tinha escrito em profundidade sobre o amor e o casamento. E nunca tinha escrito uma parte tão romanceada como nesta história da Luísa e do João, uma história de um amor longo, em contraste com os amores curtos do nosso tempo. Daí ter parafraseado Camões e chamado ao meu livro «Para tão curtos amores, tão longa vida», um título de que gosto muito.

FN – Como é hoje o quotidiano do Senhor Professor Daniel Sampaio e como concilia com a escrita?

DS – Leio muito, estou com a família e amigos, faço as minhas consultas agora só em privado, escrevo de uma forma organizada. Felizmente gosto do meu quotidiano.

FN – Como encarra situação sociopolítica de Portugal hoje?

DS – Com preocupação. Há um ceticismo generalizado em relação às instituições que introduz pessimismo e descrença na democracia, clima propício a populismos e derivas autoritárias. No entanto, não perco a esperança, há sempre soluções.

FN – Os jovens, os seus jovens, da Clínica e dos livros: é possível falar desta geração com  mais otimismo?

DS – Com muito otimismo. Os jovens portugueses são curiosos, bem preparados, corajosos, interessados em grandes causas. Pena lerem pouco…

FN – Uma mensagem final aos madeirenses sobre o seu livro…

DS – Espero que o leiam. O livro tem tido boa receção no Continente, espero que os madeirenses gostem. É um livro que faz pensar, fala sobre a intimidade e sobre a verdade.